segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Por que dedicar-se à Educação quando o professor não é valorizado nem mesmo socialmente?



Gladis Maia

A terra será o que são os seus homens. Provérbio Asteca.

Para o verdadeiro mestre, o ensino não é uma técnica, é uma forma de vida! A menos que se tenha um desejo ardente de ensinar, não se deve ser professor! É de suprema importância descobrir se possuímos este dom - ou não – por que, do contrário, vamos apenas zanzar à deriva nesta profissão como se ela constituísse apenas um meio, como outro qualquer, de ganhar a vida.O mestre de verdade, legítimo, é aquele que adoece de tristeza sem seus alunos, como os artistas que preferem morrer de fome antes de abandonar sua arte.

A verdadeira Educação começa com o educador, que deve conhecer a si mesmo e estar livre de padrões de pensamento pré-estabelecidos, porque, caso contrário, não conseguirá ensinar. Se o professor não recebeu uma boa e ampla educação, apenas poderá trabalhar com o conhecimento mecânico pelo qual foi educado. O problema maior nesta relação de trabalho, não está no aluno, mas nos pais e nos mestres. Um deles, bastante sério, é educar o educador!

E os pais? A maioria deles, infelizmente, ao se concentrar em seus próprios problemas, passa aos professores a responsabilidade e o bem estar de seus filhos, como se a tarefa fosse concernente à escola e só a ela. Muitos pais não estão interessados na atual deterioração da moral e da ética. Estão mesmo é preocupados com a possibilidade de seus filhos virem a encontrar, o mais breve possível, uma ótima colocação no mercado.

E, por isso, é importante que o educador se ocupe também de educar a esses pais. Deve falar-lhes, explicar-lhes que o caos mundial é reflexo da confusão individual de cada um de nós. Deve esclarecer-lhes, que o progresso científico, em si, não pode trair/atrair a troca radical de valores existentes ao longo dos séculos. Deve abrir-lhes a mente, para que compreendam que a Educação nunca foi - e nunca será - apenas isto: colocação no mercado de trabalho.

A verdadeira educação é uma tarefa mútua, que exige paciência, consideração e afeto. Condicionar o aluno a aceitar o ambiente prevalecente no mundo não pode conduzir ao desenvolvimento da inteligência. Estariam pais e professores amando às crianças e jovens quando ao educá-los fomentam a animosidade, através da competição e da ambição? Muitos pais induzem seus filhos por caminhos que conduzem aos conflitos e a dor, educando-os mal, com palavras e com o próprio exemplo de sua conduta.

Vivemos num tempo de total comunicação interplanetária em que, até mesmo, o nacionalismo conduz ao conflito.Vivemos num tempo em que, cada vez mais, em nome de religiões e ideologias, chegamos às guerras. E essa maneira alucinante forma de ver e viver a vida exige, cada vez mais amiúde, que os pais cuidem para que seus filhos não se fanatizem, em nome de dogma algum, por que as segregações têm conduzido o homem a uma infinidade de antagonismos, que não trazem nenhum benefício e só fazem crescer a luta armamentista.

Muitos pais querem que seus filhos sejam poderosos, que tenham maiores e melhores condições materiais, que tenham êxito na vida e não amor em seus corações, sem se darem conta, acredito, de que o culto ao êxito estimula o conflito e a miséria e de que amar aos filhos significa estar em completa comunicação com eles, se esforçando para que eles recebam uma educação que os torne sim: sensíveis, inteligentes e integrados. Integrados, e nunca adaptados a esse mundo do vale tudo, da Lei de Gerson. Para quem não lembra, é aquela que prega que “... a hora é de levar vantagem em tudo...”

A primeira coisa que um bom professor deve se perguntar é se está educando seus alunos para tornarem-se apenas peças de engrenagem desse liberalismo avassalador ou se tem tentado, pelo menos, despertar neles seres humanos integrados, criadores, que ameaçam aos falsos valores circundantes. A inteligência não tem nada a ver com passar em exames! A inteligência é a percepção espontânea que faz um homem forte e livre!

Infelizmente, todos somos vítimas de alguma classe de medo. E, como a bondade, o medo é contagioso... Mesmo que os temores do educador sejam ocultos, ele comunicará isto aos seus alunos e, mais dia menos dia, o contágio será visível. Não cabe a um bom educador - em nome da autoridade que é investido - ser autoritário. Da mesma forma ser frio, distante do aluno. Também é um erro deixar que se crie uma dependência afetiva entre ele e os alunos. Isto é prejudicial para ambos! Se pensamos com seriedade, em sermos verdadeiros mestres, não nos sentiremos satisfeitos com um dado sistema ou linha educativa, mas sim com todas, porque sabemos que nenhum método contempla o indivíduo em todas as suas miríades de facetas. Nenhum método sozinho prega a liberdade e a integralidade do indivíduo.

Se ensinar é nossa vocação, e se percebemos a grande importância da verdadeira educação, não poderemos evitar ser verdadeiros educadores. Mesmo não seguindo nenhum método na íntegra, o ato em si de compreendermos que a verdadeira educação é indispensável, já estaremos gerando a paz e a felicidade para o homem em geral, mediante uma boa educação para todos os aprendizes.

Se os professores tratarem de seus alunos com desleixo, preocupados apenas com o salário ao final do mês, numa relação onde apenas dão instruções, colocando-se numa posição superior, conseguirão mesmo é fortalecer o temor, com essa relação desigual... E então estaremos perdidos, porque precisamos é educar e orientar nossos alunos para a liberdade, terreno no qual sempre frutificará a generosidade, a afabilidade, a bondade e o amor.

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