segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os benefícios da religião sobre a saúde têm levado cientistas a estudarem o assunto



Gladis Maia

Os rituais religiosos públicos e privados são métodos poderosos para manter a saúde mental e para prevenir o início ou a progressão de distúrbios psicológicos. Ajudam a pessoa a enfrentar o terror, a ansiedade, o medo, a culpa, a raiva, a frustração, a incerteza, o trauma e a alienação, a lidar com emoções e ameaças universais. Francisco Lotufo Neto, psiquiatra e professor da USP.

Embora historicamente o sentimento religioso venha sendo benéfico à saúde mental, por fornecer conhecimento fora do ordinário, mais e mais pessoas abandonam a religião organizada assim que ela perde a sua utilidade como instrumento explicativo. As crenças religiosas podem gerar paz, autoconfiança e sensação de propósito na vida, ou o oposto: culpa, depressão e dúvidas.

O efeito benéfico pode advir do fato do indivíduo perdoar a si mesmo e aos outros, desenvolver auto-conceitos emocionais mais saudáveis e dar-se de modo não egoísta..
O Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP possui um núcleo de estudos sobre o relacionamento entre psiquiatria e religião, que além de realizar estudos científicos a respeito do assunto - reconhecendo o imenso potencial terapêutico das comunidades religiosas e da religião madura e saudável – dá assessoria às igrejas, comunidades ou sinagogas que desenvolvem projetos que envolvam saúde mental.

Vários estudos desse Núcleo dão conta de que são diversos os mecanismos por meio dos quais a religião pode influenciar a saúde física e mental das pessoas. Um exemplo da aplicação de princípios semelhantes ou claramente religiosos à prática médica é o Programa de Thoresen e colaboradores. Ele é útil para ensinar pessoas com doença coronariana a modificar seu comportamento.

O Programa - que ao ser aplicado reduz muito a mortalidade dos seus participantes – propõe às pessoas que: aprendam a dar e a receber amor diariamente; a ver o mundo não como um lugar hostil que precisa ser combatido, mas como um lugar que pode ser amoroso, cooperativo, pacífico e feliz. Induz à: prática da oração (parte que os pacientes costumam achar a mais valiosa do programa); ao desenvolvimento da humildade e da paciência (por exemplo, entrar na fila mais comprida e lenta do supermercado, aprendendo a tolerar e ter prazer na espera); modelar o comportamento de amar e aceitar (treino em sorrir); deixar de brincar de deus (aprender a deixar de controlar o ambiente e a aceitar suas limitações pessoais).

Evidências psiquiátricas têm demonstrado que os rituais religiosos são invariavelmente associados ao benefício. São métodos poderosos para manter a saúde mental e prevenir o início ou a progressão de distúrbios psicológicos, por que ajudam a pessoa a enfrentar o terror, a ansiedade, o medo, a culpa, a raiva, a frustração, a incerteza, o trauma e a alienação. Auxiliam a lidar com emoções e ameaças universais, oferecendo um mecanismo para delas se distanciar. Reduzem a tensão pessoal e do grupo, a agressividade, moderam a solidão, a depressão, a anomia (ausência de leis), a sensação de não ter saída e a inferioridade.
A oração tem sido uma das formas mais antigas de intervenção terapêutica e continua sendo freqüentemente utilizada, inclusive pelos médicos. São muitos os que rezam pelos seus pacientes. Alguns estudos, envolvendo médicos, sobre o poder da oração sobre a doença, demonstram que, a maioria deles percebe o fato de não orar pelos pacientes como o mesmo que evitar a administração de uma droga ou um procedimento cirúrgico eficaz.

Bênçãos, passes, imposição de mãos, unção dos enfermos são práticas presentes em diversas religiões desde a Antigüidade. São formas, atos ou palavras para comunicar poder às pessoas em nome de Deus, ou uma expressão de confiança entre elas. Fazem parte do trabalho pastoral e a intenção é transmitir a promessa de força que será encontrada, não em quem a expressa, mas em Deus, em nome de quem as palavras estão sendo ditas.
A benzedura é uma das práticas mais presentes em nossa medicina folclórica. Pesquisas indicam que os adeptos do ato de benzer - ou se benzer - é tido como uma súplica, imploração, pedido insistente aos deuses para que eles se tornem mais presentes e tragam boas novas e benefícios.

A religião pode ser utilizada como um verdadeiro idioma para expressar o sofrimento em momentos de desorganização social e insatisfação, por meio de comportamentos que a psiquiatria pode interpretar como sendo dissociativos.
A Meditação utilizada com maior intensidade no Oriente é um
dos principais objetivos de muitos sistemas de prática espiritual, para propiciar a vivência de paz interior, no seu sentido mais amplo e profundo. A literatura sobre os benefícios da meditação é muito extensa e seus benefícios já vem sendo reconhecidos praticamente por todos.

A Confissão reduz a raiva, aumenta a simpatia e diminui as repercussões negativas do ato e a culpa, sendo estimulante e tendo um valor e um efeito positivo no enfrentamento dos problemas com sucesso, no ajustamento e na evolução terapêutica.
A frase: "É somente com ajuda da confissão que sou capaz de me atirar nos braços da humanidade, livre finalmente do fardo do exílio moral," dita por Jung, demonstra a importância da confissão para a saúde, por que minimiza a raiva, aumenta a simpatia e reduz as repercussões negativas do ato e da culpa, tendo um valor de estimulo e um efeito positivo no enfrentamento dos problemas com sucesso, no ajustamento e na evolução terapêutica. A confissão – seja ela para o padre ou direto para Deus - leva ao perdão, sublime e benéfico, altamente energético, sem sombra de dúvidas, tanto para quem recebe, como para quem perdoa.

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