sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Por trás de toda vítima existe uma pessoa manipuladora que se torna queixosa para poder controlar tudo e todos




Gladis Maia

A vítima é uma das pessoas mais desagradáveis que temos que lidar em nossas vidas, pois por estar centrada no seu papel de vítima, ela não respeita nada, nem a si nem a ninguém.
Irineu Deliberalli, in Nossa Criança Interior.


Como dizia um saudoso professor de Física, Dalton Gonçalves, “a criança é um gênio até os 7 anos!” Depois disso, pais, professores, sistema de crenças, ideologias reinantes e o caldo da cultura vigente passam a formar o seu personagem, acabando de vez com a espontaneidade. Em cada um de nós há uma pequena, uma média, ou uma grande vítima, afirma Deloberalli. Esta vítima que aí dentro permanece, está relacionada a algum momento de nosso desenvolvimento emocional, no aprendizado dos nossos sete anos iniciais, onde formamos a estrutura de nossa personalidade. Ou faltou amparo, amor, apoio... ou nos deram demais, em excesso! Ambos os comportamentos provocam desequilíbrios que afetam diretamente nossas atitudes humanas.

O autor aconselha que caso encontremos nosso papel de vítima em nossas Crianças Internas, devemos conversar com este papel como se fosse uma pessoa que está dentro de nós. Há necessidade de criarmos espaço para esta queixa sair de lá. Devemos escutá-la, analisá-la e ampará-la.Se déssemos a proteção que ela precisa, certamente ela não estaria buscando fora de si, no outro, uma maneira de ser reconhecida e aceita. Toda Criança Interior precisa de amparo. “Lembre-se que sua Criança Interior é um problema seu, apenas seu, e não do outro e cabe apenas a você nutri-la e torná-la saudável e feliz”, afirma ele.

Quem se queixa ou é vítima nunca poderá ser feliz. Pense, sinta e perceba que você ainda pode fazer muita coisa por si. O poder é seu e a escolha também! Observe que há quase que uma queixa interna de plantão em sua mente e, às vezes, em seu coração. Há uma estrutura psicológica que se queixa quase o tempo todo de diversas coisas, reivindica atenções, acha-se injustiçada pela vida ou mesmo por Deus. É crítica, egoísta, malcriada, orgulhosa, vaidosa, medrosa, submissa, arrogante, etc... Esta é nossa Criança Interior, machucada, magoada e também chamada de “ego negativo”.

Todo adulto tem, dentro de si, esta estrutura da psique que fica de plantão em nossas vidas querendo defender nossos direitos egoisticamente e, com esta intenção, às vezes mente, suborna, trapaceia, engana, faz manha, se desestrutura, chora e agride.

Quando começamos a estudar e tentar entender o funcionamento de nosso psiquismo, nos deparamos com uma quantidade enorme de itens a serem limpos da psique, onde a ansiedade aparece como cenário principal, escondendo como pano de fundo as sombras, os medos e as queixas de todas as naturezas possíveis, que nos mantém como se fôssemos eternas crianças, sem condições de conduzirmos com equilíbrio, sabedoria e amor os nossos próprios destinos.

Vivemos uma vida de personalidade e de personalismo e nos afastamos da vida da Alma, onde percebemos os enganos da vida humana. O grande afastamento de nossa generosidade, de nossa alegria, da paz e do próprio centramento em nós mesmos têm criado as dores que cada um enfrenta em sua lida diária.

A falta de um olhar mais refinado e coerente faz com que nem percebamos a quantidade de queixas internas que carregamos e alimentamos diariamente, colaborando para que muitos de nossos semelhantes vivam verdadeiros papéis de vítimas, sempre acreditando que “alguém” é seu algoz, lhe prejudicando constantemente, atribuindo assim ao outro a condição de ser o responsável por sua infelicidade ou por seu destino.

Esta estrutura da vítima - ou do coitadinho de mim - está atrelada à nossa Criança Interior que provavelmente copiou este modelo de algum adulto que nos educou e nos passou conceitos de vida e de sociedade e, hoje, quase sem perceber, repetimos este padrão; e em muitas ocasiões não somos capazes de tomar atitudes de defesa pelos nossos próprios direitos, pois ser a vítima é um papel que acaba sendo gratificante, principalmente se a pessoa aprendeu que a melhor maneira de ser reconhecido é pelo sofrimento, pela dor, pela desgraça, para que o outro - qualquer que seja este outro - tenha muito dó de si e de suas desgraças pessoais.

Com freqüência, estamos diante de pessoas que reclamam do trabalho, do namoro ou casamento, do pai ou da mãe, e precisam se queixar, precisam ter este espaço para que alguém as escute; mas, quando lhes é sugerido alguma atitude para mudar o padrão de queixa ou mesmo a solução do problema, tomando alguma atitude que possa transformar a situação reinante, normalmente elas mudam de assunto, ou já têm um arsenal de desculpas prontas, justificando o porquê de não poderem tomar atitudes novas, pois segundo suas justificativas, qualquer atitude de mudança, ou não daria certo ou prejudicaria mais ainda a situação do momento.

A vítima, o “coitadinho de mim”, não tem saída, ou não quer uma saída. A solução encontrada é continuar sendo sempre esta pessoa que reclama. Algumas quase nem se queixam exteriormente, apenas comentam com muita fidalguia e prazer como enfrentam suas dores, como se fossem verdadeiros heróis ou heroínas, aceitando o sofrimento como um fator natural da vida e não admitindo nenhuma atitude de mudança, pois se esta ocorrer o que esta pessoa fará sem o papel de vítima no dia seguinte? Eu porém vos digo: não sejais vítima, em situação alguma, nem por si mesmo(a), nem por ninguém!

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