domingo, 7 de outubro de 2007

Educomunicação, um paradigma em vias de construção e boa utilização.


Gladis Maia
Feliz aquele que transfere tudo o que sabe e aprende o que ensina. Cora Coralina.
A tecnologia é um dos níveis de expressão da globalização e da pós-modernidade e os avanços tecnológicos nas áreas de comunicação e informação invadem todos os campos da vida pública e privada e chegam até a escola. São ventos da pós-modernidade: informática, Internet, realidade virtual, Dvd, telefone celular, chats, TV a cabo ... Informação e imagens saturam os sentidos de todos, em especial das crianças e jovens, que mais do que nunca constroem sua visão de mundo e de identidade com forte influência nas mídias.
O educador é um comunicador porque fala com todo o corpo, porque ele é uma mensagem complexa e, junto com o conteúdo programático, coloca sua experiência de vida, seu modelo de adulto, realizado ou não, feliz ou não: uma pessoa que vale a pena conhecer ou não. Educação e Comunicação andam juntas, quanto mais a primeira se valer da segunda, melhor será o ambiente, melhor aceitas serão as práticas educativas. O educador é um comunicador que precisa fazer uma interação, uma ponte como forma de lidar com o conhecimento, diferente de como vem fazendo.
As novas tecnologias inseridas no sistema educacional têm sido anunciadas como redentoras da educação, especialmente junto às Universidades, pois mesmo à distância, possibilita uma ampla acessibilidade e democratização do conhecimento, superando a ausência ou limitações daqueles que não podem participar de processos presenciais de formação. No entanto, há aspectos importantes que precisam ser considerados. Um deles é o de que a Educação não é mera transmissão de Conhecimento. Como diz Paulo Freire: educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a sede do saber até a sede da ignorância para salvar com este saber, os que habitam nesta.
Seja como ferramenta pedagógica ou como objeto de estudo, a inserção de tecnologia da informação e comunicação na Educação deve fundamentar a reflexão crítica sobre seus conteúdos, transformando informação em conhecimento e formando receptores ativos. Mas a Educomunicação quer mais, muito mais. Quer, através da produção de vídeos na escola, trabalhar as capacidades cognitivas, afetivas e psicomotoras dos alunos que aprenderão não só a analisar, mas aprender a fazer o produto das mídias. Quer um aprender e um ensinar – aprendendo-ensinando, ensinando-aprendendo – num lugar onde o diálogo, a argumentação, a polifonia, a participação, a ação, a colaboração, a diversidade, o lúdico e a criatividade sejam uma constante.
A educação precisa considerar que através das mídias os jovens entram em contato com fatos culturais diversos, mas a recepção parece dar-se na superfície. Posto que não é feita uma leitura crítica dessas manifestações. Não há uma verticalização da leitura. A mediação cognitivo-cultural do professor pode fazer com que os signos visíveis sejam apreendidos em toda sua significação, atentando assim para as mensagens subjacentes.
Este fato está diretamente ligado à maneira como a escola trabalha com a linguagem: se numa perspectiva instrumental ou interacionista. Em face desta realidade, é imperioso que a escola compreenda que a visão do rápido processo de mudanças que vem se realizando mundialmente, torna emergente a reconsideração sobre a apropriação das meios de produção cultural e de seus efeitos sobre os receptores-alunos.
Não basta ser só um professor competente, numa área específica. O professor tem que ser também um excelente comunicador de toda uma experiência de vida que vale a pena transmitir junto com aquele conteúdo programático específico. Essa é uma questão de fundo profundamente tecnológica, ele é um comunicador total. Isso não se muda, não se improvisa com cursos rápidos.
A educomunicação define-se como o conjunto de ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais. Gottlieb (2002), professor da Escola de Comunicação e Artes da USP e estudioso da Educomunicação - que se encontra em franco processo de consolidação - descreve o novo paradigma, como “um campo relacional, estruturado num processo mediático, transdisciplinar e interdiscursivo e que se materializa em quatro áreas de intervenção: a área social; da educação para a comunicação; da gestão da comunicação na educação; e a área da reflexão epistemológica”.
A Educomunicação também tem a finalidade de implementar ações para melhorar o coeficiente comunicativo na Educação, incluindo as relacionadas ao uso de recursos da informação no processo de aprendizagem. A importância da comunicação na Educação também está relacionada ao fato da dimensão pública da sociedade atual encontrar-se fortemente atrelada à ação dos Meios de Comunicação.
Não devemos esquecer, que nos dia de hoje, o conhecimento que temos dos fatos que acontecem além do nosso meio social imediato, é, em grande parte, derivado de nossa recepção das formas simbólicas mediadas pela mídia, e desta forma, ela obrigatoriamente passa a ser matéria de estudo. Espero ter passado uma idéia do que é a Educomunicação, mas voltaremos ao assunto, certamente!

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