quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Quem luta por sonhos vê lições nos erros, fracassos e incompreensões.

Gladis Maia
Cumpre aos verdadeiros líderes, como os pais, educadores, executivos, incentivar quem fracassa a extrair sabedoria das suas experiências dolorosas, em vez de cultivar a culpa. Errar é uma etapa do inventar, falhar são degraus do criar. Augusto Cury, in Nunca Desista dos seus Sonhos.
Eis me novamente saboreando as instigantes idéias de Augusto Cury – de quem é o eixo deste artigo. O autor – na obra citada na epígrafe - critica a cultura das provas existentes em quase todas as escolas do mundo inteiro, porque desrespeita a riquíssima pedagogia do ensaio e erro, que promoveu as grandes conquistas da história. Explica que ao ser punido com notas baixas, o sujeito aprendente não só registra de maneira privilegiada o fato, através do fenômeno RAM, Registro Automático da Memória, como inicia-se ali - ou ratifica-se - o processo de obstrução da sua ousadia e inventividade.
Cury aconselha a ausência de julgamento diante do erro. É da opinião que se alguém ao errar for valorizado, encorajado, conseguirá incorporar novas experiências e refazer caminhos. Relembra-nos que caímos muitas vezes até aprendermos a andar. Quem erra tem oportunidades de sonhar com as conquistas, tem mais chance de aprender e mais gosto pela vitória, pressuposto que constitui um dos fundamentos da Inteligência Multifocal, teoria que levou 20 anos estudando e formulando.
Nas suas palavras: “Nos alicerces das grandes descobertas existem grandes falhas, nos alicerces das grandes falhas existem grandes sonhos de superação”. Se não mudarmos nossas atitudes de recriminação frente ao erro de nossos filhos ou alunos, vamos incentivar neles o medo de errar, que gera um eu tímido e inseguro, segundo o cientista.
Aliás, se os cientistas se intimidassem e recuassem diante de seus erros quantas descobertas não teriam deixado de ser feitas, como nos aponta Cury ... Flaming, descobriu a penicilina graças a um fungo que contaminou a lâmina de cultura, que ele deixara sem proteção no laboratório. Roentgen descobriu o Raio X, pelo descuido no manuseio de uma placa fotográfica. Einstein teve de recuperar do lixo algumas etapas das equações que o levaram à Teoria da Relatividade. Simon Campbell errou ao não conseguir chegar a um novo medicamento, para desobstruir artérias em casos de angina, mas descobriu o Viagra.
O que diferencia os jovens que fracassam dos que têm sucesso não é a cultura acadêmica, mas a capacidade de superação das adversidades da vida, explica o psiquiatra, que lamenta que o medo tenha sepultado milhões de sonhos, em todas as épocas e nos alerta que quando nossos sonhos incluem os outros ou buscam alguma maneira de contribuir para o bem da humanidade, suportamos mais facilmente os temores e os dissabores da vida.
Da mesma forma ele lamenta o massacre que o autoritarismo dos superiores – sejam eles pais, professores ou chefes - praticam contra os seus comandados exterminando sua criatividade e inteligência. Mas, nos entusiasma com seu otimismo ao lembrar aos idealistas – ou aos em vias de - que é possível destruir o sonho de um ser humano quando ele sonha para si, mais é impossível destruir seu sonho quando ele sonha para os outros, a não ser que lhe tirem a vida. Entusiasma e nos incentiva a trabalharmos os valores humanitários com as crianças e jovens, pois quem vive para si mesmo não tem raízes internas. Trabalharmos com eles, para que não venham a medir os seus semelhantes pelo poder político ou financeiro que possuem, mas pela grandeza de seus sonhos, pela paixão que possuem pela vida, pelo amor à humanidade, pelo desejo de serem úteis aos outros. O autor que enaltece o valor dos sonhos, o valor do livre pensar e o valor dos pensadores apaixonados pela existência, afirma que nossa espécie está doente. Acometida de: SPA, Síndrome do Pensamento Acelerado, pessimismo, estresse, individualismo, competição predatória, falta de amor, falta de fraternidade, falta de sabedoria, superficialidade, racismo, preconceitos... As idéias devem servir à vida e não a vida às idéias, pois os piores inimigos de uma idéia são aqueles que a defendem radicalmente, até porque – como todos sabemos - os grandes pensadores que a humanidade já viu nascer foram exímios questionadores que usavam a arte da dúvida e da crítica para ampliar o mundo das idéias e dos ideais.
“Infelizmente, num mundo tão rápido e ansioso, a educação tem desprezado a ferramenta da dúvida e da crítica, que são a agulha e a linha que tecem a inteligência. Vale a quantidade de informação, não a qualidade. Noventa por cento das informações são inúteis, nunca serão utilizadas e sequer recordadas. Nada é tão perigoso para aprisionar a inteligência do que aceitar passivamente as informações”, alerta-nos o cientista.
Como preconiza Edgar Morin quem dera a educação moderna ensinasse menos matemática, física, química, biologia e mais a arte de pensar... O mundo seria menos engessado e os nossos alunos cultivariam uma das nobilíssimas características da inteligência: pensar, pensar bem! Cury chama a atenção dos professores sobre a importância de gerarmos a consciência crítica em nossos alunos. Se por exemplo, um professor de História ensinar sobre escravidão, terrorismo, nazismo, guerras, fornecendo apenas informações, sem teatralizar suas aulas e fazer com que os alunos se coloquem no lugar dos que sofreram, esse tipo de aula pode ser lesiva, no seu entender, pois leva à insensibilidade diante das atrocidades humanas. Se por outro lado enfocarmos com responsabilidade e seriedade qualquer tema, poderemos começar a sonhar com uma humanidade mais fraterna, solidária, inclusiva, gentil e unida. “Sempre fomos mais iguais do que imaginamos nos bastidores de nossas mentes.[...] ...os sonhos, por serem verdadeiros projetos de vida, resgatam nosso prazer de viver e nosso sentido de vida, que representam a felicidade essencial que todos procuramos.”Se gostaram das idéias do cientista, procure-as na íntegra, lendo seus livros.

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