sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Construir a identidade não é nada fácil, ainda mais para os nascidos gêmeos.



Gladis Maia

(...) é preciso tratar o relacionamento de gêmeos normalmente, sem enfatizar esse aspecto, pois vários deles acabam se perguntando se há algo errado por não conseguirem ler os pensamentos do outro ou por não terem pressentido que aconteceu algo ruim ao irmão (...) Patrícia Maxwell Malmstrom


Malmstrom é uma educadora norte-americana, que em “Criando Filhos Gêmeos” escreveu para além de uma obra literária ou de pesquisa, pois se vale de sua experiência como mãe,que entre quatro filhas, teve duas meninas gêmeas. Comenta que criá-las foi uma verdadeira aventura, porque as diferenças começaram já na gravidez. Comenta que as emoções vão do medo ao pânico, passando pela confiança, às vezes excessiva, que pode levar muitas mães a desperdiçar um tempo precioso de preparativos. É normal também os pais de múltiplos ficarem mais apreensivos que os demais com a gravidez e o parto e sentirem as preocupações financeiras intensificarem-se. E quando os bebês chegam da maternidade, tudo se torna superlativo, principalmente o cansaço e a falta de sono... Não dá para aplicar as mesmas regras básicas de cuidados com um só recém-nascido e depois dobrá-las ou triplicá-las. As mamães de múltiplos precisam levar em conta ainda que eles passam pelos mesmos estágios de desenvolvimento. Imaginem o impacto de diversos bebês com os dentes nascendo ou tentando dar os primeiros passos. A autora aconselha aos pais de gêmeos que busquem ajuda entre os amigos e familiares, criando uma verdadeira, boa e forte rede de apoio. Em paralelo a isso, sugere que a família torne a vida o mais simples possível em todos os aspectos. Enquanto os bebês forem pequenos, devem livrar-se de móveis ou objetos perigosos, criar espaços para que eles brinquem em casa, adotar rotinas familiares para as refeições e para dormir. Tentar manter pelo menos a mesma ordem de atividades. Se não for viável seguir os mesmos horários. Ao mesmo tempo, a família, em especial os pais, devem ser flexíveis o suficiente para adaptarem-se a situações diferentes, que ocorrem amiúde. Os gêmeos podem ter dificuldades de se enxergar como um ser separado do irmão. Para não reforçar essa sensação, mesmo que seja deliciosamente irresistível vesti-los da mesma forma, evite fazê-lo. Quando vestem roupas iguais, eles se tornam 'os gêmeos' no grupo, explica. Se por um lado, ajuda-os a se sobressaírem como indivíduos, leve em conta que vestir-se é uma das primeiras atividades que permitem às crianças fazer as suas escolhas pessoais. Isso é um importante passo para a independência do relacionamento com o outro. Sem falar que roupas diferentes contribuem para reduzir as confusões que as pessoas fazem de troca de identidade. Na escola, é melhor que gêmeos fiquem em salas separadas?Não há regra. A separação física não é necessária para o desenvolvimento da individualidade. “Pela minha experiência, se não há uma recomendação clara para separá-los, é melhor que fiquem juntos na pré-escola e no ensino fundamental. Cada caso precisa ser avaliado todo ano por pais e professores. Também é preciso ouvir os próprios gêmeos, se eles já tiverem idade suficiente”,diz a autora. Na tentativa de fazer 'o que é certo para os gêmeos', como deixá-los em classes separadas, pais e professores podem estar criando um efeito oposto ao desejado, como aumentar o grau de preocupação de um em relação ao outro, sobretudo em novas situações. Juntos, eles podem ficar até mais relaxados e prestar mais atenção ao que está acontecendo à sua volta. É necessário sempre comprar em dobro coisas como brinquedos?Até que as crianças tenham idade para desenvolver gostos mais diferenciados, o ideal é sim. Dê a eles um exemplar de cada brinquedo, especialmente aqueles de uso individual como triciclos. Se você optar por dar a eles dois brinquedos bacanas, mas diferentes, correrá o risco de que os dois gostem do mesmo. Isso em sido desastroso em muitos casos. Um sempre acaba achando o brinquedo do outra o melhor presente... Decepcionam-se se não conseguem trocar os presentes entre si. Quando o conteúdo é igual parece que eles respiram aliviados por poderem ficar com os próprios presentes. No caso de ser um único presente para as crianças, o conselho é evitar cartões com os dizeres: 'Aos Gêmeos'. Isso deveria ser banido!!! Os gêmeos, como quaisquer irmãos, são obrigados a aprender a compartilhar muita coisa. Mas, convenhamos, ninguém precisa dividir até o cartão! A educação dos gêmeos deve ser especial, principalmente, se forem do mesmo sexo. Devem-se evitar sempre comparações ou preferências para não estimular a rivalidade entre eles. O importante é que, apesar de terem compartilhado a mesma gestação, são crianças super diferentes, com humores, vontades e ritmos bem distintos. É verdade que os gêmeos possuem uma percepção extra-sensorial e podem ler os pensamentos um do outro?As pesquisas até hoje descartam essa possibilidade. Mas evidências empíricas sugerem que muitos deles são tão ligados entre si que se tornam capazes de completar as frases e de prever as intenções do outro.

O conselho da expert – autora do livro e de gêmeos - é que os pais devem construir um relacionamento especial e individual com seus filhos, incentivando interesses e talentos diferentes,sem comparação, cada um tem o seu tempo! Planejar atividades separadas. Descartar nomes parecidos e fazer cortes de cabelo diferentes. E, principalmente: evitar se referir a eles como 'os gêmeos'. E, cuide de um detalhe, foto sem legenda pode virar um mistério para todo o sempre... Crie o hábito de marcar os nomes atrás das fotos. E no aniversário, não economize: cante Parabéns duas vezes, faça dois bolos e coloque duas velas. Ficará bonito, divertido e eles vão adorar!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Desempenho escolar, uma questão sempre atual e controvertida.

Gladis Maia
Não faça os meninos aprenderem pela força e pela severidade; ao contrário. Conduza-os por aquilo que os diverte, para que possam descobrir melhor a inclinação de suas mentes.
Platão,in A República, VII.
Muitos pais, temendo o futuro de seus filhos, preocupam-se com os seus estudos, mas esquecem - ou não se dão conta - de que para elas, as crianças, o futuro significa amanhã, ou no máximo daqui a alguns dias. Segundo o psicanalista Bruno Betelheim, autor de, entre outras obras, Uma Vida para seu Filho, mesmo o término do período da vida escolar delas, para não se falar em sua vida adulta, está a uma eternidade de distância, incompreensível e inimaginável.
E, exatamente porque a criança não tem compreensão do futuro é que o presente tem suma importância para ela. A insatisfação de seus pais significa muito para ela, porque acontece no presente, hoje, enquanto que, a origem desse descontentamento – a tal preocupação com o futuro – não tem sentido para ela.
O psicanalista defende que para a maioria das crianças é muito importante que seus pais se interessem por seu aprendizado, mas esse interesse deve voltar-se para o que acontece diariamente, pois é assim que a criança vive e é assim que entende a vida.
O ingrediente essencial para o êxito da maioria das crianças na Escola é uma relação positiva com os seus pais e com o envolvimento deles em assuntos intelectuais. A criança deseja ter aceso a tudo o que é importante para aqueles a quem mais ama na vida: seus pais! Quer aprender mais sobre as coisas que significam tanto para eles, também deseja agradar-lhes, obter sua aprovação - agora mesmo - assim como a da professora e a de outras pessoas que também são importantes para ela. Aplicar-se aos estudos parece-lhe um modo relativamente fácil de obter tudo isso. Evidentemente que isto ocorre quando são considerados padrões de comportamento tidos como normais.
Como afirma Betelheim - que durante sua reconhecida carreira como terapeuta tratou de inúmeras crianças – quando elas se saem bem nos estudos são imensamente recompensadas. Primeiro com as boas notas, depois com o contentamento dos pais, a estima dos professores, o reconhecimento dos colegas e de outras pessoas. Portanto, se algumas delas possuem os requisitos necessários para se saírem bem na Escola e mesmo assim fracassam, deve haver razões muito mais poderosas do que as que envolvem o êxito e suas recompensas, para que elas optem pelo fracasso.
Para entendê-las, devemos encarar a aprendizagem por uma perspectiva a partir da qual o fracasso parece mais desejável do que o sucesso. Se pais e professores tentassem ver as coisas pelo prisma da criança, ao ponto de sacarem o porquê da escolha da criança, entenderiam seu raciocínio e o considerariam lógico.
O psicanalista ilustra essas idéias com um estudo um estudo de caso, que resumo a seguir.Trata-se de uma adolescente cujos pais eram muito ambiciosos, professores com uma carreira acadêmica de sucesso e, por isso mesmo, atribuíam grande importância aos estudos dos filhos. Ela porém era uma aluna mediana, diferente do irmão mais velho que era realmente estudioso, mas costumava sair-se razoavelmente na Escola. Eis que de repente reprovou em todas as matérias e passou a desinteressar-se pelos estudos, para desespero da mãe que tentava dar-lhe bons livros, controlar o tempo que ela via TV e a reprovava, aberta e severamente, na frente dos inúmeros amigos com quem dedicava-se à ociosidade. Nem a mãe nem os professores achavam a luz no fim do túnel, não entendiam o porquê do comportamento da menina.
A mãe enfim pediu socorro profissional que custou a dar resultados, já que tudo informava ao terapeuta, menos que separara do marido, em meio ao problema. Ela esquecera de falar... Ou melhor, a dor não a deixava falar no assunto, mas mesmo assim não lhe ocorrera que a menina poderia ter razões válidas para comportar-se como vinha fazendo. Na sua concepção a indolência e a busca de divertimento da menina pareciam explicações suficientes.
Se a mãe tivesse partido da convicção de que a filha teria tão bons motivos para as suas atitudes quanto ela para querer vê-la lendo boa literatura... Ou seja: a primeira sentia-se na obrigação de zelar mais pela filha, após a separação, e a menina achava que se fracasse em todas as matérias, não apenas numa ou noutra, o pai retornaria para a família, já que valorizava tanto o êxito escolar dos filhos.
Ela era esperta o bastante para saber que se continuasse a ter a média na escola seu pai interpretaria isso como um sinal de que estava tudo bem, apesar de sua saída de casa, não havendo portanto necessidade de ele voltar. Seu fracasso total, coisa que nunca ocorrera antes, poderia preocupá-lo a ponto de fazer as coisas voltarem a ser como eram antes.
Mesmo que não percebamos de imediato, muitas vezes atitudes completamente diferentes podem ter o mesmo objetivo, como no caso da menina e de sua mãe. Ambas queriam chamar a atenção do pai/marido. Portanto, a nós mestres, cabe-nos a escuta, a observação mais amiúde, quando estranhas coisas parecem começar a ocorrer entre as quatro paredes de aula...
Com ou sem razão, por vezes, todas as crianças sentem exatamente isso que essa menina sentiu: que seus pais estão muito mais interessados em outras coisas do que nelas. Por isso é tão importante o predomínio da aprovação dos pais e dos professores para o que a criança faz. Só quando ela se sente segura dessa aprovação é que está apta a suportar críticas ocasionais a seu comportamento, do contrário sofre muito, chegando às vezes a se desestruturar.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Eles são da geração pós-TV e aprendem diferente de nós - II parte



Gladis Maia
O que a música nos oferece é a aguda
tomada de consciência da morte dos
conteúdos. G. Berger.

Entre os pós-gutembergueanos - os que se expressam através da linguagem audiovisual e não da escrita - fala-se mais do que se escreve. Vê-se mais do que se lê e sente-se antes de compreender. Enquanto um livro é redigido com distanciamento, um script é composto no calor da criação. Isto é uma diferença básica.
Na linguagem audiovisual os ruídos lançam o ouvinte dentro do lado concreto de uma situação, a música cria um clima, a imagem, ao mesmo tempo que fixa, leva para longe. A palavra estrutura o discurso. Nesta linguagem a estética e a capacidade de empatia são fundamentais, mais do que a reflexão. Ela apela primeiro aos sentidos, depois à inteligência. A linguagem não pode ser rebuscada, literária, tem que ser popular, dialogada, para aproximar.
Acompanhar as mídias é viver no drama: das notícias, dos filmes policiais, dos jogos inacabados e das dramatizações.É o império da anormalidade, do sensacionalismo! Frenesi de pressa e consumo desenfreado de neurônios. No telejornalismo, é puro drama, ação. Uma ação que se alimenta de acontecimentos cuja força é aumentada, ou, de simples pormenores que conseguem se tornar chocantes e ocupar todo o campo da consciência.
A composição audiovisual não se desenrola como uma história regular de trás para frente. Nem é didática. Não se apresenta como uma divisão da realidade, em partes articuladas, com lógica aristotélica. Não é sintética, partindo de um visão de conjunto para mostrar ou analisar, sucessivamente, os pormenores. Ela se apresenta em flashes, aparentemente sem ordem, num fundo comum. As imagens parecem-nos lançadas ao rosto. Mas sob essa aparente desordem, pode reinar uma rigorosa ordem subjetiva.
As queixas dos pais, dos professores e dos especialistas entrevistados na pesquisa de Babin e Kouloumdjian, já citda na I parte deste artigo, não deixam de ser similares às apresentadas pelos educadores brasileiros, sobre seus alunos. Falam da dificuldade de compreensão de vocabulário; do uso de linguagem oral nas redações; de frases tipo slogan ; que a página escrita não tem consistência, nem permanência, como se fora um programa de televisão; não consideram mais a ortografia, escrevendo como se pronunciam as palavras; só conseguem guardar da dissertação uma palavra-chave, uma informação; textos com abreviações estranhíssimas, repetições.
Evidentemente que contribuem para isso não só a TV, o cinema, mas a falta de leitura, a carência do meio social, o não uso de dicionário, apontam os educadores. Os jovens de hoje em dia são essencialmente visuais, eles lêem o que podem visualizar, e se desinteressam por livros demasiados conceituais. Se eles não conseguirem imaginar as idéias, não compreendem o texto. Da mesma forma, a fala é cada vez mais sensorial e visual.
A geração da televisão exprime o que vê e ouve, da maneira como vê e ouve. Há muita dificuldade para exprimirem idéias que não tenham raiz sensorial, ressonância emocional ou contorno visual.
Os autores estão cobertos de razão, quando dizem que o parece ser sem pé nem cabeça é assim, considerando-se a organização linear do discurso. Na realidade, na linguagem audiovisual desses jovens o que conta é a visão do todo, e não as ligações entre as partes desse todo. As distinções e as articulações do discurso desaparecem em benefício de uma imagem global. Há o predomínio da visão subjetiva e global.
Nesse tipo de linguagem prefere-se um bom estímulo inicial a uma boa explicação, mas a correspondência, a prova do raciocínio vem depois. O que comanda as conexões numa conversa, por exemplo, é a preocupação da relação com o grupo, ou com o meio, mais do que com a lógica interna do discurso.
A própria imagem e a experiência das relações é mais importante do que o discurso. É essa a ordem que preside as seqüências dos telejornais. Se vai de notícia a notícia, sem lógica aparente, e é o telespectador que liga os pedaços, se pelo menos o conjunto lhe deu alguma experiência unificada. Todas essas influências fazem com que os jovens sintam a necessidade de uma outra linguagem, mais livre, mais imaginativa, mais rápida.
Como guardar o essencial da aquisição de Gutemberg – a escrita - e, ao mesmo tempo, assumir os novos modos e valores da linguagem audiovisual? É este o desafio que a sociedade atual, e, em particular a Educação, precisa aceitar! Se os jovens forem abandonados à sua linguagem - com a força interna de desordem e de desagregação que carrega consigo – o assassinato das línguas nacionais cultas ocorrerá em breve, muito em breve, por este planeta à fora. Porém, recolocá-los dentro do discurso literário tradicional, com o padrão culto de linguagem – em raríssimas exceções – será impossível.
Conforme os autores, com os quais concordo na íntegra, é necessário que se exija, pelo menos na escola, às formas de linguagem para as quais os jovens têm, ou tem demonstrado atualmente um talento quase espontâneo, uma certa linguagem publicitária, digamos. É imprescindível que estejamos abertos à inovação e mais permissivos à transição, pois com o passar dos tempos o novo reinará e já será velho novamente...



terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O DISCURSO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA LONGE DA TV TORNA-SE INSUFICIENTE

Gladis Maia
Até bem pouco tempo dizia-se que a arte
imita a vida.. E quanto ao 11 de setembro que repetiu uma aventura hollywdiana?
A TV se inseriu de tal forma na vida cotidiana que hoje é quase impossível pensar os eventos sem a sua presença. Ela mudou, por exemplo, substancialmente a prática dos esportes. Atualmente, a própria televisão participa da organização e administração dos eventos, transformando competições em espetáculos televisivos. Ela privilegiou o espaço profissional em detrimento do atletismo amador e converteu os atletas em estrelas. Acontecimentos políticos, cerimônias oficiais e até mesmo atentados terroristas são concebidos, antes de tudo, como encenações para a mídia.
Os eventos não acontecem mais, via de regra, por conta própria, eles pressupõem a mediação da TV e são forjados em função dessa mediação, quando não são produzidos diretamente pelas redes de TV ou sob sua influência direta. A luta política passa hoje necessariamente por dentro da enunciação televisual. Ficar de fora, criticando aristocraticamente os seus mecanismos de alienação, é um erro estratégico que pode resultar em irresponsabilidade social. Se a escola não for capaz de compreender isso, estará se condenando ao limbo.
Fazendo-se um rápido retrospecto da história do século passado, é notável que os mais influentes líderes de massa foram - antes de tudo - excelentes oradores e se davam muito bem com os alto-falantes das praças públicas ou com os microfones do rádio, assim como: Lenin, Hitler, Mussolini, Churchill, De Gaulle, Perón, Luther King, Fidel Castro e até mesmo Leonel Brizola. Todos se encaixavam nessa classificação.
A partir dos anos 60, porém, com a TV ganhando cada vez maior importância como veículo de massa, tornou-se difícil acrescentar novos nomes à lista dos líderes carismáticos de grande apelo popular. Acredito inclusive que Brizola não tenha sido eleito para presidente porque não dominava este veículo de comunicação, estendia-se por demais em suas falas, um dos defeitos cruciais no vídeo. Se não é assim, a que você atribuiria a eleição de um ator para a presidência de um dos países mais importantes do planeta? Eu aposto na sua performance televisiva!
Diante disto, considerando-se, entre outros temas, o fato da política passar necessariamente pela TV – enquanto nesse meio tempo os políticos tornam-se cada vez mais experts, nas formas de se comportarem em relação a essa mídia – é necessário que a escola tome a si o papel de formar telespectadores críticos, pois só assim a TV não será mais um instrumento de dominação de muitos, por uns poucos.
O poder da mídia reside também em outro gênero de programa que são os videoclipes, que soberanamente vem agradando aos jovens. Ele se impôs como uma nova forma de expressão dentro do universo do vídeo e rapidamente ganhou espaço dentro e fora da televisão, conquistando um amplo contingente de adeptos e provocando uma pequena revolução no interior da televisão.
Concorde-se ou não, a verdade é que torna-se cada vez mais difícil fingir ignorá-los ou supor que se trata apenas de um fenômeno de moda. Talvez resida neste tipo de mensagem a expressão mais acabada da modernidade – com seu poder de síntese e sua conseqüente economia expressiva – embora resulte num produto que dificilmente a inteligência tradicional entenda ou engula.
O estranhamento maior está certamente relacionado com ao fato do videoclipe poder dispensar inteiramente o suporte narrativo, coisa com a qual o seu público já está preparado para aceitar. As imagens podem ser escolhidas sem nenhum significado imediato, sem qualquer denotação direta, sem referência alguma, no sentido fotográfico do termo, harmônico com o da música.
O que está presente na maioria dos clipes é: uma forma não-narrativa, não linear. O que importa é menos a intenção de se contar uma história e mais o desejo de se passar uma overdose de sensações, através de informações não-relacionadas, sons e imagens, até mesmo desconexas.
Não residiria no videoclipe - a ser assistido, a ser produzido - um campo próspero de estudo para a escola trabalhar, além de conteúdos científicos, as singularidades dos seus sujeitos, suas diferentes sensações, emoções, valores, etc.? Esta produção de vídeo não poderia servir de elo entre toda a comunidade escolar, envolvendo professores, alunos, funcionários, especialistas, pais, enfim toda a comunidade escolar? Seria a Escola indo para além dos seus muros, ao encontro da sociedade onde se insere cada uma delas!
Não caberiam campanhas a serem deflagradas na comunidade escolar – interna e externa - através de clipes, e, em especial, com o mote do valor da fraternidade, da equanimidade de direitos, do respeito aos semelhantes, do valor da amizade e tantos outros sentimentos, temas e ações que resultam numa escola e numa , conseqüentemente, sociedade inclusiva?
Diante do contexto criado pelas novas tecnologias da comunicação e da informação, o discurso da educação não consegue isoladamente posicionar-se, torna-se insuficiente. Por outro lado, diante dessas novas mediações, a educação e a Comunicação não podem também ser pensáveis como atores independentes e isolados deste novo ecossistema de comunicação educativa.
Porém a simples introdução dos meios e das tecnologias na escola, pode ser a forma mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo, sob a égide da modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto. Voltaremos ao assunto!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Aos 12 anos uma criança já assistiu em torno de 8 mil assassinatos na TV



Gladis Maia


A violência compensa, parece dizer a mídia [...]. As crianças deveriam aprender na escola a lidar com a violência da mídia e a refletir sobre ela porque, muitas vezes, elas vêem a realidade como um espelho na televisão.
Regina Zappa, in J.B. 31/05/98.


Uma parcela significativa de jovens – de todas as classes sociais e níveis culturais – tem surpreendido a humanidade, em diversas partes do mundo, com seu alto nível de agressividade e violência. Especialmente quando se trata de filhos da classe alta e, mais ainda, quando a violência é praticada contra um membro da própria família ou gratuita, atingindo inocentes, sejam eles crianças em salas de aula ou mendigos dormindo nas ruas.
Geralmente – para que o debate não se estenda às salas de aulas, à mídia, às famílias e à sociedade como um todo – simplifica-se o problema através de meia dúzia de palavras proferidas por alguns especialistas, tais quais policiais e psiquiatras, que atribuem estes comportamentos doentios ao uso de drogas.
As pesquisas estão aí indicando que, geração após geração, em todas as épocas - muitos jovens fazem uma incursão – exclusiva, moderada, média ou profunda – pelo mundo dos entorpecentes. Mudam as espécies e gêneros, tornam-se liberados ou não, dependendo da cultura, mas o mundo continua a produzir jovens que: ou abominam ou sentem-se atraídos pelo proibido. E, não é novidade para ninguém que a maioria deles, que utiliza este expediente deflagrador de violência, lícita ou ilicitamente, não sai por aí esfaqueando ou dando tiros em pessoas, com alvo premeditado ou a esmo.
À luz da Psicologia, os jovens que cometem estes delitos bárbaros, e outros mais leves, são portadores de transtorno de personalidade anti-social. A Psiquiatria nos diz ainda que estes sociopatas não são doentes mentais, até porque não há remédio, terapia e perspectiva de cura para eles.
Mais triste é que a medicina só aponte tardiamente o diagnóstico, sempre após a consecução de um crime... Mas, ninguém nasce com este desvio de personalidade - ou caráter, como querem algumas teorias – mesmo porque a personalidade é formada ao longo do percurso da vida do sujeito. É de pequenino que se torce o pepino, apregoa a sabedoria popular, por vezes mais sábia e sempre mais experiente do que a livresca.
Sucintamente podemos dizer que a personalidade é a organização relativamente estável das disposições motivacionais de uma pessoa, que se formam pela interação entre seus impulsos biológicos e o ambiente social e físico. Reúne atributos cognitivos e físicos, mas refere-se geralmente a traços afetivos, sentimentos, atitudes, complexos mecanismos inconscientes, interesses e ideais que determinam comportamentos e pensamentos característicos - ou distintivos - do indivíduo.
Partindo destas premissas, fica evidente que temos, enquanto pais e professores, muita responsabilidade na formação da personalidade das crianças. Quantos já não ouviram, leram ou estudaram sobre a falta de limites como promovedora de desvios de conduta e de mau caráter ?
Outra grande aliada na educação é a TV, que passa a maior parte do dia na companhia de muitas de nossas crianças. Esta exposição demasiada e indiscriminada à influência da TV pode causar, entre outras seqüelas, o amadurecimento precoce por causa da banalização da violência e da absorção imediata do universo de informações que chegam embaladas de formas diversas, em programas variados, num cardápio de assuntos não tão múltiplos, recheados principalmente de sexo e violência.
O mau cheiro da violência que exala da TV pode nos atingir - e de verdade - especialmente quando se é jovem. São imagens que passam a interferir na construção da personalidade, do caráter e na maneira do público infantil se ver e entender o mundo à sua volta. Necessitados de modelos para imitar eles os têm a fartar na telinha sedutora.
Enquanto as leis que regem as concessões das emissoras de televisão continuarem dando o direito - à meia dúzia de iluminados - de escolher o que deve ir ao ar, pelo único critério da audiência, sem que haja um Conselho dos MCM , que represente um consenso entre estudiosos e a população, que estabeleça o que é saudável, o que é cultural, o que é educativo - entre outros atributos - para ser veiculado como programação, reinará o império da baixaria, da degradação, da violência, da grosseria, do grotesco, da sexualidade reduzida à pornografia, entre outros malefícios visuais e auditivos.
É preciso – não já sem tempo e mais do que nunca - que a escola tome a si a responsabilidade de educar a criança para o meio televisivo, já que os pais, em geral, não têm conseguido e que os intelectuais brasileiros estão muito preocupados em não interferir na briga entre Governo e concessionários, com medo de serem taxados de ressuscitadores da censura.
Embora no artigo 76 do Estatuto da Criança e do Adolescente reze que “As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público infantil e juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”, todos sabemos que isto não passa de balela.
Mesmo porque alguns programas ditos infantis deixam muito a desejar. E também porque todos sabemos que quem decide o que é um programa para criança – salvo honrosas exceções, parabéns aos pais responsáveis – são elas próprias. As dez atrações mais vistas por elas e pelos adolescentes são todas destinadas aos adultos. As crianças assistem praticamente a tudo e - de alguma forma - estão elaborando o que assistem.
Uma sociedade não pode ficar esperando que o bom senso inspire os diretores de TV que estão mais preocupados é em vender, através da publicidade que os sustenta, nem que para isto auxiliem na ‘formação’ de bandidos e imbecilizem a nação. Os meios de comunicação de massa já são o 4º poder, não há dúvida. Através deles podemos fazer a guerra ou a paz. As sociedades são dirigidas pela comunicação de massa que tiverem... Acordem!

sábado, 5 de janeiro de 2008

Receita para uma Educação Inclusiva: uma escola para todos aprenderem a aprender.


Gladis Maia

As crianças gostam de estar com outras crianças e se o propósito da escola é preparar as pessoas para a vida depois da escola, para a vida em comunidade, elas precisam dessa oportunidade. (...) Os jovens precisam aprender que a diversidade é positiva, tal como deixar de fumar ou usar drogas.
Gordon Porter, in terrasdabeira.com

Qualquer criança, em qualquer época de sua vida pode apresentar dificuldades de qualquer ordem, que podem afetar o seu processo de desenvolvimento, a sua aprendizagem, em qualquer nível. Cada estudante tem seu ritmo próprio de aprendizagem, com estratégias diversificadas, que implicam na sua visão própria, particular do mundo. É lícito, por isto mesmo, que cada aluno seja apreendido em sua singularidade, no seu todo; e não de forma compartimentada, em setores. Ele precisa ser reconhecido em suas peculiaridades e necessidades, durante a prática docente, que precisa ser vista como dimensão social da formação humana. A história de cada um , em particular, deve interessar ao grupo, deve ser respeitada enquanto possibilidade do homem, e não como determinismo, da mesma forma que a história, na maior amplitude da acepção do termo. Não há uma poção mágica, nem fórmula unificada de atuação, para que se implante a Escola Para Todos - pelo menos de imediato – mas, a título de estudo, reunimos algumas idéias obtidas em leituras a respeito do assunto e as dispusemos numa analogia, como se fôssemos preparar um saboroso prato, que, mesmo utópico, já começa a causar água na boca dos mais apaixonados pela Educação Inclusiva, como eu.

FAXINA

Todo bom cozinheiro sabe que antes de arregaçar as mangas para preparar suas deliciosas iguarias é saudável a realização de uma limpezinha na cozinha. No nosso caso, no espaço educacional. Portanto, a hora é de destruirmos, jogarmos na lixeira : todos os nossos preconceitos; a arrogância e a sisudez, com ares de intelectualidade; a desesperança, o pessimismo, as descrenças, o isolamento; os muros e paredes que separam a escola da vida lá fora; a evasão ; a reprovação; a formação de turmas por desempenho escolar; a competição entre alunos; a demarcação rígida das disciplinas e dos conteúdos programáticos; as folhinhas mimeografadas ou xerocadas que exigem respostas iguais ou semelhantes; os livros-textos, se servirem de guia único ao professor, que o utiliza tal qual bíblia nas igrejas ou templos; e exclusão causada pela diversidade cultural, social, étnica, religiosa, de gênero, etc. E, coloquemos, numa prateleira bem alta, longe dos olhos, para que só venhamos a utilizá-las em última caso, por absoluta necessidade do fazer pedagógico: as aulas expositivas; a memorização; e a rigidez seqüencial dos conteúdos programáticos.

INGREDIENTES

Reunamos então grandes porções de: ética, justiça e direitos humanos, para prepararmos um suculento molho. A seguir, separemos , para misturarmos depois, doses renováveis de : fé no porvir; valorização dos saberes e das identidades dos educandos; respeito às diferenças sociais, étnicas, religiosas, culturais e de gênero; liberdade; esperança; trabalhos em grupo; intuição; ciência; afeto; alegria; harmonia; entendimento; compreensão; muitas experiências teóricas e práticas ; disponibilidade para a escuta e para o diálogo; leituras; debates; discussões; observação; conhecimento; integração de saberes, através da interdisciplinariedade; e sensibilidade, sempre. E para temperar o nosso delicioso prato e torná-lo mais digerível, vamos usar pitadas , constantes, de : questionamentos; planejamento; desenvolvimento de habilidades e competências; muita reflexão; estudo; socialização; e convivência amorosa.

MODO DE FAZER

Utilizar os ingredientes em pequenas turmas de alunos com rendimento heterogêneo e professores com a formação inicial e continuada aprimoradas constantemente, integrados à família dos estudantes e à comunidade em que a escola se insere, através de projetos que gerem e se nutram de experiências de intercâmbio de idéias e ações.

MANEIRA DE SERVIR

Num ambiente limpo, bonito, bem cuidado, cheiroso, decorado com a arte das crianças, e , em meio à colaboração e a solidariedade entre alunos e professores, nas escolas, em casa, nas ruas, nos bairros, na sociedade como um todo, de tal forma que gere vínculos saudáveis não só entre os pares, mas entre toda a comunidade escolar, sirvamos, com carinho, nossa acalentada especiaria. E, bom apetite! Se já tentou preparar o prato, provou e gostou, ou está pensando em prepará-lo, muito obrigada, isto é um elogio. Porém, se achou indigesto, um conselho: diante dos insucessos, que porventura tenha tido na sala de aula – não se indague aonde e onde você vem e tem errado como educador ou educadora, pergunte-se pelos valores da sociedade em que vive e o que tem feito para mudá-los.