quarta-feira, 10 de outubro de 2007

A escola com que sempre sonhei sem saber que existia existe em Portugal

Gladis Maia

(...) que compreenda como os saberes são gerados e nascem. Uma escola em que o saber vá nascendo das perguntasque o corpo faz. Uma escola em que o ponto de referência não seja o programa oficial a ser cumprido (inutilmente), mas o corpo da criança que vive, admira, encanta-se, espanta-se, pergunta,enfia o dedo, prova com a boca, erra, machuca-se, brinca. Uma escola que seja iluminada pelo brilho dos inícios. Pedro Barbas Albuquerque

Os dados deste artigo foram compilados de “A Escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”, de Rubens Alves - poeta, pedagogo, teólogo, escritor e psicanalista, que vive ocupado a diagnosticar as doenças da Pedagogia. Digno exemplo para aqueles que sonham e lutam por uma escola de especial qualidade para todos. A escola dos seus sonhos - e dos nossos certamente - chama-se Escola Básica da Ponte nº 1 e foi construída em Vilas das Aves, Portugal. O livro reúne em seis crônicas, de puro encantamento dedicadas a sua existência, as informações que aqui estão.
São cerca de 120 pessoas entre alunos, funcionários e professores que se conhecem pelo nome, como numa grande família. Além de constituir-se num ambiente amigável e solidário de aprendizagem, a Escola da Ponte é profundamente democrática e auto-regulada. Lá está a prova de que em se plantando tudo dá. Constata-se a formação íntegra e ética instaurada na personalidade dos seus alunos, pela educação ali proferida pelo convívio solidário e cidadão.
As normas e regras que a regem e orientam as relações sociais na comunidade estudantil não são impostas, representam o coletivo, foram criadas e partilhadas entre todos os segmentos - inclusive e especialmente entre as crianças - seus mestres, funcionários e familiares.Quem leu o livro já deve ter se maravilhado com a Ponte, como eu. Quem não leu, imagine uma escola onde, desde a mais tenra idade, as crianças habituam-se a pedir a palavra para falar e a ouvir os outros em silêncio e com atenção. Disciplina, concentração, alegria e eficiência são a tônica da casa. A Escola da Ponte não é como as nossas, com uma professora e sua turma ou uma turma e seus professores. Um único espaço é partilhado por todos, sem separação, sem campainhas anunciando a troca de disciplinas e de professores.
Pequenos e grandes são companheiros numa mesma aventura! Todos se ajudam, partilham de um mesmo mundo! Não há competição, há cooperação! Os professores são professores de todos os alunos e todos os alunos são alunos de todos os professores. Os que se sentem mais aptos em determinados temas auxiliam os que se sentem menos aptos, sem intimidação, puro companheirismo. Anúncios nos quadros de aviso disponibilizam alunos para ensinar e alunos dispostos a aprender determinados assuntos. Um legítimo mercado do conhecimento...Podemos encher a boca dizendo que esta é uma escola inclusiva.
Tão logo são matriculados, numa etapa chamada de iniciação , os alunos agrupam-se por empatia: o que conta é o afeto. Posteriormente os grupos se formam em torno de interesses por um tema a ser pesquisado. Reunidos com um professor estabelecem um programa de trabalho de 15 dias, quando são orientados sobre o que e onde devem pesquisar. Utilizam muita Internet. Ao final do período reúnem –se de novo para avaliar o que aprenderam. Se o que aprenderam foi adequado o grupo dissolve-se e outro é formado para estudar outro assunto.
Nas salas imensas, professores espalhados por entre os alunos fazem seu atendimento, quando necessário. Nelas as crianças tem direito de ouvir música para ajudá-lo a trabalharem em silêncio. Em cada grupo há um aluno especial. Se a professora não puder acompanhar diretamente o trabalho de uma das crianças, logo um colega atento se disponibiliza para ajudá-la. Os alunos têm o direito de ir aos computadores, sempre que quiserem. Um deles serve para o registro de duas sessões: “ACHO BOM” e “ACHO MAU”. “Quando nos sentimos tristes escrevemos no Acho Mau, quando nos sentimos contentes com algo escrevemos no Acho Bom”, diz uma aluna.Há um “TRIBUNAL” criado pelas crianças e que deve ser enfrentado por aqueles que desrespeitam as regras de convivência. A primeira pena é passar durante três dias sobre os atos infracionários que cometeu.
Diariamente a “MESA DA ASSEMBLÉIA DA ESCOLA” reúne-se para discutir os problemas apresentados pelos alunos aos seus representantes, assuntos que serão debatidos pelo grupo todo, posteriormente, nas sextas-feiras durante assembléia geral. Há ainda a” CAIXINHA DE SEGREDOS”, onde são depositados pelos alunos recados-segredos, geralmente problemas que os estão afligindo e pedidos de ajuda. A produção escrita é valorizada com o “LIVRO DA QUINZENA”, que relaciona os projetos que estão sendo desenvolvidos naquele período em toda a escola. Os alunos fazem comentários, poesias, relatos, etc. E muito mais de utopia parida você poderá encontrar visitando a Escola da Ponte, em Portugal, ou lendo o livro de Rubens Alves. Eu adorei! Se você for ler, boa Leitura!

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