quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Respeito à autonomia e à dignidade faz muito bem e é sinônimo de ética

Gladis Maia

O sentido da Educação é a humanização, possibilitando que todos os seres humanos tenham condições de serem partícipes e, ao mesmo tempo, possam desfrutar dos avanços e progressos da civilização, construída historicamente, compromissada com a solução de seus problemas. (Jane Barbosa, in Didática do Ensino Superior, 2003).

Ensinar exige, além de segurança, competência profissional e generosidade, comprometimento, liberdade e autoridade, a arte da escuta, o reconhecimento que a Educação é ideológica e a disponibilidade para o diálogo. Além disso, nas idéias de Paulo Freire - às quais sempre assinarei embaixo – é necessário também o querer bem aos educandos e a compreensão de que a Educação é uma forma de intervenção no mundo.
Quanto mais liberdade e solidariedade, entre professor e aluno na Escola, mais possibilidades há de viver-se na, e: para a cidadania. O professor precisa abandonar a postura de portador da verdade que tem de ser transmitida aos discípulos. Quem não consegue escutar seus alunos, não aprende a falar com eles, pensa Freire, que afirma que: fala para eles, fala deles, mas não com eles. Não constrói, vomita conhecimento...
É papel do professor escutar os alunos, nas suas dúvidas, nos seus receios, na sua incompetência provisória, nas palavras do mestre. Freire, sempre que a oportunidade se apresentava, dizia que: em geral, o professor cria com o aluno uma relação prepotente, na qual ele não contribui para o processo educativo. Contribuindo sim, para reforçar a sua dominação como professor.
Quantas vezes ao colocar-se frente à classe e emitir conceitos que os alunos não conseguem decifrar, o professora não está apenas reforçando a idéia de que ele é aquele que sabe, mas também a idéia de que o aluno é aquele que não sabe e que, para saber, depende do professor. E, se ele, na sua enorme benevolência, se dispuser a dar uma migalha de seu saber aos alunos, apresentará a postura costumeira daquele que está convencido de que os alunos jamais vão saber como ele sabe, e, por isso, precisarão sempre das luzes daquela inteligência suprema...
O pequeno grande educador sempre acreditou que nenhuma formação docente pode fazer-se alheada do reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição e do exercício da criticidade. Criticidade que implica da passagem da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica, do conhecimento bancário para o conhecimento crítico.
Constituir-se num professor crítico é tornar-se um aventureiro responsável, argumenta ele, que acrescenta que as coisas até podem piorar quando se está predisposto à aceitação do diferente, do novo, mas diz também que sempre é possível intervir para melhorá-las. A passagem do homem pelo mundo não é pré-determinada. A vida é feita de possibilidades, e não de determinismos! Quando a presença humana no mundo não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, culturais e históricas há sempre e, graças a Deus, Esperança! Esperança para lutarmos e vermos nossos sonhos virarem realidade!
Devemos ser esperançosos não só por teimosia, mas por exigência da práxis educativa. O que poderá ensinar aquele que não crê que as coisas possam ser diferentes? Freire diz não entender que a Educação, como prática estritamente humana, possa constituir-se numa experiência fria, sem alma, numa experiência em que os sentimentos e as emoções, os desejos, os sonhos sejam reprimidos.
Freire também alerta que o professor que costuma desrespeitar a curiosidade dos seus alunos, ou seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem... O professor que ironiza o aluno devido aos seus traços culturais, transgride os princípios éticos da existência humana, da mesma forma que aquele que foge do cumprimento do seu dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência educativa. A tempo e a hora...
Qualquer discriminação é imoral! Quanto mais rigoroso o professor se tornar na sua busca do exercício profissional, tanto mais alegre e esperançoso se sentirá. Por isso é falso pressupor que alegria e docência sejam incompatíveis. A alegria não é inimiga da rigorosidade, proclama Freire, que acredita que há algo como o que costumam chamar de vocação, que deve enlaçar tantos professores de bem na sua profissão tão mal vista e paga pelos governos deste país. Mesmo numa situação tão desestimulante, muitos continuam a suar a camiseta, felizmente, honrando a categoria.
E, ao final deste artigo, fiquem com as palavras do grande mestre, singelas e humildes, e que são sempre bálsamo para a alma daqueles que acreditam num mundo melhor, sem preconceitos, num mundo repleto de muito amor e de muita beleza. Daqueles que não tem vergonha de serem eternos aprendizes:
O melhor caminho para guardar viva e desperta a minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que me admita como proprietário da verdade. [...] disponibilidade à vida e aos seus contratempos.[...] ao riso manso da inocência, à cara carrancuda da desaprovação, aos braços que se abrem para acolher ou ao corpo que se fecha na recusa.[...] E quanto mais me dou à experiência de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto melhor me conheço e construo meu perfil. (Paulo Freire in Pedagogia da Autonomia, 2003).

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