quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Para as crianças, Papai Noel representa a boa-vontade dos pais e a do mundo inteiro.

Gladis Maia
A verdadeira maravilha do Natal, além de seu significado religioso, é o milagre que acontece na mente da criança, que lhe permite transformar o tênue disfarce que esconde seu pai atrás da imagem de Papai Noel em uma promessa de um mundo bom e agradável. Bruno Bettelheim.

Qualquer que tenha sido no passado o significado dos rituais que vieram a compor nossa celebração do Natal, eles simbolizam nos dias de hoje, o maravilhoso nascimento de uma criança - de uma importância inominável - que trouxe consigo o nascimento de uma nova era, a nossa própria, dando um novo significado à vida de todos os homens de boa vontade. Os presentes que as crianças recebem no Natal são símbolos dos presentes dados pelos três reis magos; os fogos de artifício são símbolo de um novo sol que trará a luz, a alegria da liberdade e uma nova vida, uma esperança que as luzes da árvore de Natal também refletem.
O psicanalista Bruno Bettelheim, autor de Uma Vida para seu Filho,entre outras obras que tratam da psique, nos diz que pessoas que, quando crianças tiveram experiências infelizes no Natal tendem a sofrer por causa disso de graves depressões de aniversário - como ele denomina. Durante toda sua vida na época do Natal, mesmo que não queiram, elas sofrem muito, enquanto que aquelas que, em criança tiveram Natais felizes não ficam deprimidas mais tarde nessa época, mesmo que sua vida tenha se tornado solitária ou cheia de privações. As lembranças de datas festivas felizes continuam a ajudá-las a suportar as dificuldades posteriores.
Segundo Bettelheim, as crianças sofrem muito se são privadas dos poucos dias especiais que lhes são dedicados e perdem muito da sua alegria de viver se esses dias têm sua importância diminuída. Para a maioria delas, em nossa cultura, além das cerimônias de formatura e religiosas - tais como a 1ª comunhão – o dia das crianças, a Páscoa, os aniversários e o Natal continuam sendo os dias do ano genuinamente dedicados a elas. A troca de presentes como um símbolo ou prova de amor pode ocorrer em qualquer tempo e lugar e é, com toda a certeza, parte integrante do Natal.
O Natal como o dia em que o Salvador do mundo nasceu é um dia de abstinência a ser celebrado por todos, mas o gordo e alegre Papai Noel que coloca presentes sob a árvore de Natal é somente para as crianças. Eis a razão porque aqueles que podem acreditar em Papai Noel e desfrutar dessa crença à vontade, sentem o Natal, ao longo de toda a sua vida, como um momento de grande alegria pessoal, muito mais do que aqueles para quem se tratava principalmente de uma prática religiosa. E também são capazes mais tarde, enquanto pais, de fazer um Natal feliz para seus filhos, pelo fato de que o calor de sentimentos antigos ainda estar presente em seus corações.
Muitos pais desavisados querem, tão logo que a criança começa a crescer, desmascarar a existência do Papai Noel. Todas as festas adquirem seu significado mais profundo por meio de conotações mágicas! Se tirarmos da festa a magia que tem para a criança, ela perde muito de seu significado simbólico e inconsciente. E, com essa perda, a festa também se esvazia dos seus efeitos tranqüilizadores e benéficos que poderia ter pelo resto da vida de uma criança. A racionalidade prematura, como todas as outras experiências do gênero, deixa-nos pouco preparados para lidar com as excentricidades e vicissitudes da vida posterior.
As crianças pequenas só conseguem compreender conceitos abstratos sob formas concretas. Para elas, Papai Noel é o espírito de doação. Piaget deu um exemplo revelador de como se forma o conceito de realidade da criança e de quanto ele é diferente do dos adultos. Ele conta, em A Formação do Símbolo na Criança, que caminhando com seu filho pequeno no jardim atrás da casa perguntou-lhe onde estava o papai e que o menino apontando para a janela do seu gabinete,disse: “Lá em cima!” O garoto estava numa idade em que sua segurança dependia de saber que seu pai estava sempre ali, ao seu dispor, no gabinete. Se Piaget tivesse tentado convencer o filho, nesse estágio de desenvolvimento mental, de que seu pai não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo, ele não teria aumentado o entendimento da criança sobre a realidade, mas o teria levado a ficar confuso e inseguro a respeito dela e sobre tudo o que sabia.
Para as crianças pequenas, os pais fisicamente e o espírito dos pais podem ter existência independente e - longe de perturbar uma à outra - essas duas possibilidades são mutuamente enriquecedoras. Para a criança nessa idade as figuras importantes existem em muitos lugares ao mesmo tempo, não só sob a forma física como espiritual. Essa é a razão pela qual os pais acham difícil entender por que uma criança não é perturbada pelas muitas figuras de Papai Noel que aparecem em todos os lugares na época do Natal e que ela as adora, não importa quão vulgares possam nos parecer.
Para os adultos, os Papais Noéis de rua podem destruir toda a beleza e o mistério do Natal, mas para as crianças, são uma afirmação da realidade e da onipresença do mistério. A observação de Piaget sobre o filho, que começou – embora ainda não tenha completado esse desenvolvimento - a separar as idéias abstratas de seu invólucro físico, como separou a idéia do pai que estava trabalhando no gabinete daquele que está brincando com ele no jardim – prova que a criança pequena consegue acreditar que um único papai Noel é capaz de trazer presentes para todas as crianças em todo o mundo, na mesma hora.
É claro que todas as crianças sabem que os pais têm uma participação importante nos preparativos do Natal, já que vêem toda a comida sendo preparada e outros preparativos para a festa acontecendo em sua casa. O que pode transformar o Natal, em uma festa encantadora é exatamente, essa mistura de ficção e realidade que realça ambas. Se a criança vai ou não viver isso, dessa maneira, depende interiormente do espírito com que os pais se preparam para a realidade do evento e seu significado mágico. Para que a festa seja totalmente significativa para a criança, tanto a fantasia quanto a realidade devem estar presentes, por isso, deixe as crianças serem crianças.

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