quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O saber tem que ser construído em meio à tecitura de redes intercomunicantes

Gladis Maia
Você não pode ensinar tudo a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta, dentro dele mesmo. Galileu Galilei.
A Escola da atualidade necessita ser mais flexível, ser inteira e representar a vida. O educador tem que lembrar que é professor de gente, não de matérias, de conteúdos, reprodutor do sistema que aí está, excludente por índole. A corrida atrás de resultados quantitativos tem que ficar para trás. A meta agora é a qualidade de vida, o aluno precisa mesmo é saber como se chega a resultados. A escola para todos tem que ensinar como pensar e não o que se pensa. Os principais problemas de nosso tempo não podem ser compreendidos isoladamente, mas vistos de forma interconectada e interdependente, sob o paradigma da hoslística.
A sociedade atual exige pessoas detentoras de tipos diferentes de criatividade, com diversos talentos, sobrepostos e maleáveis e mutáveis. Como um prisma de cristal, que distribui a luz num campo visual, a teoria das múltiplas inteligências de Perrenoud e a inteligência multifocal de Augusto Cury, poderiam servir de norte, entre outras, para serem aplicadas ao planejamento educacional, criando condições para a formação de pessoas melhor preparadas para era virtual, que se aproxima: holísticas, diferentes de nós, seus professores, que estudamos sob a égide de um ensino tradicional, de lógica aristotélica e linear.
Estas teorias podem nos ajudar a mostrar como levar o aluno do conteúdo acadêmico, que serve como suporte, até chegar às metas finais, permitindo que cada um adquira, do seu próprio jeito, através do seu próprio estilo individual de aprendizagem.
Se concordarmos que uma das funções da educação é a preparação das pessoas para o seu futuro, nunca esquecendo que a transformação da sociedade – que há de ser justa e ética um dia – passa necessariamente pela escola, neste momento, ninguém pode saber com precisão o que nos reserva o futuro, nem o mais próximo.
Não sabemos, por exemplo, das possibilidades da clonagem humana ou dos resultados do Projeto Genoma. Esta incerteza pode nos deixar paralisados, insatisfeitos com a maneira de construir o saber em nossas escolas. Mas, precisamos ter coragem para desafiar os erros e encontrarmos novas maneiras de fazer ou refazer a prática pedagógica.
Neste sentido, a sociedade contemporânea está passando por uma série de modificações estruturais, que nos obrigam a reavaliar aquilo que estamos fazendo na educação e tentar alinhar este esforço à realidade que existe fora da instituição acadêmica.
Algo que está claro para o futuro, não tão longínquo assim, é que muitas pessoas terão uma jornada de trabalho mais curta do que a atual e sobrará tempo para o lazer, talvez . E o que faremos? Imagino que: um educando exposto às experiências ecológicas, holísticas e grupais, numa escola pautada na ética, na participação colaborativa, poderá transformar não só a sua própria vida, mas o em torno.Ele terá condições de acrescentar mais a sua vida, em termos de prazer, crescimento emocional, respeito e sabedoria. O pequeno cidadão hoje - ou amanhã, adulto - estará apto a transformar a sociedade, começando com o respeito às pessoas que lhe são próximas.
Mas, afora os discursos bonitos, as escolas têm apresentado, em geral, espetáculos deploráveis, ao expulsarem os alunos do suas aulas e mesmo da escola, literal ou subliminarmente, através das notas ruins, das caras feias, das repreensões insistentes, porque determinados alunos não correspondem ao tipo padrão esperado...São os taxados de mal comportados, já que nossas escolas baseiam-se inteiramente em torno da noção de disciplina e de comportamento. Expulsos ou evadidos, essas crianças somam fileiras entre os excluídos, da escola, da sociedade, da vida...
E o pior, é que os educadores, na sua maioria, estão se sentindo abandonados, desamparados, com a falta de possibilidade em atender as demandas da escola, receber e tratar bem, as crianças e jovens em suas necessidades do cotidiano. Lá fora elas também não são satisfeitas, a família já não é a mesma, e todos sabemos, sua estrutura física e psicológica mudou. Todas as patologias e os desconfortos familiares – e há alunos que possuem dois, três núcleos familiares, outros nenhum - acabam chegando a escola, que está despreparada, não possui técnicos, nem disponibilidade para tanto ...
A violência escolar, tão em moda na mídia, poderia ser vista como uma denúncia da própria violência perversa do sistema educacional em nosso país, em muitos outros, mesmo no exemplar primeiro mundo, e sem tirar nossa responsabilidade: da nossa maneira de viver, que por vezes é demasiadamente desejante e exigente.
É real, que os professores são mal pagos, possuem cargas horárias escravas, estão estressados, com suas turmas abarrotadas de alunos e escolas mal cuidadas pelos poderes públicos, muitas vezes mal preparados em suas formações por tantos outros professores descontentes, numa roda viva incessante...Há que se concluir que não há muito lugar para pensar a dor do outro, do aluno que está muitas vezes ali precisando muito mais de afeto do que de lições... Fica difícil a tal escola para todos!
Mesmo a contragosto dos descrentes, daqueles que perderam a esperança, eu volto sempre ao meu jargão amoroso, afirmando que a Escola Inclusiva passa, necessariamente, pelo coração de cada educador que estiver envolvido com ela e que, de tanto abrir-se para o amor, conseguirá expandir frestas nos corações dos homens empedernidos, que estão com a caneta na mão para assinar os documentos necessários a efetivação das mudanças na escola e nos homens que estamos formando, que transformarão esta nação em algo de prodigioso.

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