quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Por que dedicar-se à Educação, quando o educador não é valorizado, nem social, nem economicamente?

Gladis Maia
A terra será o que são os seus homens. Provérbio Asteca
E quem está por perto quando os homens encontram-se em formação, se não os pais e os professores? Até prova em contrário, as pessoas que não possuem cursos acadêmicos, mas dedicam-se a dar aulas particulares ou a formar grupos de estudo - com freqüência - resultam nos melhores mestres, porque estão dispostos a experimentar e não se sentem cobrados por esta ou aquela doutrina. Não sendo especialistas, possuem interesse em aprender e compreender a vida. Para o verdadeiro mestre, o ensino não é uma técnica, é uma forma de vida! A menos que se tenha um desejo ardente de ensinar, não se deve ser professor! É de suprema importância descobrir se possuímos este dom - ou não – por que, do contrário, vamos apenas zanzar à deriva nesta profissão como se ela constituísse apenas um meio, como outro qualquer, de ganhar a vida.O mestre de verdade, legítimo, é aquele que adoece de tristeza sem seus alunos, como os artistas que preferem morrer de fome antes de abandonar sua arte.
A verdadeira Educação começa com o educador, que deve conhecer a si mesmo e estar livre de padrões de pensamento pré-estabelecidos, porque, caso contrário, não conseguirá ensinar. Se o professor não recebeu uma boa e ampla educação, apenas poderá trabalhar com o conhecimento mecânico pelo qual foi educado. O problema maior nesta relação de trabalho, não está no aluno, mas nos pais e nos mestres. Um deles, bastante sério, é educar o educador! E os pais? A maioria deles, infelizmente, ao se concentrar em seus próprios problemas, passa aos professores a responsabilidade e o bem estar de seus filhos, como se a tarefa fosse concernente à escola e só a ela. Muitos pais não estão interessados na atual deterioração da moral e da ética. Estão mesmo é preocupados com a possibilidade de seus filhos virem a encontrar, o mais breve possível, uma ótima colocação no mercado. E, por isso, é importante que o educador se ocupe também de educar a esses pais. Deve falar-lhes, explicar-lhes que o caos mundial é reflexo da confusão individual de cada um de nós. Deve esclarecer-lhes, que o progresso científico, em si, não pode trair/atrair a troca radical de valores existentes ao longo dos séculos. Deve abrir-lhes a mente, para que compreendam que a Educação nunca foi - e nunca será - apenas isto: colocação no mercado de trabalho.
A verdadeira educação é uma tarefa mútua, que exige paciência, consideração e afeto. Condicionar o aluno a aceitar o ambiente prevalecente no mundo não pode conduzir ao desenvolvimento da inteligência. Estariam pais e professores amando às crianças e jovens quando ao educá-los fomentam a animosidade, através da competição e da ambição? Muitos pais induzem seus filhos a percorrerem caminhos que conduzem aos conflitos e a dor, educando-os mal, com palavras e com o próprio exemplo de sua conduta.
Vivemos num tempo de total comunicação interplanetária em que, até mesmo, o nacionalismo conduz ao conflito.Vivemos num tempo em que, cada vez mais, em nome de religiões e ideologias, chegamos às guerras. E essa maneira alucinante forma de ver e viver a vida exige, cada vez mais amiúde, que os pais cuidem para que seus filhos não se fanatizem, em nome de dogma algum, por que as segregações têm conduzido o homem a uma infinidade de antagonismos, que não trazem nenhum benefício e só fazem crescer a luta armamentista.
Muitos pais querem que seus filhos sejam poderosos, que tenham maiores e melhores condições materiais, que tenham êxito na vida e não amor em seus corações, sem se darem conta, acredito, de que o culto ao êxito estimula o conflito e a miséria e de que amar aos filhos significa estar em completa comunicação com eles, se esforçando para que eles recebam uma educação que os torne sim: sensíveis, inteligentes e integrados. Integrados, e nunca adaptados a esse mundo do vale tudo, da Lei de Gerson. Para quem não lembra, é aquela que prega que “... a hora é de levar vantagem em tudo...”
A primeira coisa que um bom professor deve se perguntar é se está educando seus alunos para tornarem-se apenas peças de engrenagem desse liberalismo avassalador ou se tem tentado, pelo menos, despertar neles seres humanos integrados, criadores, que ameaçam os falsos valores circundantes. A inteligência não tem nada a ver com passar em exames! A inteligência é a percepção espontânea que faz um homem forte e livre! Para despertar a inteligência de uma criança, devemos entender o que é inteligência, temos que examinar, em nosso foro íntimo, enquanto mestres, os obstáculos que nos fazem torpes e irreflexivos. Devemos questionar todos os valores que nos aprisionam, para que sejamos nós mesmos, por inteiro, íntegros.
Infelizmente, todos somos vítimas de alguma classe de medo. E, como a bondade, o medo é contagioso... Mesmo que os temores do educador sejam ocultos, ele comunicará isto aos seus alunos e, mais dia menos dia, o contágio será visível.
Não cabe a um bom educador - em nome da autoridade que é investido - ser autoritário. Da mesma forma ser frio, distante do aluno. Também é um erro deixar que se crie uma dependência afetiva entre ele e os alunos. Isto é prejudicial a ambos! Se ensinar é nossa vocação, e se percebemos a grande importância da verdadeira educação, não poderemos evitar ser verdadeiros educadores. Mesmo não seguindo nenhum método na íntegra, o ato em si de compreendermos que a verdadeira educação é indispensável, já estaremos gerando a paz e a felicidade para o homem em geral, mediante uma boa educação para todos os aprendizes. Precisamos mesmo é educar e orientar nossos alunos para a liberdade, terreno no qual sempre frutificará a generosidade, a afabilidade, a bondade e o amor.