domingo, 6 de janeiro de 2008

Aos 12 anos uma criança já assistiu em torno de 8 mil assassinatos na TV



Gladis Maia


A violência compensa, parece dizer a mídia [...]. As crianças deveriam aprender na escola a lidar com a violência da mídia e a refletir sobre ela porque, muitas vezes, elas vêem a realidade como um espelho na televisão.
Regina Zappa, in J.B. 31/05/98.


Uma parcela significativa de jovens – de todas as classes sociais e níveis culturais – tem surpreendido a humanidade, em diversas partes do mundo, com seu alto nível de agressividade e violência. Especialmente quando se trata de filhos da classe alta e, mais ainda, quando a violência é praticada contra um membro da própria família ou gratuita, atingindo inocentes, sejam eles crianças em salas de aula ou mendigos dormindo nas ruas.
Geralmente – para que o debate não se estenda às salas de aulas, à mídia, às famílias e à sociedade como um todo – simplifica-se o problema através de meia dúzia de palavras proferidas por alguns especialistas, tais quais policiais e psiquiatras, que atribuem estes comportamentos doentios ao uso de drogas.
As pesquisas estão aí indicando que, geração após geração, em todas as épocas - muitos jovens fazem uma incursão – exclusiva, moderada, média ou profunda – pelo mundo dos entorpecentes. Mudam as espécies e gêneros, tornam-se liberados ou não, dependendo da cultura, mas o mundo continua a produzir jovens que: ou abominam ou sentem-se atraídos pelo proibido. E, não é novidade para ninguém que a maioria deles, que utiliza este expediente deflagrador de violência, lícita ou ilicitamente, não sai por aí esfaqueando ou dando tiros em pessoas, com alvo premeditado ou a esmo.
À luz da Psicologia, os jovens que cometem estes delitos bárbaros, e outros mais leves, são portadores de transtorno de personalidade anti-social. A Psiquiatria nos diz ainda que estes sociopatas não são doentes mentais, até porque não há remédio, terapia e perspectiva de cura para eles.
Mais triste é que a medicina só aponte tardiamente o diagnóstico, sempre após a consecução de um crime... Mas, ninguém nasce com este desvio de personalidade - ou caráter, como querem algumas teorias – mesmo porque a personalidade é formada ao longo do percurso da vida do sujeito. É de pequenino que se torce o pepino, apregoa a sabedoria popular, por vezes mais sábia e sempre mais experiente do que a livresca.
Sucintamente podemos dizer que a personalidade é a organização relativamente estável das disposições motivacionais de uma pessoa, que se formam pela interação entre seus impulsos biológicos e o ambiente social e físico. Reúne atributos cognitivos e físicos, mas refere-se geralmente a traços afetivos, sentimentos, atitudes, complexos mecanismos inconscientes, interesses e ideais que determinam comportamentos e pensamentos característicos - ou distintivos - do indivíduo.
Partindo destas premissas, fica evidente que temos, enquanto pais e professores, muita responsabilidade na formação da personalidade das crianças. Quantos já não ouviram, leram ou estudaram sobre a falta de limites como promovedora de desvios de conduta e de mau caráter ?
Outra grande aliada na educação é a TV, que passa a maior parte do dia na companhia de muitas de nossas crianças. Esta exposição demasiada e indiscriminada à influência da TV pode causar, entre outras seqüelas, o amadurecimento precoce por causa da banalização da violência e da absorção imediata do universo de informações que chegam embaladas de formas diversas, em programas variados, num cardápio de assuntos não tão múltiplos, recheados principalmente de sexo e violência.
O mau cheiro da violência que exala da TV pode nos atingir - e de verdade - especialmente quando se é jovem. São imagens que passam a interferir na construção da personalidade, do caráter e na maneira do público infantil se ver e entender o mundo à sua volta. Necessitados de modelos para imitar eles os têm a fartar na telinha sedutora.
Enquanto as leis que regem as concessões das emissoras de televisão continuarem dando o direito - à meia dúzia de iluminados - de escolher o que deve ir ao ar, pelo único critério da audiência, sem que haja um Conselho dos MCM , que represente um consenso entre estudiosos e a população, que estabeleça o que é saudável, o que é cultural, o que é educativo - entre outros atributos - para ser veiculado como programação, reinará o império da baixaria, da degradação, da violência, da grosseria, do grotesco, da sexualidade reduzida à pornografia, entre outros malefícios visuais e auditivos.
É preciso – não já sem tempo e mais do que nunca - que a escola tome a si a responsabilidade de educar a criança para o meio televisivo, já que os pais, em geral, não têm conseguido e que os intelectuais brasileiros estão muito preocupados em não interferir na briga entre Governo e concessionários, com medo de serem taxados de ressuscitadores da censura.
Embora no artigo 76 do Estatuto da Criança e do Adolescente reze que “As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário recomendado para o público infantil e juvenil, programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas”, todos sabemos que isto não passa de balela.
Mesmo porque alguns programas ditos infantis deixam muito a desejar. E também porque todos sabemos que quem decide o que é um programa para criança – salvo honrosas exceções, parabéns aos pais responsáveis – são elas próprias. As dez atrações mais vistas por elas e pelos adolescentes são todas destinadas aos adultos. As crianças assistem praticamente a tudo e - de alguma forma - estão elaborando o que assistem.
Uma sociedade não pode ficar esperando que o bom senso inspire os diretores de TV que estão mais preocupados é em vender, através da publicidade que os sustenta, nem que para isto auxiliem na ‘formação’ de bandidos e imbecilizem a nação. Os meios de comunicação de massa já são o 4º poder, não há dúvida. Através deles podemos fazer a guerra ou a paz. As sociedades são dirigidas pela comunicação de massa que tiverem... Acordem!

Nenhum comentário: