terça-feira, 25 de setembro de 2007

A honradez deve ser ensinada pelos pais e professores da Educação Infantil: ‘é de pequenino que se torce o pepino’.

Gladis Maia

Sonho que se sonha só/ Pode ser pura ilusão./Sonho que se sonha juntos/ É sinal de solução /Então vamos sonhar, companheiros/Sonhar em mutirão ... Zé Vicente.

É comum, em nossos dias, ouvirmos reclamações por parte de pessoas que se sentEm desrespeitadas em seus direitos. É o médico que marca uma hora com o paciente e o deixa esperando por longo tempo, sem dar satisfação; o advogado que assume uma causa e depois não lhe dá o encaminhamento necessário, deixando o cliente em situação difícil; o contador que se compromete perante a empresa em providenciar todos os documentos exigidos por lei e, passados alguns meses, a empresa é autuada por irregularidades que este diz desconhecer; o engenheiro que toma a responsabilidade de uma obra, que mais tarde começa a ruir, sem que este assuma a parte que lhe diz respeito; é o político que promete mundos e fundos e, depois de eleito, ignora a palavra empenhada juntos aos seus eleitores... Quem não conhece a temática? Esses e outros tantos casos acontecem com freqüência nos dias de hoje. É natural que as pessoas envolvidas em tais situações, exponham a sua indignação junto à sociedade, e reclamem os seus direitos perante a Justiça. Todavia, vale a pena refletirmos um pouco sobre a origem dessa falta de honradez e de cidadania.
Temos de convir que todos passaram pela infância e, em tese, podemos dizer que não receberam as primeiras lições de honra como deveriam. Foram certamente os pais que falharam e posteriormente os professores e atendentes das antigas creches, maternais e jardins, hoje Escolas de Educação Infantil. E aí encontramos-nos novamente diante de um círculo vicioso, pois quem não recebeu as tais lições em tenra infância, por certo também não saberá ministrá-las aos pequenos. É uma questão de caráter, que, conforme Freud, estabelece-se bem cedo em todos nós, na primeira infância. Quando os filhos são pequenos, não recebem a devida atenção às suas más inclinações ou, o que é pior, são incentivamos, muitas vezes, com o próprio exemplo dos pais, irmãos mais velhos, domésticas e os já referidos profissionais da Educação.
Se as crianças desrespeitam os horários estabelecidos, não costumamos cobrar delas uma mudança de comportamento... Se prometem alguma coisa e não cumprem, não lhes falamos sobre a importância da palavra de honra... Assim, a palavra empenhada não é cumprida, e nós não fazemos nada para que seja. Ademais, há pais que são os próprios exemplos de desonra, não? Prometem e não cumprem! Dizem que vão fazer e não fazem! Falam, mas a sua palavra não tem o peso que deveria! É importante que pensemos a respeito das causas antes de reclamar dos efeitos! É imprescindível que passemos aos filhos e alunos lições de honradez! Ensinar aos meninos que as irmãs dos outros devem ser respeitadas tanto quando suas próprias irmãs. Que a palavra sempre deve ser honrada por aquele que a empenha. Ensinar o respeito aos semelhantes, não os fazendo esperar horas e horas para só depois atender como se estivéssemos fazendo um grande favor. Enfim, ensinar-lhes a fazer aos outros o que gostariam que os outros lhes fizessem, como reza a Ética.
Em geral se considera que existe dentro de cada indivíduo um código moral – em grande parte proposto pelo meio social e familiar – cuja transgressão determina uma sensação desagradável de tristeza e vergonha que costumamos chamar de culpa. A experiência nos tem obrigado a ver as coisas de uma maneira bastante diversa; em primeiro lugar, a grande maioria das pessoas não se comporta de um modo tido como digno por seu grupo, porque possui internamente um conjunto de regras que deverão ser seguidas; estas pessoas se comportam respeitando as regras basicamente por medo das represálias terrestres ou divinas.
O senso ético advém da pessoa ser capaz de se colocar no lugar das outras e estabelecer limites à sua conduta com a finalidade de não ser o causador de dramas para terceiros. A maioria das pessoas interrompe desde muito cedo o processo de sair de si mesma e também de tentar enxergar o mundo pelos olhos dos outros. Isto, evidentemente não é assim somente por que a pessoa deseja ser assim, mas por causa de uma grande fragilidade interna que a torna permanentemente ocupada consigo mesma e com seus interesses, são as chamadas pessoas egoístas, doentes, portanto.O egoísta não desenvolve um verdadeiro senso moral, se comporta sempre com o objetivo de tirar melhor proveito para si em cada situação, o que muitas vezes chegará a coincidir com a conduta ética.
Por outro lado, não há efeito sem causa. Todo efeito negativo, tem uma causa igualmente negativa, por essa razão, antes de reclamar dos efeitos devemos pensar se não estamos contribuindo com as causas, direta ou indiretamente. Basta olhar à nossa volta para nos entristecermos, para não dizer coisa pior. A política está desacreditada, os nossos direitos são desrespeitados a todo o momento, os cidadãos não sabem onde termina o limite do seu direito e onde começa o dever do Estado, e por isso, muitas vezes, fazem pleitos e críticas sem consistência. Por tudo isso, quero convidá-los hoje a meditarem a respeito e a se conscientizar e a aceitar o poder da nossa responsabilidade sobre tudo que anda acontecendo em termos de falta de educação. Aceitar que a responsabilidade para mudar o caos que está ocorrendo no nosso planeta não é do astral, nem dos governos, nem do outro, mas de cada um de nós. Vamos aceitar o desafio de transformar o caos interior, familiar e social, colaborando para harmonizar o externo e acreditar nos nossos Dever e Poder. Pensem nisso!

Nenhum comentário: