sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O globo eletronicamente interligado precisa comprometer-se com todos

Gladis Maia

Para os homens da tribo, as palavras são como a água que deve passar de mão em mão, com o maior cuidado, para que nem uma gota se perca. David Riesman

Cada nova tecnologia é uma nova extensão do homem. Cada meio que surge é uma nova possibilidade de expressão para os seres humanos. A palavra - fonética e escrita - sacrificou o mundo de significados e a percepção. As culturas letradas somente dominaram as seqüências
lineares. O segredo da imprensa é a fragmentação da experiência em unidades uniformes. As diferenças entre a comunicação oral e a escrita são de ordem semântica, psicológica e sociológica.
Estas diferenças geram diferentes comportamentos e percepções. O olho do leitor, na busca de um significado após o outro, faz uma codificação linear do real. Já as novas linguagens eletrônicas exigem uma outra codificação, simultânea, que recupera - de uma certa forma - a percepção do homem pré-letrado. O livro isola, a palavra falada agrupa. O livro leva ao ponto de vista e a uma atitude crítica; e a palavra falada implica em uma participação emotiva. Como há uma tendência do ser humano a recordar melhor as coisas mais profundamente sentidas, as palavras recordadas na tradição oral são freqüentemente as mais carregadas de sensibilidade coletiva.
A transmissão oral de contos e lendas, anterior à Renascença, aplica-se ao ouvido. Foi a partir da invenção da Imprensa por Gutemberg que a matéria do conhecimento passa a ser aplicada à visão, num exercício linear. Nos dias de hoje, em plena era eletrônica, não só um ou outro
sentido – audição e visão - mas um processo de envolvimento múltiplo audiovisual definiria o relacionamento entre emissor e receptor, na apreensão das mensagens.
Segundo os estudiosos da Comunicação, o ouvido - órgão receptor por excelência na sociedades arcaicas e primitivas - ter-se-ia embotado pela mecânica tipográfica dos últimos 500 anos de história ocidental. Só muito recentemente, graças a presença do rádio e da TV, volta-se a estimular aquele sentido.
Depois de séculos de saturação de uma tecnologia ótico-linear, chega-se a um espaço cultural novo, ou novamente auditivo, criado pelos canais eletrônicos de comunicação – rádio, telefone, TV. Meios que envolvem o sujeito, integram-no em um campo de vivências e, por paradoxal que possa parecer, lhe conferem uma percepção tão rica quanto a do homem analfabeto ou primitivo.
Por meio das técnicas em mosaico - assim chama McLhuan aos processos de montagem simultânea de TV e dos meios que a imitam - unifica-se a linguagem do homem contemporâneo que, apesar das distâncias, está vivendo numa só aldeia global. A era eletrônica não seria, portanto, uma etapa na história da mecanização e da atomização, peculiares ao Homo Typographicus. Ao contrário, ela significa uma ruptura com ambas e a retomada de uma convivência orgânica, tribal.
McLuhan refere-se a era tribal, de tradição oral, como um período mais íntegro, menos fragmentado; era que as técnicas eletrônicas estariam começando a restaurar. Toda tecnologia obriga aos que contatam com ela a novos equilíbrios. A eletricidade envolve o indivíduo com toda a humanidade. O computador que traduz outras línguas anuncia o advento de uma condição pentecostal de compreensão e unidades universais. As línguas foram superadas por uma consciência cósmica geral.
O globo foi eletronicamente contraído e a consciência humana terá, para McLuhan aumentando a sua responsabilidade, seu compromisso com os outros. Aprecem, pois, como corolários de tecnologia, uma empatia entre os homens e uma aspiração pela totalidade. Este otimismo se patenteia em ‘Mutações em Educação’, livro que aborda o problema do estudante numa escola-planeta. O aprendizado seria uma exploração lúdica da realidade, semelhante à da criança, a do artista. A aula sem paredes seria ministrada pelos Meios de Comunicação de Massa.
Atentos pois professores: é hora, mais do que nunca, de encantar a garotada cujos ouvidos voltaram a funcionar em pleno vapor, com aulas alegres e muito sedutoras!

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