sábado, 6 de outubro de 2007

Televisão: pode e deve ser material de estudo permanente nas Escolas.





Gladis Maia
Pessoas que assistem diariamente à TV tendem a acreditar que a sociedade é mais violenta do que realmente é. A televisão cria uma espécie de mundo paralelo que muitos associam, de maneira equivocada, à realidade. A formação de telespectadores conscientes, capazes de ‘ler’ a televisão sob o prisma da ética e da cidadania, torna-se em função disso uma prioridade que a escola não pode abrir mão. Sérgio Rizzo, in Nova Escola, dez.1998.

Os novos tempos não são mais de decorebas, muito menos de aulas carrancudas. O mais urgente é que os alunos compareçam a escola e gostem de lá permanecer. Uma escola que não ensina como assistir à televisão é uma escola que não educa, afirma o pedagogo espanhol Joan Ferres. Autor de várias obras sobre o tema, como: Televisão e Educação, Televisão Subliminar e Vídeo e Educação, ele observa que a tendência nas escolas é a de adotar atitudes unilaterais diante do fenômeno da televisão.
Diante do conteúdo exposto pela TV, as pessoas dividem-se em apocalípticas ou integradas, na terminologia da dicotomia maniqueísta trabalhada por Umberto Eco. Talvez na escola o predomínio seja das primeiras, as catastróficas que afirmam que a TV provoca todo tipo de males físicos e psíquicos: problemas de visão, passividade, consumismo, alienação, trivialidade... No extremo oposto a outra postura vê na TV uma oportunidade para a democratização do conhecimento e da cultura, para a ampliação dos sentidos e potencialização de aprendizagem.
A televisão representa a cultura da opulência e da diversidade, a cultura da liberdade, das opções múltiplas. Concordando com Eco, Ferrés lembra que as atividades extremistas acabam confluindo, levando a resultados semelhantes. A atitude mais adequada é a aceitação crítica, o equilíbrio entre o otimismo ingênuo e o catastrofismo estéril, um equilíbrio que assuma a ambivalência do meio, as suas possibilidades e limitações, e as suas contradições.
O telejornal, por exemplo, pode dar a sensação de que é um retrato do que ocorreu de mais importante naquele dia no país, no mundo... Pura ilusão! Os noticiários televisivos transmitem um volume muito restrito de informações. Irrisório, se comparado a de um jornal diário ou a uma revista semanal. Mas, não dá para negar que a TV pode levar o mundo até casa do telespectador, permitindo que ele assista, ao vivo, a eventos históricos como guerras e viagens espaciais. Acompanhados por milhões de telespectadores, os noticiários são capazes de mobilizar toda a sociedade em torno de movimentos políticos, como a campanha pelas eleições diretas, a derrubada de Collor, etc.
O telespectador assíduo sabe que a violência permeia, com maior ou menor intensidade, quase todos os gêneros de programas televisivos. Embora os efeitos dessa super-exposição sobre seu comportamento não possam ser medidos com precisão, é impossível negar que ela contribui para deformar a percepção da realidade. Por outro lado, o desafio de ensinar os alunos a ver televisão com esse olhar crítico implica num conhecimento mais aprofundado desse poderoso meio de comunicação.
Na mesma reportagem da epígrafe, o jornalista - e crítico de TV - Eugênio Bucci, autor de O Peixe Morre pela Boca e Brasil em Tempos de TV , argumenta que saber ver criticamente a televisão é condição básica para o exercício da cidadania e considera fundamental que a escola abra um canal pelo qual as crianças possam se manifestar,verbalizar, elaborar por que vêem televisão, o que gostam de ver na TV, o que as atrai, etc.Com isso seria possível, aos poucos, desmontar o discurso da televisão e também o da publicidade. Ele é da opinião de que a TV hoje organiza o espaço público brasileiro: teria sido ela que, após o golpe de 64, conferiu a identificação dos brasileiros entre si, promovendo a integração nacional no plano do imaginário.
Na realidade temos que convir que se houver um motivo ético por detrás da programação da TV, isso é válido, mas perigoso, pois no maior valor deste meio, que é atingir um grande público completamente diversificado, encontra-se também a sua maior periculosidade. Já imaginaram se Hitler, ao invés do rádio, tivesse usado a televisão? As pessoas precisam estar preparadas para lerem e entenderem as linhas e as entrelinhas da mensagem televisiva.
Se a escola tomar a si o trabalho de desnudar a televisão estaria plantando a semente para o desenvolvimento de telespectadores críticos. Este é um trabalho que acabaria com a discussão em torno da censura na TV, pois, mais importante do que controlar o que a TV veicula diariamente é preparar o público, sobretudo os telespectadores mirins, a vê-la sem se submeter e ela. O importante é saber usá-la para a vida, sem ser usado por ela.
É papel da escola informar aos seus alunos que as TVs dão destaque a fatos irrelevantes, ocupando um espaço descomunal, alguns deles ligados a figuras do próprio canal de televisão. As reportagens, mesmo as mais extensas, dão apenas uma versão entre as inúmeras versões possíveis de uma notícia. Os interesses dos proprietários das redes de TV podem influenciar o conteúdo do noticiário, favorecendo a um candidato em época de eleições, um ponto de vista sobre um determinado assunto, etc. O noticiário, pode ser vítima de restrições políticas, e por aí vai.
Diante da inegável influência da TV sobre as crianças e jovens, outra função essencial da Escola é a de servir de termostato, no sentido de sua atuação como regulagem para o amortecimento das tensões e na regulagem de volta ao que é fundamental para o homem. E, talvez o mais importante papel da escola, seja o de comprometer-se com a memória da civilização, porque quem vive dentro das mídias perde a memória e o sentido de importância das coisas, até porque ao telejornalismo o que interessa é o anormal, e quando o tecido da história é feito de acidentes de erupções vulcânicas, nem sequer há mais o fio da história.Pensem nisto!

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