sábado, 27 de outubro de 2007

À EDUCAÇÃO CABE PREGAR A PAZ E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA TERRENA

Gladis Maia

A prática da ética não pode ficar fora dos portões da escola,mas, como adverte Morin, a ética não pode ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes dos estudantes, com base na consciência da espécie, o que implica em que o verdadeiro desenvolvimento humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana.

Em Os Sete Saberes Necessários à Educação Terrena (2000), Edgar Morin fala da importância do saber transdisciplinar com o objetivo de gerar um pensamento integrador, apto a romper o isolamento do homem em relação ao próprio homem e à sociedade.

Tanto do ponto de vista ético, quanto do intelectual. Trata-se de um desafio lançado às instituições educativas e educadores, com a finalidade de instaurar novas formas de solidariedade e responsabilidade do homem para consigo mesmo e para com o planeta Terra. O autor quer reiterar a crença dos educadores no poder transformador da Cultura

No 1º saber, As Cegueiras do Conhecimento: o erro e a ilusão, ele fala que é necessário introduzir e desenvolver na Educação o estudo das características cerebrais, mentais e culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais, que conduzem o homem ao erro ou à ilusão.

No 2º, Os Princípios do Conhecimento Pertinente, aborda o desenvolvimento da aptidão natural do espírito humano para situar todas as informações em um contexto e num conjunto. No 3º, Ensinar a Condição Humana, aponta para o reconhecimento de que o ser humano é simultaneamente físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico, e, que esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na Educação contemporânea por meio do ensino fragmentador das disciplinas.

No 4º, Ensinar a Identidade Terrena, aborda a crise planetária, compartilhada por todos os seres humanos. Refere-se ao ensino da história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, de forma a mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem contudo, ocultar as opressões e a dominação.

Em Ensinar a Enfrentar as Incertezas, 5º saber, trata do ensino dos princípios de estratégias que permitam o enfrentamento de imprevistos, do inesperado e da incerteza; e modificações no desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao largo do tempo. Nas suas palavras: “ ... é preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas, em meio a arquipélagos de certeza”.

No 6º saber, Ensinar a Compreensão, focaliza o reconhecimento de que, embora a compreensão seja meio e fim da comunicação humana, a Educação para a Compreensão está ausente do ensino convencional. Nestes moldes, a incompletude , por exemplo, deve ser estudada a partir de suas raízes, de suas modalidades e dos seus efeitos, enfocando não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo, fomentando as bases para a Educação para a Paz.

No 7ºsaber, A Ética do Gênero Humano, Morin leva em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser simultaneamente indivíduo, sociedade e espécie; e concebe a Humanidade como uma Comunidade Planetária.

A regeneração da democracia existente faz-se necessária, segundo Morin, por que a invenção de uma democracia planetária requer a percepção do destino humano comum entre as várias nações e continentes; a disposição para forjar instituições globais voltadas para a educação e a cidadania terrenas; e o desenvolvimento concomitante de uma cultura política planetária.

Com os Sete Saberes, que se inserem na idéia de uma identidade terrena onde o destino de cada pessoa joga-se e decide-se em escala internacional, cabendo à educação a missão ética de buscar e trabalhar uma solidariedade renovadora que seja capaz de dar novo alento à luta por um desenvolvimento humano sustentável, Morin aprofunda a visão transdisciplinar.

Para ele, toda a cultura e toda a sociedade deve trabalhar, segundo as especificidades desses saberes que apontam uma visão abrangente da realidade. O destino planetário do gênero humano é ignorado pela Educação que precisa ao mesmo tempo trabalhar a unidade da espécie humana de forma integrada com a idéia da diversidade.

O princípio da unidade/diversidade deve estar presente em todas as esferas. Para tanto, torna-se necessário educar: para os obstáculos; para a compreensão humana, combatendo o egocentrismo e o sociocentrismo, que procuram colocar em posição secundária aspectos importantes para a vida das pessoas e da sociedade.

Por fim, os princípios de Morin para a educação do século XXI, antecedem qualquer guia ou compêndio de ensino, como ele mesmo afirma, inserem-se na idéia de uma identidade terrena onde o destino de cada pessoa joga-se e decide-se em escala internacional. Cabe à Educação a missão ética de buscar e trabalhar uma solidariedade renovadora que seja capaz de dar novo alento à luta por um desenvolvimento sustentável. São saberes fundamentais com o s quais toda a cultura e toda a sociedade deve trabalhar, seguindo e segundo suas especificidades.

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