domingo, 28 de outubro de 2007

E SE INVERTÊSSEMOS ESSE PROCESSO MUTILADOR , TRANSGREDINDO O ENTÃO ESTABELECIDO?

Gladis Maia

A compreesão permite considerar-se o outro não apenas como ego alter um outro indivíduo sujeito, mas também como alter ego, um outro eu mesmo, com que me comunico, simpatizo, comungo. O princípio da comunicação está, pois incluído no princípio de identidade e manifesta-se no princípio de inclusão.
Edgar Morin (2003).

Habituamo-nos a ser referência, por isso é tão difícil valorizar o saber de alguém a quem rotulamos de deficiente. Ainda não somos permeáveis a uma efetiva comunicação de mão-dupla com pessoas em relação às quais nos sentimos superiores. Seremos capazes um dia? Esperamos que sim, tão logo a sociedade inclusiva se formate. Temos esperança, acreditamos no homem e na solidariedade, mesmo que ainda haja pessoas que ainda nem sequer colocaram o assunto em pauta ... Você já se perguntou o que os deficientes pensam sobre os normais ? O verso é conhecido, e o reverso ?

Cada civilização tem o seu padrão de comunicação social aceito e institucionalizado. O silêncio tem sido, ao longo dos tempos, a fala oficial dos dominados! Eles não costumam freqüentar a mídia... A crise da comunicação é nossa, dos vencedores. A crise e a sua transmutação está nas mãos de quem sempre falou e pouco ouviu... Para superá-la, será preciso que nos dediquemos a um exercício de auto-questionamento.

Será que desejamos ouvi-los? Estamos preparados para tanto? Achamos importante atender suas reivindicações? Acreditamos na coerência deste discurso? Que tipo de relação imaginamos ter no futuro, com essas pessoas que por tantos séculos não tiveram expressão social? O que elas têm a dizer sobre nós?

O grande salto é aprender a ouvi-las, perceber seus talentos e fraquezas - características de todos os seres humanos - reconhecer seu pertencimento à sociedade, deixá-las exercerem sua cidadania, de fato e de direito. Quanto mais legítimo for esse processo, mais essas pessoas serão descaracterizadas como seres passivos e mais perto se estará da sociedade inclusiva.

Mas não são só os deficientes que deverão ter vez e voz na mídia, na escola, na vida, na sociedade inclusiva. A prioridade deve ser conferida aos grupos mais desfavorecidos e vulnerabilizados pela condição de pobreza, os analfabetos, as populações rurais, as crianças, as minorias étnicas e religiosas, entre tantos outros. Como afirma Morin in A Cabeça Bem-feita: repensar a reforma reformar o pensamento, a educação pode ajudar a tornar os seres humanos melhores se não mais felizes, e ensiná-los a assumir a parte prosaica e viverem a parte poética de suas vidas.

Nas suas palavras, uma pessoa só compreende as lágrimas, o sorriso, o riso, o medo, a cólera de outro, ao ver o ego alter como alter ego, pela própria capacidade de experimentar os mesmos sentimentos. Nas suas palavras: Se vejo uma criança em prantos, vou compreendê-la não pela medição do grau de salinidade de suas lágrimas, mas por identificá-la comigo e identificar-me com ela. A compreensão, intersubjetiva, necessita de abertura e generosidade.

Como argumenta Cláudia Werneck in Ninguém mais vai ser bonzinho na Sociedade Inclusiva, a verdadeira comunicação só se dará quando os seres humanos respeitarem os saberes distintos daqueles que lhes são habituais. “Cada um de nós constrói no decorrer da vida, saberes diferentes. Saberes como filhos, estudantes, apaixonados, profissionais. Pessoas com deficiência mental têm um saber extra que á relação de todos esses saberes com sua condição peculiar. [...] como é viver com paralisia cerebral? Doença renal? Tornar-se tetraplégico?” Já pensaram nisto?

O homem celebra com facilidade o saber de alguém que admira. Difícil é aceitar um saber que pareça incoerente ou que aparentemente nada vai acrescentar. Comunicação é acordo, acordo não se impõe, nem se manipula. Busquemos um consenso permanente. A compreensão do mundo não é monopólio de ninguém. Uma sociedade democrática é sempre polifônica. São muitas vozes, representando os interesses e anseios dos seus diferentes segmentos e classes. São diferentes desejos, sonhos e necessidades.

Construir caminhos de escuta das diferentes vozes e de seus diferentes códigos e linguagens; construir caminhos de participação e de decisões que privilegiam o bem comum e não apenas os interesses específicos ou individuais é o grande desafio da sociedade da primeira década e de todo o século XXI. Comecemos pela escola, lugar de encontro de gerações e de formação dos cidadãos que um dia comandarão esta e outras nações.

A olhar para o desmazelo em que a nossa Pátria amada e não tão idolatrada se encontra, ao longo dos sucessivos governos, parece que fica claro que a maioria de cidadãos brasileiros não aprendeu a principal lição que a escola deve fornecer: a ética.

Queiramos ou não, à escola, na ausência da família, cabe este papel na história. Cabe a ela apropriar-se dele, não para decidir por, mas decidir junto e, mais ainda, educar ética, moral e esteticamente. Uma sociedade autônoma é feita de cidadãos que são sujeitos de seus caminhos, que fazem escolhas conscientes de suas opções. Uma sociedade inclusiva é a que permite que todas as diferenças sejam explicitadas em busca de um consenso. Uma sociedade democrática, autônoma e inclusiva é aquela onde todos têm o direito a voto, a vez, a representação e a participação na gestão das suas diferentes instituições e, mais ainda, é aquela que almeja a felicidade de cada um e a de todos.

sábado, 27 de outubro de 2007

À EDUCAÇÃO CABE PREGAR A PAZ E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA TERRENA

Gladis Maia

A prática da ética não pode ficar fora dos portões da escola,mas, como adverte Morin, a ética não pode ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes dos estudantes, com base na consciência da espécie, o que implica em que o verdadeiro desenvolvimento humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.

Em Os Sete Saberes Necessários à Educação Terrena (2000), Edgar Morin fala da importância do saber transdisciplinar com o objetivo de gerar um pensamento integrador, apto a romper o isolamento do homem em relação ao próprio homem e à sociedade.

Tanto do ponto de vista ético, quanto do intelectual. Trata-se de um desafio lançado às instituições educativas e educadores, com a finalidade de instaurar novas formas de solidariedade e responsabilidade do homem para consigo mesmo e para com o planeta Terra. O autor quer reiterar a crença dos educadores no poder transformador da Cultura

No 1º saber, As Cegueiras do Conhecimento: o erro e a ilusão, ele fala que é necessário introduzir e desenvolver na Educação o estudo das características cerebrais, mentais e culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais, que conduzem o homem ao erro ou à ilusão.

No 2º, Os Princípios do Conhecimento Pertinente, aborda o desenvolvimento da aptidão natural do espírito humano para situar todas as informações em um contexto e num conjunto. No 3º, Ensinar a Condição Humana, aponta para o reconhecimento de que o ser humano é simultaneamente físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico, e, que esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na Educação contemporânea por meio do ensino fragmentador das disciplinas.

No 4º, Ensinar a Identidade Terrena, aborda a crise planetária, compartilhada por todos os seres humanos. Refere-se ao ensino da história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, de forma a mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem contudo, ocultar as opressões e a dominação.

Em Ensinar a Enfrentar as Incertezas, 5º saber, trata do ensino dos princípios de estratégias que permitam o enfrentamento de imprevistos, do inesperado e da incerteza; e modificações no desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao largo do tempo. Nas suas palavras: “ ... é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas, em meio a arquipélagos de certeza”.

No 6º saber, Ensinar a Compreensão, focaliza o reconhecimento de que, embora a compreensão seja meio e fim da comunicação humana, a Educação para a Compreensão está ausente do ensino convencional. Nestes moldes, a incompletude , por exemplo, deve ser estudada a partir de suas raízes, de suas modalidades e dos seus efeitos, enfocando não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo, fomentando as bases para a Educação para a Paz.

No 7ºsaber, A Ética do Gênero Humano, Morin leva em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser simultaneamente indivíduo, sociedade e espécie; e concebe a Humanidade como uma Comunidade Planetária.

A regeneração da democracia existente faz-se necessária, segundo Morin, por que a invenção de uma democracia planetária requer a percepção do destino humano comum entre as várias nações e continentes; a disposição para forjar instituições globais voltadas para a educação e a cidadania terrenas; e o desenvolvimento concomitante de uma cultura política planetária.

Com os Sete Saberes, que se inserem na idéia de uma identidade terrena onde o destino de cada pessoa joga-se e decide-se em escala internacional, cabendo à educação a missão ética de buscar e trabalhar uma solidariedade renovadora que seja capaz de dar novo alento à luta por um desenvolvimento humano sustentável, Morin aprofunda a visão transdisciplinar.

Para ele, toda a cultura e toda a sociedade deve trabalhar, segundo as especificidades desses saberes que apontam uma visão abrangente da realidade. O destino planetário do gênero humano é ignorado pela Educação que precisa ao mesmo tempo trabalhar a unidade da espécie humana de forma integrada com a idéia da diversidade.

O princípio da unidade/diversidade deve estar presente em todas as esferas. Para tanto, torna-se necessário educar: para os obstáculos; para a compreensão humana, combatendo o egocentrismo e o sociocentrismo, que procuram colocar em posição secundária aspectos importantes para a vida das pessoas e da sociedade.

Por fim, os princípios de Morin para a educação do século XXI, antecedem qualquer guia ou compêndio de ensino, como ele mesmo afirma, inserem-se na idéia de uma identidade terrena onde o destino de cada pessoa joga-se e decide-se em escala internacional. Cabe à Educação a missão ética de buscar e trabalhar uma solidariedade renovadora que seja capaz de dar novo alento à luta por um desenvolvimento sustentável. São saberes fundamentais com o s quais toda a cultura e toda a sociedade deve trabalhar, seguindo e segundo suas especificidades.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

O real ou virtual na telinha, eis a questão a ser vista por pais e professores da garotada!


Gladis Maia


...a fraternidade humana, o amor pelo outro, a comunhão, enfim a superação do egoísmo, o desabrochar da vida pessoal na vida coletiva não são ainda senão mitos, a única cultura é a de massas. Edgar Morin.

Pais e professores não devem se iludir a respeito da TV - especialmente em tratando-se da educação de crianças e jovens – enquanto canal de comunicação sócio-cultural. Ela encontra-se a serviço do sistema social em que se localiza. Sua produção baseia-se na doutrina social, ou na ideologia do sistema, o que implica em que ela não seja posta em questão nunca. No Brasil, inserida numa sociedade de capitalismo dependente - terceiro-mundista e organizada com base em princípios de liberdade de pensamento, expressão e crença, assegurados pela Constituição - a TV vem sendo orientada pela ética capitalista, visando antes, e, acima de tudo, o lucro, a partir do qual tudo se justifica. Por isso veicula - lepidamente, ao longo de toda a sua transmissão - valores e princípios da ética capitalista, tais como: o individualismo, a competição, o materialismo, virtuosamente concretizados nas cenas dos comerciais, novelas ou telejornais.

Até há pouco tempo em nosso país considerava-se a comunicação como sinônimo de Showmanship, ou seja, um veículo especialista na habilidade para manejar as emoções da massa. Todos sabemos que a cultura de massa leva modelos culturais a todos os domínios: às relações amorosas, de beleza, de vestuário, sedução, erotismo, saber, viver, alojamento... Modelos afetivos práticos de personalidade! Morin aponta para o perigo dessa influência sobre o público, pois essa nova cultura mediática age diferentemente, de acordo com o nível cultural dos povos a ela submetidos. Da mesma forma, alerta também sobre as conseqüências psicológicas, morais e éticas da cultura de massa sobre o homem.

Diferente de outras culturas que existem ao longo do tempo da história humana esta não cultua, não defende, não prega o engrandecimento humano, não traz no seu bojo a hominização. Morin preceitua que a cultura de massa bloqueia, reciprocamente, o real e o imaginário, numa espécie de sonambulismo permanente ou de psicose obsessiva. Assim ocorreria com todos aqueles que sem condições de adaptar uma parte de seus sonhos à realidade e uma parte da realidade a seus sonhos. Ou seja, a cultura de massa se adapta aos já adaptados e adapta os adaptáveis, integrando-se à vida social onde o grau de desenvolvimento econômico e social lhe fornece e favorece seres humanos. Há telespectadores que muitas vezes não conseguem distinguir a programação ao vivo do programa gravado. Não raro, alguns dentre eles telefonam para a emissora que está levando ao ar algum programa, para se referir a qualquer aspecto da emissão, supondo que a transmissão seja direta e surpreendem-se com o equívoco.

Para alguns analistas, um dos grandes perigos da televisão está nesse caráter híbrido, que favorece a (con) fusão entre informação e fabulação, ou entre registro documental e ficção ou, ainda, entre o presente exercido e o simulado, abrindo brechas para se vender gato por lebre. A inexistência de marcas distintivas entre as duas modalidades de programação televisual – a emitida ao vivo e a pré-gravada - acaba por confundir as categorias do real e do fictício e torná-las cada vez menos ontológicas e cada vez mais coercitivas, de onde o corolário invetável da TV como instrumento para a alienação. Umberto Eco lembra que na TV moderna temos visto surgir programas em que documentação e ficção se misturam de modo indissolúvel, a ponto de a distinção entre notícias verdadeiras e invenções fictícias tornar-se irrelevante. O público, de forma geral, merece que pelo menos os programas de informação digam a verdade, ou seja, atenham-se aos fatos, mesmo que todo mundo saiba - ou pelo menos intua - que de alguma forma todo fato é sempre manipulado ou interpretado na abordagem televisiva. Já nos programas humorísticos, novelas, filmes para TV, comédias e congêneres, aceitam-se liberalidades de toda espécie, pois já se sabe que eles trabalham apenas com fatos forjados pela imaginação, mesmo que - rigorosamente falando em termos de anunciação - não haja diferença audiovisual entre o desembarque na lua documentado ao vivo e outro extraído de um filme de ficção, por exemplo. E há os que tomam a ficção por realidade, como o telespectador que agride o ator que interpreta o vilão de uma novela ao encontrá-lo na rua. Comportamentos assim são considerados alucinatórios, mas o perigo maior está concentrado em pequenas aberrações, não nas grandiosas.

Cria-se assim uma ilusão referencial, segundo a qual o leitor, ouvinte ou telespectador, acredita que o que lê, ouve e vê na tela é a realidade, quando, na verdade, não é senão uma construção da realidade. Essa capacidade de construir a realidade é uma qualidade positiva dos meios como extensão do homem, pois permite ao receptor alargar o seu mapa do mundo. Mas também se constitui em um perigo porque permite aos meios oferecer um mapa tendencioso. Como o próprio nome parece indicar os media fazem um papel de mediação entre a realidade e as pessoas.

O que os meios de comunicação social mostram não é a realidade, mas a construção da realidade, da enorme quantidade de fatos e situações disponíveis a seu bel prazer, combinando-os entre si, e estruturando as mensagens e programas de ideologia, com seus estilos e intenções que lhes atribuem os comandantes dessas redes. Até agora a comunicação tem sido utilizada muito mais para legitimar e manter uma ordem social caracterizada pela exploração da maioria, pela verticalidade e o autoritarismo de relações, pela demagogia e o apelo às emoções fáceis. Pais e professores que alertem seus pupilos!


quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ser diferente integra a condição humana, pois todos temos nossas singularidades.


Gladis Maia

Uma escola inclusiva não “prepara” para à vida. Ela é a própria vida que flui devendo possibilitar, do ponto de vista político, ético e estético, o desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade crítica e construtiva dos alunos-cidadãos que nela estão, em qualquer das etapas do fluxo escolar ou das modalidades de atendimento educacional oferecidas.
Rosita Edler Carvalho (2004).


Ser diferente faz parte da condição humana, pensamos, sentimos e agimos de jeitos e intensidades diferentes, porque apreendemos o mundo de formas diferentes. Considerando-se isto, a escola inclusiva pressupõe não só a aceitação, mas o respeito e a valorização dessas diferenças nos alunos e de seus diferentes saberes e não–saberes.

Uma vez valorizada a diversidade devemos agir para que nossos alunos tenham experiências e saberes múltiplos. Na escola inclusiva não se terá mais a inquietação de responder se alguém aprendeu como o outro, mas de observar e acompanhar curiosamente o jeito inusitado e mágico de cada um viver, de cada um vir-a-ser, no seu tempo, cuidando, acolhendo, compartilhando diferentes jeitos de ser e de aprender.

Neste momento de discussão sobre o paradigma da Escola Inclusiva, há ainda muita confusão no ar, porque simplesmente muitos querem fazer crer que a idéia da inclusão é para e somente para os alunos da Educação Especial passarem para as turmas do ensino regular e, ponto.

Muitos pais de alunos “normais” se insurgem também contra a idéia, alegando que seus filhos serão prejudicados. Muitos pais de deficientes acham que os professores da escola regular não têm dado conta nem dos alunos “normais” e, que portanto não terão capacidade para lidar com seus filhos.

Ambos ignoram que a inclusão representa um resgate histórico do igual direito de todos à Educação de qualidade. A escola deve estar aberta aos que nunca tiveram acesso ao estudo, os portadores de altas habilidades (superdotados), os que - sem serem deficientes - apresentam dificuldades de aprendizagem e outras minorias excluídas, como é o caso dos negros, dos ciganos, homossexuais, índios e anões e que precisam nelas ingressar, ficar e aprender.

Quem se insurge contra a inclusão na escola parece ignorar, também, que é na diversidade que reside a riqueza das trocas que a escola propicia. Na heterogeneidade há a oportunidade de convívio com a diferença que - no mínimo - promove laços saudáveis e sentimentos de solidariedade orgânica.

Na escola inclusiva, da mesma forma, os professores têm oportunidade de por em prática os quatro pilares para a educação do século XXI, propostos pela UNESCO: aprender a aprender; aprender a fazer; aprender a ser; e aprender a viver junto.

A inclusão pressupõe a melhoria da resposta educativa da escola para todos, pois é considerável a produção do fracasso escolar, excludente por sua própria natureza. A escola inclusiva deve melhorar para todos, in-dis-tin-ta-men-te. Instaurada a inclusão, a escola deve tornar-se àquela que busca o desenvolvimento de todos, a partir das potencialidades humanas, críticas, participativas e autônomas. A escola deve ser pensada e construída como um espaço sadio de pluralismo de idéias!

Para que a escola inclusiva venha a dar certo, a sociedade precisa também evoluir. Evoluir da dimensão do particular para a comunitária, e desta, para a planetária, numa extraordinária dinâmica em espiral, ampliando cada vez mais a abrangência. Uma nova ética se impõe, conferindo a todos a igualdade de valor, igualdade de direitos – particularmente os de eqüidade – e a necessidade de superação de qualquer forma de discriminação por questões étnicas, de gênero, de classe social ou de peculiaridades individuais e diferenciadas.

E, mesmo que a escola inclusiva no Brasil ainda seja apenas um sonho, para que esse sonho vire realidade, num mundo de paz e de harmonia, ela precisa ser, além de ética, prazerosa, integrativa por princípio, e, promotora das condições necessárias para o desenvolvimento das potencialidades de cada um e de todos. Qual outro lugar, além da escola, é próprio para formar gerações que elejam, defendam e ajam de acordo com esses valores?

A escola inclusiva é a porta e a casa propícias para o desenvolvimento, tanto da solidariedade mecânica, como da solidariedade orgânica, na concepção de Durkheim, em seus estudos sobre a natureza dos laços sociais. A solidariedade, no primeiro caso, acontece de forma natural ou mecânica, a proximidade entre os seres humanos, o contato leva a isso. Já a solidariedade orgânica ocorre quando os indivíduos têm – ou adquirem – a consciência de que precisam participar para fazer a coletividade funcionar como um todo. Trata-se, portanto, de uma consciência coletiva que, segundo Durkheim, constrói-se pelos sentimentos e crenças comuns à média dos membros da coletividade, levando-os às formas de cooperação global.

E, porque sentimentos e crenças podem ser incentivados, especialmente num lugar que trabalha a formação do sujeito em desenvolvimento, a escola inclusiva é acima de tudo esse solo fértil para o desabrochar e o fomento da ética, da solidariedade e do bem comum.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O saber tem que ser construído em meio à tecitura de redes intercomunicantes

Gladis Maia
Você não pode ensinar tudo a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta, dentro dele mesmo. Galileu Galilei.
A Escola da atualidade necessita ser mais flexível, ser inteira e representar a vida. O educador tem que lembrar que é professor de gente, não de matérias, de conteúdos, reprodutor do sistema que aí está, excludente por índole. A corrida atrás de resultados quantitativos tem que ficar para trás. A meta agora é a qualidade de vida, o aluno precisa mesmo é saber como se chega a resultados. A escola para todos tem que ensinar como pensar e não o que se pensa. Os principais problemas de nosso tempo não podem ser compreendidos isoladamente, mas vistos de forma interconectada e interdependente, sob o paradigma da hoslística.
A sociedade atual exige pessoas detentoras de tipos diferentes de criatividade, com diversos talentos, sobrepostos e maleáveis e mutáveis. Como um prisma de cristal, que distribui a luz num campo visual, a teoria das múltiplas inteligências de Perrenoud e a inteligência multifocal de Augusto Cury, poderiam servir de norte, entre outras, para serem aplicadas ao planejamento educacional, criando condições para a formação de pessoas melhor preparadas para era virtual, que se aproxima: holísticas, diferentes de nós, seus professores, que estudamos sob a égide de um ensino tradicional, de lógica aristotélica e linear.
Estas teorias podem nos ajudar a mostrar como levar o aluno do conteúdo acadêmico, que serve como suporte, até chegar às metas finais, permitindo que cada um adquira, do seu próprio jeito, através do seu próprio estilo individual de aprendizagem.
Se concordarmos que uma das funções da educação é a preparação das pessoas para o seu futuro, nunca esquecendo que a transformação da sociedade – que há de ser justa e ética um dia – passa necessariamente pela escola, neste momento, ninguém pode saber com precisão o que nos reserva o futuro, nem o mais próximo.
Não sabemos, por exemplo, das possibilidades da clonagem humana ou dos resultados do Projeto Genoma. Esta incerteza pode nos deixar paralisados, insatisfeitos com a maneira de construir o saber em nossas escolas. Mas, precisamos ter coragem para desafiar os erros e encontrarmos novas maneiras de fazer ou refazer a prática pedagógica.
Neste sentido, a sociedade contemporânea está passando por uma série de modificações estruturais, que nos obrigam a reavaliar aquilo que estamos fazendo na educação e tentar alinhar este esforço à realidade que existe fora da instituição acadêmica.
Algo que está claro para o futuro, não tão longínquo assim, é que muitas pessoas terão uma jornada de trabalho mais curta do que a atual e sobrará tempo para o lazer, talvez . E o que faremos? Imagino que: um educando exposto às experiências ecológicas, holísticas e grupais, numa escola pautada na ética, na participação colaborativa, poderá transformar não só a sua própria vida, mas o em torno.Ele terá condições de acrescentar mais a sua vida, em termos de prazer, crescimento emocional, respeito e sabedoria. O pequeno cidadão hoje - ou amanhã, adulto - estará apto a transformar a sociedade, começando com o respeito às pessoas que lhe são próximas.
Mas, afora os discursos bonitos, as escolas têm apresentado, em geral, espetáculos deploráveis, ao expulsarem os alunos do suas aulas e mesmo da escola, literal ou subliminarmente, através das notas ruins, das caras feias, das repreensões insistentes, porque determinados alunos não correspondem ao tipo padrão esperado...São os taxados de mal comportados, já que nossas escolas baseiam-se inteiramente em torno da noção de disciplina e de comportamento. Expulsos ou evadidos, essas crianças somam fileiras entre os excluídos, da escola, da sociedade, da vida...
E o pior, é que os educadores, na sua maioria, estão se sentindo abandonados, desamparados, com a falta de possibilidade em atender as demandas da escola, receber e tratar bem, as crianças e jovens em suas necessidades do cotidiano. Lá fora elas também não são satisfeitas, a família já não é a mesma, e todos sabemos, sua estrutura física e psicológica mudou. Todas as patologias e os desconfortos familiares – e há alunos que possuem dois, três núcleos familiares, outros nenhum - acabam chegando a escola, que está despreparada, não possui técnicos, nem disponibilidade para tanto ...
A violência escolar, tão em moda na mídia, poderia ser vista como uma denúncia da própria violência perversa do sistema educacional em nosso país, em muitos outros, mesmo no exemplar primeiro mundo, e sem tirar nossa responsabilidade: da nossa maneira de viver, que por vezes é demasiadamente desejante e exigente.
É real, que os professores são mal pagos, possuem cargas horárias escravas, estão estressados, com suas turmas abarrotadas de alunos e escolas mal cuidadas pelos poderes públicos, muitas vezes mal preparados em suas formações por tantos outros professores descontentes, numa roda viva incessante...Há que se concluir que não há muito lugar para pensar a dor do outro, do aluno que está muitas vezes ali precisando muito mais de afeto do que de lições... Fica difícil a tal escola para todos!
Mesmo a contragosto dos descrentes, daqueles que perderam a esperança, eu volto sempre ao meu jargão amoroso, afirmando que a Escola Inclusiva passa, necessariamente, pelo coração de cada educador que estiver envolvido com ela e que, de tanto abrir-se para o amor, conseguirá expandir frestas nos corações dos homens empedernidos, que estão com a caneta na mão para assinar os documentos necessários a efetivação das mudanças na escola e nos homens que estamos formando, que transformarão esta nação em algo de prodigioso.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Respeito à dignidade não é favor, é direito imprescindível da ética.


Gladis Maia

O sentido da Educação é a humanização, possibilitando que todos os seres humanos tenham condições de serem partícipes e, ao mesmo tempo, possam desfrutar dos avanços e progressos da civilização, construída historicamente. Jane R. A. Barbosa, in Didática do Ensino Superior, 2003.

Ensinar exige, além de segurança, competência profissional e generosidade. O comprometimento, a liberdade e autoridade, a arte da escuta, o reconhecimento que a Educação é ideológica, também são imprescindíveis. A disponibilidade para o diálogo, o querer bem aos educandos e a compreensão de que a Educação é uma forma de intervenção no mundo, parafraseando Paulo Freire, são, da mesma forma ultra necessários na práxis educativa.

Quanto mais liberdade e solidariedade, entre professor e aluno, mais possibilidades há de viver-se na - e para a - cidadania. O professor precisa abandonar a postura de portador da verdade que tem de ser transmitida aos discípulos. Quem não consegue escutar seus alunos, não aprende a falar com eles, fala para eles, fala deles, mas não com eles. Não constrói, vomita conhecimento.

É papel do professor escutar os alunos, nas suas dúvidas, nos seus receios, na sua incompetência provisória, nas palavras do mestre. Freire, sempre que a oportunidade se apresentava, dizia que, em geral, o professor cria com o aluno uma relação prepotente, na qual ele não contribui para o processo educativo. Aliás, contribui sim, mas para reforçar a sua dominação como professor. Ao colocar-se frente à classe e emitir conceitos que os alunos não conseguem decifrar, muitas vezes, ele não está apenas reforçando a idéia de que o professor é aquele que sabe, mas também a idéia de que o aluno é aquele que não sabe e que, para saber, depende do professor. E, se ele, na sua enorme benevolência, se dispuser a dar uma migalha de seu saber aos alunos, apresentará a postura costumeira daquele que está convencido de que os alunos jamais vão saber como ele sabe, e, por isso, precisarão sempre das luzes daquela inteligência suprema...

O pequeno grande educador sempre acreditou que nenhuma formação docente pode fazer-se alheada do reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição e do exercício da criticidade. Criticidade que implica da passagem da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica, do conhecimento bancário para o conhecimento crítico.

Constituir-se num professor crítico é tornar-se um aventureiro responsável, que diz que as coisas até podem piorar quando se está predisposto à aceitação do diferente, do novo, mas diz também que sempre é possível intervir para melhorá-las. A passagem do homem pelo mundo não é pré-determinada. A vida é feita de possibilidades, e não de determinismos! Quando a presença humana no mundo não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, culturais e históricas há sempre e, graças a Deus, Esperança! Esperança para lutarmos e vermos nossos sonhos virarem realidade!

Devemos ser esperançosos não só por teimosia, mas por exigência da práxis educativa. O que poderá ensinar aquele que não crê que as coisas possam ser diferentes? Freire diz não entender que a Educação, como prática estritamente humana, possa constituir-se numa experiência fria, sem alma, numa experiência em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos sejam reprimidos.

Freire também alerta que o professor que costuma desrespeitar a curiosidade dos seus alunos, ou seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem... O professor que ironiza o aluno devido aos seus traços culturais, transgride os princípios éticos da existência humana, da mesma forma que aquele que foge do cumprimento do seu dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência educativa.

Qualquer discriminação é imoral! Quanto mais rigoroso o professor se tornar na sua busca e no seu exercício profissional, tanto mais alegre e esperançoso se sentirá. Por isso é falso pressupor que alegria e docência sejam incompatíveis, inconciliáveis. A alegria não é inimiga da rigorosidade, proclama Freire, que acredita que há algo como o que costumam chamar de vocação, que deve enlaçar tantos professores de bem na sua profissão tão mal vista e paga pelos governos deste país. Mesmo numa situação tão desestimulante, muitos continuam a suar a camiseta, felizmente, honrando a categoria.

E, ao final deste artigo, fiquem com as palavras do grande mestre, singelas e humildes, e que são sempre bálsamo para a alma daqueles que acreditam num mundo melhor, sem preconceitos, num mundo repleto de muito amor e de muita beleza. Daqueles que não têm vergonha de serem eternos aprendizes:

O melhor caminho para guardar viva e desperta a minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que me admita como proprietário da verdade. [...] disponibilidade à vida e aos seus contratempos.[...] ao riso manso da inocência, à cara carrancuda da desaprovação, aos braços que se abrem para acolher ou ao corpo que se fecha na recusa.[...] E quanto mais me dou à experiência de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto melhor me conheço e construo meu perfil. (Paulo Freire in Pedagogia da Autonomia, 2003).

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Nem de esquerda nem de direita, os jovens estão para além da política.

Gladis Maia

Todos os partidos são variantes do absolutismo. Não fundaremos mais partidos. O Estado é o seu estado de espírito.
Raul Seixas
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Tenho falado bastante sobre às características da nova geração, especialmente no tangente a sua nova linguagem. Mas os jovens não mudaram apenas a sua forma de falar, de pensar, de escrever, mudaram acima de tudo a forma de agir no mundo frente aos problemas estruturais a que assistem. Não só a que assistem, pois eles se entrelaçam na problemática, arregaçam as mangas e atuam em favor de soluções. Diferentes das gerações anteriores, que escreviam e pronunciavam discursos inflamados a favor dos oprimidos, eles vão à luta, companheiro.

Shephen kanitz, em artigo na Veja de 12/09/05, diz que lera uma reportagem que acusava a nova geração de “estar com nada”, preocupada somente com o futuro emprego e o umbigo. Os jovens não seriam mais como os de antigamente, engajados, na luta por uma grande causa: revolucionar o mundo. O autor, contrário a esta opinião, diz que há 30 anos atrás, 20% de seus amigos de faculdade - pelo menos os que se achavam mais inteligentes - eram de esquerda. Queriam mudar o mundo, salvar o Brasil, expulsar o FMI e acabar com a pobreza. Cabulavam as aulas e viviam no centro acadêmico com pôsteres de Che Guevara discutindo como tomar o poder. A idéia de ajudar os outros fazendo trabalho voluntário na periferia nem lhes passava pela cabeça...

Kanitz fala também que - para sua surpresa - quando foi fazer o mestrado em Harward, a totalidade de seus colegas era apolítica. Eles estavam lá para estudar, adquirir conhecimento, para poder ser úteis à sociedade e talvez ficar ricos. Por isso estudavam, para seu desespero, 20 horas por dia... Aliada a essa enorme carga horária de estudo, todos - havia muito tempo - faziam trabalho voluntário, um dos requisitos inclusive para a admissão ao mestrado, conta o administrador.

Passados trinta anos, num encontro com a turma de mestrado ele constatou que todos ficaram ricos, como pretendiam e que era a única exceção.Ricos que agora devotam boa parte do tempo às causas sociais e doam bilhões ao 3º setor. Muitos, já aposentados, gastam 25 horas por semana em conselhos, como o da Cruz Vermelha. A reunião de trinta anos com seus colegas da USP foi ainda mais surpreendente. O mais engajado na época, o que mais pregava a luta de classes, é hoje diretor de banco. Seu colega socialista, e menos radical, é o dono do banco. A maioria desculpou-se dizendo: “cansei de ajudar os outros”, “estou ficando velho, preciso me preocupar comigo mesmo.”

O articulista e muitos outros autores preferem a nova geração, que não é nem de esquerda, nem de direita, nem agüenta mais esta discussão. Não querem mudar o mundo, querem primeiro mudar o bairro para depois mudar seu estado e o país. Querem se tornar competentes para então mudar o mundo, paulatinamente, ao longo da vida.A nova geração está desencadeando uma revolução de cidadania, usando cérebro e o coração para o voluntariado, engajando-se no 3º setor, cada um fazendo a sua parte. Não ficou somente no discurso, partiu direto para a ação. A nova geração “está com tudo”, e deveríamos ficar orgulhosos por não se fazer mais jovens como antigamente.

Cláudia Wernec em “Sociedade Inclusiva: quem cabe no seu todos?” é da mesma opinião de Kanitz, a respeito da participação da nova geração em prol da cidadania. Define como protagonista juvenil o menino ou menina que toma a iniciativa de promover e gestar ações que transcendam a seus interesses pessoais ou familiares, sempre relacionadas à solução de um problema concreto.

Meninos que defendem a ecologia, fazem jornalismo escolar, rádio comunitária, catam lixo na praia ou organizam um mutirão no condomínio a favor da reciclagem de lixo. Percorrem comunidades carentes – ou não – fazendo prevenção de câncer de mama, distribuem camisinha, explicam como fazer sexo seguro, vão a asilos cozinhar nos feriados, percorrem bares de madrugada convencendo outros jovens a não dirigirem alcoolizados.

De etapa em etapa, esses jovens vão percebendo e confirmando que para garantir a sua sobrevivência como adultos precisarão tomar decisões cada vez mais solidárias. Bem melhor – seguramente - do que esperar de braços cruzados o dia em que a sociedade vai achar que aquele jovem cidadão está pronto para participar da vida pública. Exercendo seu lado protagonista o adolescente vai assumindo o compromisso de ser autor de seu futuro. É o parceiro ideal no processo de construção da sociedade inclusiva, pois a palavra-chave para entender o conceito de trabalho voluntário é solidariedade que significa troca e aprendizado conjunto e pressupõe responsabilidade social e cooperação. Pequenas atitudes podem mudar o mundo. Não importa o tamanho desse mundo. Esta é a diferença entre a juventude do ano 2000 e aquela que agitava bandeira nas décadas de 60 e 70. Ninguém é melhor ou pior. São contextos diversos. O momento histórico é outro. O momento sócio-político-cultural é outro.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Você tem algum amigo (a) diferente?

Gladis Maia

Escola é lugar de convivência e aprendizado universais. Universais, mesmo! Esta é a base das escolas inclusivas. Cláudia Werneck (1999).

No currículo da jornalista Claudia Werneck consta a edição de uma coleção de três livros chamada Meu Amigo Down, que colabora para uma ampla discussão sobre as diferenças individuais a partir da Síndrome de Down. A história aborda a chegada de um menino com a síndrome a uma escola regular. O sucesso foi tal, que após a 3ªed. da coleção, resolveu editar também ‘Um Amigo diferente?’.

Cláudia conta que passou por uma experiência decisiva ao falar da coleção ‘Meu Amigo Down’ nas escolas, públicas e privadas, por todo o Brasil: “... eu era torpedeada pelos alunos com perguntas e desabafos sobre ‘anormalidades’. Tornei-me a deixa para que abordassem assuntos que os afligissem e os deixavam curiosos. Fiquei aflita com a aflição deles. Daí nasceu ‘Um Amigo Diferente?’ , lançado em 1996.”

Este último livro consumiu-lhe cinco meses de pesquisa na qual teve a assessoria do consultor em reabilitação, Romeu Kazumi Sassaki, .segundo ela, “um livro dificílimo de ser finalizado” . Para escrevê-lo teve que conhecer o trabalho de grupos de ajuda mútua de portadores de paralisia cerebral, asma, doença renal, ostomia, anemia, hemofilia, artrite e outros. O texto foi submetido a representantes de cada uma dessas entidades e também a profissionais das áreas da Saúde, Comportamento, Reabilitação e Educação de vários lugares do Brasil. Muitas outras pessoas também foram consultadas sobre as ilustrações.

E antes de ser publicado passou por uma experiência piloto num CIEP do Rio de Janeiro, onde foi utilizado como livro-texto, em sala de aula. O CIEP estava em plena consolidação do processo de inclusão, à época.Durante uma semana várias turmas se dedicaram a fazer entrevistas para saber quem era de algum modo diferente nas suas famílias e vizinhança. Também sugeriram ilustrações para o livro, desenharam seus amigos diferentes e fizeram redações. Na ocasião a TV do Rio de Janeiro, da Rede Globo, interessou-se pela experiência e entrevistou os alunos numa reportagem de Ana Paula Araújo, com pauta de Tim Lopes. Criança e adolescentes, quase todos moradores da favela Nova Brasília, falaram de suas emoções e descobertas a partir das pistas do ‘Um Amigo diferente?’ .

O livro conta a história de um amigo que afirma ser diferente. A cada página o amigo imaginário vai dando novas pistas, atiçando a imaginação dos pequenos leitores, que vão se deparando com temas pouco abordados no dia-a-dia, doenças e deficiências. Das diferenças simples, como ter seis dedos nas mãos – e tornar-se o campeão de fazer cócegas, da rua – até as mais complexas, como quando o personagem levanta a camiseta e mostra o corpo estrelado que há dentro de si e pergunta: “Quem sabe o mistério esteja dentro do meu corpo?” . Essa é a dica para o professor falar de AIDS, de câncer, de hemofilia e por aí vai,explica a autora. Aprender sobre deficiências e doenças crônicas é aprender sobre cada ser humano, acredita a jornalista, que explica que é a oportunidade de conhecer-se melhor. As crianças nascem aptas a lidar com qualquer tipo de diferença. Sendo o cotidiano, com sua diversidade mais fantástico do que qualquer sonho ou imaginação, seria natural para as crianças crescerem reconhecendo a humanidade como ela é, e não como os adultos acham que deveria ou gostaria que fosse. “Muito cedo, no entanto, família e escola, em uma parceria maléfica e preocupante, começam a corromper a meninada. Insistem em dizer que a deficiência faz parte de uma quarta dimensão da vida. Em casa, o assunto não é abordado com naturalidade.”, diz ela. Concordo com a colega de profissão, pois as crianças têm o direito de se desenvolverem exercendo sua capacidade de reflexão, de decisão e de ação dentro de um contexto real.

domingo, 14 de outubro de 2007

E afinal, que país é o nosso?

Gladis Maia

Todas as crianças, jovens e adultas em sua condição de seres humanos, têm direito de beneficiar-se de uma educação que satisfaça às suas necessidades básicas de aprendizagem, na acepção mais nobre e mais plena do termo, uma educação que signifique aprender e assimilar conhecimentos, aprender a fazer, a conviver e a ser. Uma educação orientada a explorar os talentos e capacidades de cada pessoa e a desenvolver a personalidade do educando, com o objetivo de que melhore sua vida e transforme a sociedade.Marco de Ação de Dacar, abril de 2000.

É possível trabalhar em direção à Inclusão no Brasil quando milhões de crianças são excluídas da Escola por que se ‘comportam mal’ ? Por que ‘não aprendem’ ? Por que precisam trabalhar, para ajudar aos pais no sustento da família? Por que milhares delas vivem nas ruas - desse nosso continental país - longe da escola, onde deviam estar e aonde foram desprezadas ou maltratadas, muitas vezes?
Isso sem falamos das crianças com NEE, Necessidades Educacionais Especiais, que de certa forma são quase a maioria delas, em algum momento ou outro de sua aprendizagem ... Todos sabemos que as escolas e o sistema educacional não funcionam isoladamente. O que acontece dentro de seus muros é sempre reflexo da sociedade que impera fora dos seus portões. Os valores, as crenças e as prioridades da sociedade permeiam a vida e o trabalho no seu interior, até porque quem vivencia a práxis do ensino-aprendizagem é também cidadão desta mesma sociedade.
Cidadão este que sendo um idealista acabará indo de encontro às crenças e as atitudes daqueles que detêm o comando do sistema educacional. Irá de encontro à acomodação de muitos diretores e administradores de escolas e também dos numerosos professores desencantados - no e com - seu trabalho. Não é à toa que cresce o número de alunos desestimulados que lá encontramos.
O idealista no seio das escolas vai ter muito trabalho para por suas idéias em prática. No mínimo não será muito bem visto, pois a maioria, ao longo dos tempos, prefere a mesmice. O maior obstáculo para que as mudanças ocorram nestas atuais circunstâncias, está instalado em nossas mentes e em nossos corações. A tendência é a de subestimar as pessoas, rotulá-las, além de superestimar as dificuldades imaginando antecipadamente o fracasso.
Meditando sobre esses sentimentos, apresento aos leitores uma experiência de inclusão que segue seus rumos, com seus altos e baixos, mas acontecendo, há já bastante tempo na África. Experiência lá descrita como integração. Os dados foram colhidos da obra: Educação Inclusiva - Contextos Sociais, de Peter Mittler.
A experiência acontece em Lesoto, na África do Sul, um dos países mais pobres do mundo, com dois milhões de habitantes, pequeno, mas que vê a educação como prioridade. Lá uma comissão foi estabelecida para estudar as possibilidades da integração em 1987 e como parte de seu compromisso com a Educação para Todos, lançou um programa-piloto, em 1993. Nele, dez escolas de Ensino Fundamental rurais incluíram todas as crianças com deficiências nas salas de aula regulares. Em torno de 300 crianças com deficiência participaram do programa-piloto, num total de 9 mil matriculadas.
Para a execução do processo, quase todos os professores das escolas selecionadas passaram por uma capacitação intensiva de três semanas que, segundo pesquisas posteriores, de Mittler e Platt, se tornaram mais confiantes. Os autores, que tiveram oportunidade de visitar estas escolas, comentam que, na maioria das vezes, embora as classes fossem de 50 a 100 ou mais alunos, as crianças portadoras de deficiência aparentavam estar social e educacional-mente integradas.
Os autores explicam que os professores se valiam de uma série de estratégias de ensino, incluindo diferenciação curricular, trabalhos em grupos pequenos, ensino individual e apoio aluno a aluno. Valiam-se também de estratégias práticas para tornar os alunos portadores de deficiência sensoriais e físicas capazes de terem acesso imediato ao professor e ao quadro-negro, sem estarem separados dos outros estudantes. Referem que durante todo o tempo, os estudantes com necessidades especiais estavam totalmente engajados em alguma atividade, assim como seus colegas estavam.
De acordo com as observações dos autores da pesquisa, pode-se concluir que as habilidades dos professores provavelmente já faziam parte da qualidade de ensino dos professores anteriormente à implantação das turmas inclusivas, pois não seria a rápida capacitação que os prepararia para agirem assim, tão desenvoltos, como podemos observar nas palavras dos pesquisadores: “os professores com 50 ou 100 estudantes na sala de aula nunca perderam a chance de incluir todos os alunos nas atividades de classe. O fato de os alunos parecerem altamente motivados para aprender e apoiar um aos outros com naturalidade, forneceu um fundamento natural e sólido ao programa, que já se estendeu à ampla gama de diversidade de alunos na sala de aula. Sentimos que esses professores já eram ‘naturalmente inclusivos’, na suas salas de aula.”
Ficam as dúvidas nossas e dos autores, acerca da insistência geral de que é necessário uma preparação intensiva dos professores antes da inclusão ser introduzida. Não estaremos subestimando as habilidades e a experiência de muitos professores que, como em outras paragens, já seriam também inclusivos por aqui? Os programas de capacitação não deveriam ser construídos sobre as competências que já existem em muitas salas de aulas de nossas escolas ? Vamos abrir nossos corações, como muitos desses professores de boa-vontade já abriram os seus? Vamos abri-los, juntamente com nossos corações para receber toda e qualquer criança com NEE na Escola e lutar para que elas permaneçam o maior tempo por lá, ainda que não obtenham o ‘ tão importante diploma’ !?

sábado, 13 de outubro de 2007

Emagrecer ou não emagrecer, eis a questão...

Gladis Maia

Não é à toa que a Adélia Prado tenha dito que erótica é a alma. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. [...] a erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. (...) Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo do qual não sai melodia alguma. Rubens Alves, in A Alegria de Ensinar.

Uma recente pesquisa realizada por psicanalistas em dez países revela que somente 2% das mulheres consultadas consideram-se bonitas. O que não é verdade, todos sabemos. Mas o problema reside na imagem mental que a pessoa tem de si, que pode ser a favor ou contra, e, complicados que somos, dificilmente temos uma imagem corporal correspondente à realidade. A pesquisa informa também que as mulheres consultadas ponderam que para ser bonita precisamos, além de ter características ocidentais, ser: branca ou negra, alta, magra e com cabelos lisos. As baixinhas se desesperam! As índias ficam fora, acredito que nem foram pesquisadas! As negras, as mulatas e as pardas alisam os cabelos. As orientais correm para os bisturis dos cirurgiões plásticos na tentativa de arredondar os olhos...
As gordinhas - das menininhas à terceira idade - malham dia e noite, descontrolando o padrão hormonal e endurecendo músculos exageradamente, a tal ponto que necessitam cada vez mais horas de ginástica - se é que dá para chamar aquela tortura, realizada nas academias, de ginástica... ‘Exercícios’ que viciam o organismo e na sua ausência transformam os músculos em pelancas e a euforia em cansaço, stress ou depressão.
Já as falsas-feias e as falsas-gordas se submetem aos regimes doentios, às lipoaspirações que tem levado uma infinidade de mulheres à morte. Enchem os divãs dos psicanalistas e os consultórios dos psicólogos, na esperança de emagrecer. Acabam mesmo é engordando as suas receitas e as das farmácias e viciando-se em inibidores de apetite e antidepressivos desnecessários.
Bulemia e Anorexia Nervosa:
Estes são dois transtornos alimentares graves, que muitas vezes não são levados a sério, nem mesmo por pessoas esclarecidas. Pais e professores devem ficar atentos, pois a incidência parece ter aumentado e seu início geralmente eclode na adolescência. Até porque se a moda dita que ser bonita é ser magérrima, a contemporaneidade favorece a doença alimentar. Uma coisa que espanta é que as mulheres não se dão conta de que a moda é criada por estilistas – cuja maioria não gosta de mulheres, por opção sexual e por conivência das indústrias de roupa, que vendem mais a cada grama aumentada ... Já viram a nova numeração dos manequins da moda jovem? Dificilmente é numerada: 42, 44, 46 ... Somos P, M, G e, às vezes nos oferecem GG, nem sempre! E o tal GG é de morrer de rir, se não causasse problemas emocionais e até do que vestir para a garotada do xis e coca-cola – especialmente entre 12 e 16 anos - com tendência a engordar. Na realidade o tal GG não passa de um P ou no máximo 42. Quem duvida, compare com uma roupa um pouquinho mais antiga no armário de uma parenta mais conservadora...
Voltemos aos transtornos alimentares. A anorexia é uma das poucas doenças psiquiátricas que pode levar à morte. Atinge com maior freqüência as mulheres. É diagnosticada quando - na ausência de qualquer doença física conhecida que explique a perda de peso ou a falha em manter o peso esperado são acentuados - e a pessoa passa a recusar a ingestão de alimentos.Existe uma perturbação significativa na imagem corporal. Os pacientes mesmo magérrimos sentem-se gordos. Alimentos e regimes são preocupações persistentes. A incidência é maior nos grupos sócio-econômicos altos, em mulheres ambiciosas e em profissões tais como manequim e dançarina, nas quais existem vantagens extras para as pessoas com baixo peso. É rara em homens, e os indivíduos acometidos podem mostrar tendências efeminadas.
Ao contrário, dos anoréxicos, os pacientes bulímicos costumam dedicar-se a orgias alimentares. A bulimia nervosa é caracterizada por ingestão descontrolada e compulsiva de grandes quantidades de alimentos num curto período de tempo. O desconforto físico como dor abdominal ou sensações de náuseas,encerra o episódio bulímico, que é seguido por sentimentos de culpa, depressão e auto-aversão. A pessoa usa regularmente laxantes ou diuréticos ou induz o vômito .
Tanto os pacientes com bulimia nervosa como os com anorexia, tendem a ser ambiciosos e respondem às mesmas pressões sociais para a magreza. Freqüentemente a anorexia e a bulimia nervosas coexistem no mesmo paciente. Psicologicamente o bulímico e o anoréxico, têm dificuldades com as demandas da adolescência, mas aqueles são mais extrovertidos , raivosos e impulsivos do que os anoréxicos. Alcoolismo, furtos em lojas, e instabilidade emocional – incluindo tentativas de suicídio – estão associados à bulimia nervosa.
Ambos os transtornos necessitam de tratamento fármaco-médico e psicoterápico, constante, pois há reincidência com freqüência, são males crônicos, por assim dizer. Na anorexia - que parece ser mais grave - geralmente é necessário a internação hospitalar, para restaurar o estado nutricional. Atentem, pois, para a adolescência ao seu redor, todo cuidado é pouco!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A Amizade como geradora de Competência Social



Gladis Maia

Os três melhores amigos de Jaime disseram:
1º - Ele faz com que eu me sinta bem quando estou triste, e quando fico furioso ele me acalma. Eu ajudei Jaime a correr 7 min. 15 seg. em uma corrida e jamais vou me esquecer disso.
2º -
Percebi que ele podia se adaptar com qualquer um na escola, que ele queria ter amigos, e ele é meu amigo. Ser amigo de Jaime tem suas vantagens. Ele é muito amável, atencioso, bom, educado e é o meu preferido – é um garoto ‘legal’ .
3º- Aprendi como deve ser um amigo de verdade. Ele é realmente um bom amigo. Aprendi que um amigo tem que ser bom, e aprendi isso com Jaim.
Já Jaime referiu-se aos amigos assim:
Eu tenho três amigos: Zach, José e Mark. um.dois.três.Eu gosto dos meus amigos. Gosto de implicar, correr e brincar com eles.
Bishop & Jubala in Jaime Will have a friend.

Segundo Staiback & Staiback, em “Inclusão, um Guia para Educadores”, as amizades servem para aumentar uma variedade de habilidades comunicativas, para proporcionar às crianças proteção, apoio e uma sensação de bem-estar. As amizades para as crianças com deficiência – apesar da freqüência com que os educadores e o pessoal de apoio negligenciam seu desenvolvimento, em favor do desenvolvimento de habilidades funcionais e acadêmicas – podem até ser mais importantes do que para as outras crianças. Isto devido a maior necessidade que elas têm de trabalharem seu desenvolvimento: lingüístico, cognitivo, social, sexual e acadêmico.
Embora as amizades não possam ser forçadas, seu desenvolvimento pode ser encorajado, alimentado e facilitado na escola e na comunidade. Uma variável fundamental no estabelecimento das amizades físicas é a proximidade física. Se as crianças deficientes
freqüentarem os mesmos ônibus escolares, os grupos da igreja, os programas esportivos, os recreativos,as lancherias ... Na escola do bairro teriam mais chances de criarem um elo de amizade importante, contribuindo maciçamente ao desenvolvimento de ambas as crianças.
Outro fator determinante da formação da amizade são as estratégias de classe com atitudes colaborativas entre alunos deficientes no contexto das atividades acadêmicas, físicas e sociais .
Além do trabalho compartilhado as atividades no almoço, recreio, as lições de casa em grupo, a própria disposição das carteiras nas salas de aula, que não devem ser individuais, mas em duplas, círculos.
Todos esses incentivos para as relações amigáveis no seio da escola e da comunidade contribuem de maneira significativa, não somente para a auto-estima do aluno com deficiência, mas também para conquistar o respeito de seu colegas. Mais próximos os alunos - deficientes ou não - passam a perceber as potencialidades e habilidades inerentes a um e a outro.
Embora pais e professores não possam escolher os amigos de seus filhos e alunos, podem observar as interações e alimentar as possibilidades que elas apresentam. A experiência da amizade pode ser estendida a todos em uma escola, em um bairro e em uma comunidade inteira, quando as pessoas trabalham juntas para criar oportunidades de entendimento de apoio e de aceitação dos outros como eles são e do que estão dispostos a dar e a receber.
Os alunos com e sem deficiência podem beneficiar-se da aprendizagem de habilidades específicas que podem melhorar a performance do desenvolvimento das amizades e das interações sociais. Podemos, por exemplo, começar ensinando-os a serem bons ouvintes, ativos, a darem um retorno positivo, a fazer perguntas e a responder às necessidades dos outros. Isto pode contribuir para a maior aceitação dos colegas.
Aprender a compartilhar os pertences, as idéias e os sentimentos, proporcionar conforto, ajuda e apoio são também componentes de amizade. Em alunos jovens a confiabilidade e a lealdade são muitas vezes testadas e as lealdades mudam constantemente. Ensinar a volorizarem-se
e apreciarem seu próprio caráter – pode ajudar no momento que se sentirem “traídos” ou propensos a”traírem”.
As interações que ocorrem durante um conflito entre alunos proporciona, uma maneira segura para expor queixas, sentimentos e diferenças de opinião, além de habituá-los para a vida em comunidade.
Bishop & Jubala -
citados por Staimbac & Staimback e outros – descrevem um trabalho realizado numa 6ª série (incluindo um aluno com deficiências importantes) na qual foi desenvolvida uma unidade sobre amizade). Um dos resultados foram as singelas e ao mesmo tempo veementes opiniões dos alunos sobre o que é para eles o sentimento da Amizade, num texto compilado por mim:
Na minha opinião, neste mundo de hoje, a maioria das pessoas precisa de pelo menos um amigo para conseguir sobreviver, porque uma amizade é a melhor coisa que se pode conseguir em toda a vida. Ser amigo é se encontrar um com o outro na escola ou em casa, ser ‘legal’ um com o outro e de vez em quando brigar, mas principalmente sermos amigos e ajudar um ao outro, quando precisar. Ser amigo significa ter uma pessoa que tem consideração e interesse por mim. Alguém que tenha os mesmos interesses e também interesses diferentes dos meus. Para ser um amigo de verdade, a gente tem de desenvolver um relacionamento duradouro e não agir mal com ele. Significa que a pessoas estão ao seu lado quando você precisar delas, estão aí para nos animar quando estamos tristes. Acho que amizade é se divertir junto e conversar sobre nossos problemas. Amizade é ir aos lugares juntos. Acho que amizade é compartilhar nossas coisas e os lugares divertidos em que estivemos.” E você, leitor(a) já teve um amigo assim? Se tem, que bom, se não, ainda há tempo para consegui-lo!

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Quem luta por sonhos vê lições nos erros, fracassos e incompreensões.

Gladis Maia
Cumpre aos verdadeiros líderes, como os pais, educadores, executivos, incentivar quem fracassa a extrair sabedoria das suas experiências dolorosas, em vez de cultivar a culpa. Errar é uma etapa do inventar, falhar são degraus do criar. Augusto Cury, in Nunca Desista dos seus Sonhos.
Eis me novamente saboreando as instigantes idéias de Augusto Cury – de quem é o eixo deste artigo. O autor – na obra citada na epígrafe - critica a cultura das provas existentes em quase todas as escolas do mundo inteiro, porque desrespeita a riquíssima pedagogia do ensaio e erro, que promoveu as grandes conquistas da história. Explica que ao ser punido com notas baixas, o sujeito aprendente não só registra de maneira privilegiada o fato, através do fenômeno RAM, Registro Automático da Memória, como inicia-se ali - ou ratifica-se - o processo de obstrução da sua ousadia e inventividade.
Cury aconselha a ausência de julgamento diante do erro. É da opinião que se alguém ao errar for valorizado, encorajado, conseguirá incorporar novas experiências e refazer caminhos. Relembra-nos que caímos muitas vezes até aprendermos a andar. Quem erra tem oportunidades de sonhar com as conquistas, tem mais chance de aprender e mais gosto pela vitória, pressuposto que constitui um dos fundamentos da Inteligência Multifocal, teoria que levou 20 anos estudando e formulando.
Nas suas palavras: “Nos alicerces das grandes descobertas existem grandes falhas, nos alicerces das grandes falhas existem grandes sonhos de superação”. Se não mudarmos nossas atitudes de recriminação frente ao erro de nossos filhos ou alunos, vamos incentivar neles o medo de errar, que gera um eu tímido e inseguro, segundo o cientista.
Aliás, se os cientistas se intimidassem e recuassem diante de seus erros quantas descobertas não teriam deixado de ser feitas, como nos aponta Cury ... Flaming, descobriu a penicilina graças a um fungo que contaminou a lâmina de cultura, que ele deixara sem proteção no laboratório. Roentgen descobriu o Raio X, pelo descuido no manuseio de uma placa fotográfica. Einstein teve de recuperar do lixo algumas etapas das equações que o levaram à Teoria da Relatividade. Simon Campbell errou ao não conseguir chegar a um novo medicamento, para desobstruir artérias em casos de angina, mas descobriu o Viagra.
O que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida, explica o psiquiatra, que lamenta que o medo tenha sepultado milhões de sonhos, em todas as épocas e nos alerta que quando nossos sonhos incluem os outros ou buscam alguma maneira de contribuir para o bem da humanidade, suportamos mais facilmente os temores e os dissabores da vida.
Da mesma forma ele lamenta o massacre que o autoritarismo dos superiores – sejam eles pais, professores ou chefes - praticam contra os seus comandados exterminando sua criatividade e inteligência. Mas, nos entusiasma com seu otimismo ao lembrar aos idealistas – ou aos em vias de - que é possível destruir o sonho de um ser humano quando ele sonha para si, mais é impossível destruir seu sonho quando ele sonha para os outros, a não ser que lhe tirem a vida. Entusiasma e nos incentiva a trabalharmos os valores humanitários com as crianças e jovens, pois quem vive para si mesmo não tem raízes internas. Trabalharmos com eles, para que não venham a medir os seus semelhantes pelo poder político ou financeiro que possuem, mas pela grandeza de seus sonhos, pela paixão que possuem pela vida, pelo amor à humanidade, pelo desejo de serem úteis aos outros. O autor que enaltece o valor dos sonhos, o valor do livre pensar e o valor dos pensadores apaixonados pela existência, afirma que nossa espécie está doente. Acometida de: SPA, Síndrome do Pensamento Acelerado, pessimismo, estresse, individualismo, competição predatória, falta de amor, falta de fraternidade, falta de sabedoria, superficialidade, racismo, preconceitos... As idéias devem servir à vida e não a vida às idéias, pois os piores inimigos de uma idéia são aqueles que a defendem radicalmente, até porque – como todos sabemos - os grandes pensadores que a humanidade já viu nascer foram exímios questionadores que usavam a arte da dúvida e da crítica para ampliar o mundo das idéias e dos ideais.
“Infelizmente, num mundo tão rápido e ansioso, a educação tem desprezado a ferramenta da dúvida e da crítica, que são a agulha e a linha que tecem a inteligência. Vale a quantidade de informação, não a qualidade. Noventa por cento das informações são inúteis, nunca serão utilizadas e sequer recordadas. Nada é tão perigoso para aprisionar a inteligência do que aceitar passivamente as informações”, alerta-nos o cientista.
Como preconiza Edgar Morin quem dera a educação moderna ensinasse menos matemática, física, química, biologia e mais a arte de pensar... O mundo seria menos engessado e os nossos alunos cultivariam uma das nobilíssimas características da inteligência: pensar, pensar bem! Cury chama a atenção dos professores sobre a importância de gerarmos a consciência crítica em nossos alunos. Se por exemplo, um professor de História ensinar sobre escravidão, terrorismo, nazismo, guerras, fornecendo apenas informações, sem teatralizar suas aulas e fazer com que os alunos se coloquem no lugar dos que sofreram, esse tipo de aula pode ser lesiva, no seu entender, pois leva à insensibilidade diante das atrocidades humanas. Se por outro lado enfocarmos com responsabilidade e seriedade qualquer tema, poderemos começar a sonhar com uma humanidade mais fraterna, solidária, inclusiva, gentil e unida. “Sempre fomos mais iguais do que imaginamos nos bastidores de nossas mentes.[...] ...os sonhos, por serem verdadeiros projetos de vida, resgatam nosso prazer de viver e nosso sentido de vida, que representam a felicidade essencial que todos procuramos.”Se gostaram das idéias do cientista, procure-as na íntegra, lendo seus livros.