terça-feira, 2 de outubro de 2007

A educação precisa render-se, à TV e a todo o seu peculiar encantamento.

Gladis Maia
Até bem pouco tempo dizia-se que a arte imita a vida... E quanto ao11 de setembro que repetiu uma aventura hollywdiana?

A TV inseriu-se de tal forma na vida cotidiana que hoje é quase impossível pensar os eventos sem a sua presença. Vejam que ela mudou, substancialmente, a prática dos esportes. Atualmente, a própria televisão participa da organização e administração dos eventos, transformando competições em espetáculos televisivos. Ela privilegiou o espaço profissional em detrimento do atletismo amador e converteu os atletas em estrelas. Acontecimentos políticos, cerimônias oficiais e até mesmo atentados terroristas são concebidos, antes de tudo, como encenações para a mídia.
Os eventos não acontecem mais, via de regra, por conta própria, eles pressupõem a mediação da TV e são forjados em função dessa mediação, isso quando não são produzidos diretamente pelas redes de TV ou sob sua influência direta. A luta política passa hoje necessariamente por dentro da enunciação televisual. Ficar de fora, criticando aristocraticamente os seus mecanismos de alienação, é um erro estratégico que pode resultar em irresponsabilidade social. Se a escola não for capaz de compreender isso, estará se condenando ao limbo.
Fazendo-se um rápido retrospecto da história do século passado, é notável que os mais influentes líderes de massa foram - antes de tudo - excelentes oradores e se davam muito bem com os altos-falantes das praças públicas ou com os microfones do rádio, assim como: Lenin, Hitler, Mussolini, Churchill, De Gaulle, Perón, Luther King, Fidel Castro e até mesmo Leonel Brizola. Todos se encaixavam nessa classificação. A partir dos anos 60, porém, com a TV ganhando cada vez maior importância como veículo de massa, tornou-se difícil acrescentar novos nomes à lista dos líderes carismáticos de grande apelo popular. Acredito inclusive que Brizola não tenha se elegido para presidente porque não dominava este veículo de comunicação, um dos seus “defeitos” era estender-se por demais em suas falas, por exemplo.
A que você atribuiria a eleição de um ator para a presidência de um dos países mais importantes do planeta? Eu aposto na sua performance televisiva! Diante disto, considerando-se, entre outros temas, o fato da política passar necessariamente pela TV – enquanto, nesse meio tempo, os políticos tornam-se cada vez mais experts, nas formas de se comportarem em relação a essa mídia – é necessário que a escola tome a si o papel de formar telespectadores críticos, pois só assim a TV não será mais um instrumento de dominação de muitos, por uns poucos.
O poder da mídia reside também em outro gênero de programa que são os videoclipes, que soberanamente vem agradando aos jovens. Ele se impôs como uma nova forma de expressão dentro do universo do vídeo e rapidamente ganhou espaço dentro e fora da televisão, conquistando um amplo contingente de adeptos e provocando uma pequena revolução no interior da televisão. Concorde-se ou não, a verdade é que torna-se cada vez mais difícil fingir ignorá-los ou supor que se trata apenas de um fenômeno de moda. Talvez resida nele a expressão mais acabada da modernidade – com seu poder de síntese e sua conseqüente economia expressiva – embora resulte num produto que dificilmente a inteligência tradicional entenda ou engula.
O estranhamento maior está certamente relacionado com ao fato do videoclipe poder dispensar inteiramente o suporte narrativo, coisa com a qual o seu público já está preparado para aceitar. As imagens podem ser escolhidas sem nenhum significado imediato, sem qualquer denotação direta, sem referência alguma, no sentido fotográfico do termo, harmônico com o da música. O que está presente na maioria dos clipes é: uma forma não-narrativa, não linear. O que importa é menos a intenção de se contar uma história e mais o desejo de se passar uma overdose de sensações, através de informações não-relacionadas, sons e imagens, mesmo desconexas.
Não residiria no videoclipe - a ser assistido, a ser produzido - um campo próspero de estudo para a escola trabalhar, além de conteúdos científicos, as singularidades dos seus sujeitos, suas diferentes sensações, emoções, valores, etc.? Esta produção de vídeo não poderia servir de elo entre toda a comunidade escolar, envolvendo professores, alunos, funcionários, especialistas, pais, etc., indo para além dos seus muros, ao encontro da sociedade onde se insere cada escola? Não caberiam campanhas a serem deflagradas na comunidade escolar – interna e externa - através de clipes, e, em especial, com o mote do valor da fraternidade, da equanimidade de direitos, do respeito aos semelhantes, do valor da amizade e tantos outros sentimentos, temas e ações que resultam numa escola e numa , conseqüentemente, sociedade inclusiva?
Diante do contexto criado pelas novas tecnologias da comunicação e da informação, o discurso da educação não consegue isoladamente posicionar-se, torna-se insuficiente. Por outro lado, diante dessas novas mediações, a educação e a Comunicação não podem também ser pensáveis como atores independentes e isolados deste novo ecossistema de comunicação educativa. Porém a simples introdução dos meios e das tecnologias na escola, pode ser a forma mais enganosa de ocultar seus problemas de fundo, sob a égide da modernização tecnológica.
O desafio é como inserir na escola um ecossistema comunicativo que contemple ao mesmo tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de configurar o espaço educacional como um lugar onde o processo de aprendizagem conserve seu encanto.Voltaremos ao assunto!

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