quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Ser diferente integra a condição humana, pois todos temos nossas singularidades.


Gladis Maia

Uma escola inclusiva não “prepara” para à vida. Ela é a própria vida que flui devendo possibilitar, do ponto de vista político, ético e estético, o desenvolvimento da sensibilidade e da capacidade crítica e construtiva dos alunos-cidadãos que nela estão, em qualquer das etapas do fluxo escolar ou das modalidades de atendimento educacional oferecidas.
Rosita Edler Carvalho (2004).


Ser diferente faz parte da condição humana, pensamos, sentimos e agimos de jeitos e intensidades diferentes, porque apreendemos o mundo de formas diferentes. Considerando-se isto, a escola inclusiva pressupõe não só a aceitação, mas o respeito e a valorização dessas diferenças nos alunos e de seus diferentes saberes e não–saberes.

Uma vez valorizada a diversidade devemos agir para que nossos alunos tenham experiências e saberes múltiplos. Na escola inclusiva não se terá mais a inquietação de responder se alguém aprendeu como o outro, mas de observar e acompanhar curiosamente o jeito inusitado e mágico de cada um viver, de cada um vir-a-ser, no seu tempo, cuidando, acolhendo, compartilhando diferentes jeitos de ser e de aprender.

Neste momento de discussão sobre o paradigma da Escola Inclusiva, há ainda muita confusão no ar, porque simplesmente muitos querem fazer crer que a idéia da inclusão é para e somente para os alunos da Educação Especial passarem para as turmas do ensino regular e, ponto.

Muitos pais de alunos “normais” se insurgem também contra a idéia, alegando que seus filhos serão prejudicados. Muitos pais de deficientes acham que os professores da escola regular não têm dado conta nem dos alunos “normais” e, que portanto não terão capacidade para lidar com seus filhos.

Ambos ignoram que a inclusão representa um resgate histórico do igual direito de todos à Educação de qualidade. A escola deve estar aberta aos que nunca tiveram acesso ao estudo, os portadores de altas habilidades (superdotados), os que - sem serem deficientes - apresentam dificuldades de aprendizagem e outras minorias excluídas, como é o caso dos negros, dos ciganos, homossexuais, índios e anões e que precisam nelas ingressar, ficar e aprender.

Quem se insurge contra a inclusão na escola parece ignorar, também, que é na diversidade que reside a riqueza das trocas que a escola propicia. Na heterogeneidade há a oportunidade de convívio com a diferença que - no mínimo - promove laços saudáveis e sentimentos de solidariedade orgânica.

Na escola inclusiva, da mesma forma, os professores têm oportunidade de por em prática os quatro pilares para a educação do século XXI, propostos pela UNESCO: aprender a aprender; aprender a fazer; aprender a ser; e aprender a viver junto.

A inclusão pressupõe a melhoria da resposta educativa da escola para todos, pois é considerável a produção do fracasso escolar, excludente por sua própria natureza. A escola inclusiva deve melhorar para todos, in-dis-tin-ta-men-te. Instaurada a inclusão, a escola deve tornar-se àquela que busca o desenvolvimento de todos, a partir das potencialidades humanas, críticas, participativas e autônomas. A escola deve ser pensada e construída como um espaço sadio de pluralismo de idéias!

Para que a escola inclusiva venha a dar certo, a sociedade precisa também evoluir. Evoluir da dimensão do particular para a comunitária, e desta, para a planetária, numa extraordinária dinâmica em espiral, ampliando cada vez mais a abrangência. Uma nova ética se impõe, conferindo a todos a igualdade de valor, igualdade de direitos – particularmente os de eqüidade – e a necessidade de superação de qualquer forma de discriminação por questões étnicas, de gênero, de classe social ou de peculiaridades individuais e diferenciadas.

E, mesmo que a escola inclusiva no Brasil ainda seja apenas um sonho, para que esse sonho vire realidade, num mundo de paz e de harmonia, ela precisa ser, além de ética, prazerosa, integrativa por princípio, e, promotora das condições necessárias para o desenvolvimento das potencialidades de cada um e de todos. Qual outro lugar, além da escola, é próprio para formar gerações que elejam, defendam e ajam de acordo com esses valores?

A escola inclusiva é a porta e a casa propícias para o desenvolvimento, tanto da solidariedade mecânica, como da solidariedade orgânica, na concepção de Durkheim, em seus estudos sobre a natureza dos laços sociais. A solidariedade, no primeiro caso, acontece de forma natural ou mecânica, a proximidade entre os seres humanos, o contato leva a isso. Já a solidariedade orgânica ocorre quando os indivíduos têm – ou adquirem – a consciência de que precisam participar para fazer a coletividade funcionar como um todo. Trata-se, portanto, de uma consciência coletiva que, segundo Durkheim, constrói-se pelos sentimentos e crenças comuns à média dos membros da coletividade, levando-os às formas de cooperação global.

E, porque sentimentos e crenças podem ser incentivados, especialmente num lugar que trabalha a formação do sujeito em desenvolvimento, a escola inclusiva é acima de tudo esse solo fértil para o desabrochar e o fomento da ética, da solidariedade e do bem comum.

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