domingo, 23 de setembro de 2007

A raiva é a força motriz existente por detrás da expressão do egoísmo, gerando sempre desarmonia e desequilíbrio.







Gladis Maia

A raiva é como um flash de fogo. Injeta, instantaneamente, no corpo, nas feições e, particularmente, nas mãos, nos olhos e nas mandíbulas, uma espécie de insistência protuberante.Zulma Reyo, in Na ausência de amor – O Processo da Quintessência.

No Aurélio, raiva significa: impulso violento contra o que nos ofende, fere ou indigna; ira, fúria, furor, zanga, ímpeto, agitação. V. cólera: ódio, ira, rancor: grande aversão; horror. Significados à parte, seja como irritação, impaciência, desdém, indignação ou como fúria e violência escancarada, a raiva só traz prejuízos, tanto ao seu portador, como ao seu destinatário seja ele uma pessoa ou objeto. Ambos desarmonizados, em pleno desequilíbrio – fatores essenciais para o atrito. Facilmente instala-se a discussão, agressões e a decadência dos verdadeiros valores.
A raiva tende a ferver! Se fizéssemos uma comparação desta emoção com as expressões variadas da água, veríamos que quando este sentimento nos domina é como se um vapor estivesse saindo por nossos ouvidos, narinas e boca. Sentimo-nos como verdadeiros dragões! Sem contar com os pensamentos reincidentes a cada espaço de tempo que passa ficando menor o intervalo de tempo, vindo aos turbilhões, reforçando e aumentando o desagradável sentimento.
Há grande urgência na raiva, assim como em todos os vícios. Compulsão! Não somos mais nossos mestres! Nossas ações seguem e demonstram ou uma rigidez extrema - para conter e engarrafar a raiva borbulhante - ou uma evidente liberação do tipo ataque de fúria sobre o objeto imaginado ou ambiente. A compulsão de dominar a cena está baseada na afirmação do indivíduo de que ninguém mais pode fazer o trabalho melhor do que ele (a). Pessoas precipitadamente zangadas dão “bons” políticos! Especialmente se seus interesses repousarem basicamente em si mesmos e ainda conseguirem fãs-clubes... São os fanáticos em relação às suas idéias, aos seus talentos, aos seus métodos! Advogados e negociadores também caem, mormente, nos ritmos da raiva enquanto ira.
Nas versões menos compactadas da ira, mais light digamos, podemos observar que sua energia nos traz um sentimento de estarmos vivos e a causa de lutarmos em nosso próprio interesse nos fornece uma experiência distorcida de significados, muitas vezes. O energizador mais freqüente da raiva, que é disparado automaticamente, é a auto-recriminação. Depois dela vem a frustração e a insatisfação crescentes. A irritação continua a se impactar em formações semelhantes a feixes bem apertados de pura TNT. Olhamos ao redor, surgem as comparações. A compulsão por nos expressarmos - não importando aquilo que queremos ou não queremos dizer- resulta sempre no dedo em riste, acusador e indicador do julgamento já pré-estabelecido!
Pessoas irrefletidamente iradas podem tornar-se grandes pregadores! O comportamento de uma pessoa irada fica polarizado entre colocar como exemplo aquilo que considera apropriado e a demonstração de como os outros lhe parecem incompetentes e tolos. A pessoa que se torna facilmente furiosa ou raivosa possui sempre uma forte rigidez mental ao redor de fatos e crenças, que fazem com que a sua raiva contida tenda a se acumular para entrar em ebulição posteriormente. Pensamentos raivosos são especialmente tensos! Para nos dissociarmos deles, temos de enfrentar, francamente, nossa necessidade subjacente de estarmos sempre certos.
Se você for especialmente inteligente, isso pode ser muito difícil. Você precisará trabalhar nisso durante um tempo, antes de tentar passar para um segundo estágio de aperfeiçoamento ou desenvolvimento espiritual. Reduzir as suas reações será de grande valor. Quando nos permitimos explorar nossos estados suaves ou mais fontes de raiva e suas expressões em nossas vidas diárias, com consciência centrada, começamos a reconhecer nossa própria capacidade de escolher nossos sentimentos e dirigi-los de modo a libertá-los da compulsão e, particularmente, dos efeitos ricocheteantes da agressão e outras formas de violência.
Geralmente nossos corpos se comunicam conosco antes de nossas cabeças sintonizarem o problema, dando-nos dicas que vão de sensações estranhas à psicossomatização de alergias, distúrbios intestinais, etc.
O ódio é uma forma extrema de raiva. Causa muito sofrimento e, mesmo quando, por conta deste sentimento nefasto, nenhuma ação é executada, sendo aparentemente controlada, uma pessoa que esteja enraivecida traz consigo um calafrio invisível. Quem quer que esteja por perto se contrai e se retrai tornando-se menos espontâneo e mais defensivo. Isso ocorre inconscientemente! Parece claramente uma resposta em nível celular à qualidade de energia que a raiva emite. Já quando ela não é contida e irrompe com violência, desnecessário comentar, pois o dano é demasiado evidente.
O que é ignorado, com freqüência, sobre os efeitos desastrosos da raiva, no entanto, é o dano que ela causa à própria pessoa que está experimentando o sentimento. Uma mente com raiva é uma mente em sofrimento: agitada, tensa, contraída, estreita. A qualidade da consciência muda, o julgamento e a prospecção racional deixam de existir! Todo o bom senso desaparece! A pessoa se sente inquieta e compelida. Nada é satisfatório! O sono é difícil, o corpo fica tenso, a noção do eu torna-se engrandecida, da mesma forma que a noção do outro. Há ainda um atributo esquisito e oculto na raiva: ela nos entretém. Viciados em raiva realmente se divertem! Forte sentimentos de justiçamento e de auto-justificação acompanham a raiva. Eles podem até assumir o comando da mente, mas subjacente ao prazer gerado por esses pensamentos encontra-se a dor de uma mente tão rigorosamente constrita que está fechada a qualquer espécie de enlace humano. As conseqüências são sempre sérias, por que a raiva é como um veneno na mente que acaba se propagando por todo nosso ser.Cuidado com a raiva, ela nos destrói bem antes do que a seu alvo!

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