segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Cuidem bem das crianças para não cercearem sua criatividade tão necessária à toda a sua vida


Ob.: a foto é de Lucas, que encontra-se desaparecido.
Notícias podem ser dadas pelo meu e-mail.

Gladis Maia


É através da percepção criativa, mais do qualquer outra coisa, que o indivíduo sente que a vida é digna de ser vivida. Winnicot in O Brincar e a realidade.

O colapso dos códigos e padrões tradicionais de valor, moral e ético, oferece algumas promessas de maior prazer e alegria de viver, mas também apresenta sérios perigos. Na onda de modismos, as pessoas confusas e com personalidades fracas, tendem a adotar idéias populares que encerrem soluções, acreditando piamente que a validade da idéia repousa na sua popularidade. Como a popularidade é amiúde determinada pelos veículos de comunicação de massa, se opõe ao conceito de criatividade, que implica em soluções individuais para um mesmo problema. A idéia de criatividade, porém, não pode se perder e passar a referir-se – como querem muitos dos modernos especialistas em marketing e matérias congêneres – apenas à criação bem sucedida ou aclamada. externa.
O que significa ser criativo? Ser criativo é ser imaginativo, mas nem todo ato imaginativo representa uma atividade criativa. Os devaneios, as fantasias, e as ilusões que inundam a mente e ocupam o pensamento de muitos, não são expressões criativas. São apenas idéias que, em não podendo ser concretizadas, deixam a pessoa que a gerou em conflito, num estado de grande tensão.
A imaginação criativa passa necessariamente por uma avaliação e aceitação da realidade. Não procura transformá-la, para moldar-se às próprias ilusões. A o contrário, a imaginação criativa busca aprofundar a compreensão da realidade para enriquecer a experiência que se tem dela e nela. O impulso criativo começa com a imaginação da criança e termina com a satisfação das necessidades do adulto.
Por outro lado, viver de maneira criativa ou viver de maneira não criativa, constituem alternativas que podem ser nitidamente contrastadas. Enquanto a submissão traz consigo um sentido de inutilidade e está associada à idéia de que nada importa e de que não vale a pena viver; a pessoa criativa olha o mundo com uma visão nova. Não tenta resolver novos problemas com antigas soluções. Parte do princípio de que desconhece as respostas. Aborda a vida com olhos abertos, curiosos, e com a imaginação de uma criança, ainda não estruturada na sua maneira de pensar e de ser.
Da mesma forma, o indivíduo, cuja personalidade não se encontra rigidamente implantada, acha-se livre também para usar a imaginação ao confrontar-se com circunstâncias em constantes mutações na vida. O ato criativo, concentra dimensões de experiências anteriormente não relacionadas e capacita o homem a atingir um nível mental mais alto. Constitui, por assim dizer, a derrota do hábito pela originalidade, como refere Arthur Koestler, in o “Ato Criativo”.
O autor explica que embora o princípio de que a criatividade constitua-se na fusão de aspectos opostos, ela não se limita à expressão criativa na Arte ou nas Ciências, mas se aplica a todas as formas de expressão criativa. A criatividade relaciona-se com a abordagem do indivíduo à realidade externa, supondo-se uma capacidade cerebral razoável, uma inteligência suficiente para capacitar o indivíduo a tornar-se uma pessoa ativa e a tomar parte na vida da comunidade, onde tudo o que acontece é criativo, exceto na medida em que algum indivíduo seja doente, ou foi prejudicado por fatores ambientais que sufocaram seus processos criativos e, nestes casos, pode desaparecer-lhes o sentimento de que a vida é real ou significativa.
O impulso criativo, portanto, é algo que pode ser considerado como uma coisa em si, algo naturalmente necessário a um artista na produção de sua obra de arte, mas também algo que se faz presente quando qualquer pessoa – bebê, criança, adolescente, adulto ou velho – se inclina de maneira saudável para algo ou realiza deliberadamente alguma coisa.
Infelizmente tomamos seguidamente conhecimento de indivíduos dominados, mesmo nos seus lares, ou prisioneiros, ou mortos em campos de concentração ou vítimas de perseguição de um regime político cruel, e imaginamos logo que estas pessoas não permanecem mais criativas pela lavagem cerebral pela qual passam. Mas muitas pessoas conseguem subsistir às atrocidades. São aquelas que sofrem!
Infelizmente nos parece, a princípio, que a maioria das pessoas que existem nestas comunidades desumanas abandonam a esperança, deixando de sofrer e perdendo a característica que as tornava humanas até então. Esse mal que chega afetando a percepção do mundo de forma criativa, constitui, no mínimo, um dos males da civilização: a destruição da criatividade humana, pela ação de fatores ambientais.
É necessário, porém, que acreditemos na indestrutibilidade total do ser humano. Na incapacidade do homem morrer para o viver criativo, pois mesmo no caso mais extremo, de submissão, e no estabelecimento de uma falsa personalidade, oculta em alguma parte, deve existir, uma vida secreta satisfatória, pela sua qualidade criativa ou original nesse ser humano. Quem acredita em alma, sabe que no seu âmago encontra-se lá esta indestrutibilidade!
Em casos graves, porém, nesta vida de aparências, tudo o que importa e é real, pessoal, original e criativo permanece oculto e não manifesto. Qualquer sinal de existência é logrado... Nesse caso extremo, o indivíduo não se importa, de fato de viver ou morrer. O suicídio pouca importância tem quando tal estado de coisas está poderosamente organizado num indivíduo, e nem mesmo a própria pessoa se dá conta de que poderia ter sido ou do que foi perdido ou do que está lhe faltando.
O que a Psicologia descobriu, foi que os indivíduos ou vivem criativamente ou não podem vivê-lo e que esta variável nos seres humanos está diretamente relacionada à quantidade das provisões ambientais no começo do desenvolvimento, nas fases primitivas da experiência de vida de cada bebê. Por isto a importância de cuidar, com muito afeto e carinho, dos bebês, em casa e nas Escolas de Educação Infantil, pois ali, está a base da formação/formatação dos futuros adultos criativos e felizes, ou mortos-vivos!

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