segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Você tem algum amigo (a) diferente?

Gladis Maia

Escola é lugar de convivência e aprendizado universais. Universais, mesmo! Esta é a base das escolas inclusivas. Cláudia Werneck (1999).

No currículo da jornalista Claudia Werneck consta a edição de uma coleção de três livros chamada Meu Amigo Down, que colabora para uma ampla discussão sobre as diferenças individuais a partir da Síndrome de Down. A história aborda a chegada de um menino com a síndrome a uma escola regular. O sucesso foi tal, que após a 3ªed. da coleção, resolveu editar também ‘Um Amigo diferente?’.

Cláudia conta que passou por uma experiência decisiva ao falar da coleção ‘Meu Amigo Down’ nas escolas, públicas e privadas, por todo o Brasil: “... eu era torpedeada pelos alunos com perguntas e desabafos sobre ‘anormalidades’. Tornei-me a deixa para que abordassem assuntos que os afligissem e os deixavam curiosos. Fiquei aflita com a aflição deles. Daí nasceu ‘Um Amigo Diferente?’ , lançado em 1996.”

Este último livro consumiu-lhe cinco meses de pesquisa na qual teve a assessoria do consultor em reabilitação, Romeu Kazumi Sassaki, .segundo ela, “um livro dificílimo de ser finalizado” . Para escrevê-lo teve que conhecer o trabalho de grupos de ajuda mútua de portadores de paralisia cerebral, asma, doença renal, ostomia, anemia, hemofilia, artrite e outros. O texto foi submetido a representantes de cada uma dessas entidades e também a profissionais das áreas da Saúde, Comportamento, Reabilitação e Educação de vários lugares do Brasil. Muitas outras pessoas também foram consultadas sobre as ilustrações.

E antes de ser publicado passou por uma experiência piloto num CIEP do Rio de Janeiro, onde foi utilizado como livro-texto, em sala de aula. O CIEP estava em plena consolidação do processo de inclusão, à época.Durante uma semana várias turmas se dedicaram a fazer entrevistas para saber quem era de algum modo diferente nas suas famílias e vizinhança. Também sugeriram ilustrações para o livro, desenharam seus amigos diferentes e fizeram redações. Na ocasião a TV do Rio de Janeiro, da Rede Globo, interessou-se pela experiência e entrevistou os alunos numa reportagem de Ana Paula Araújo, com pauta de Tim Lopes. Criança e adolescentes, quase todos moradores da favela Nova Brasília, falaram de suas emoções e descobertas a partir das pistas do ‘Um Amigo diferente?’ .

O livro conta a história de um amigo que afirma ser diferente. A cada página o amigo imaginário vai dando novas pistas, atiçando a imaginação dos pequenos leitores, que vão se deparando com temas pouco abordados no dia-a-dia, doenças e deficiências. Das diferenças simples, como ter seis dedos nas mãos – e tornar-se o campeão de fazer cócegas, da rua – até as mais complexas, como quando o personagem levanta a camiseta e mostra o corpo estrelado que há dentro de si e pergunta: “Quem sabe o mistério esteja dentro do meu corpo?” . Essa é a dica para o professor falar de AIDS, de câncer, de hemofilia e por aí vai,explica a autora. Aprender sobre deficiências e doenças crônicas é aprender sobre cada ser humano, acredita a jornalista, que explica que é a oportunidade de conhecer-se melhor. As crianças nascem aptas a lidar com qualquer tipo de diferença. Sendo o cotidiano, com sua diversidade mais fantástico do que qualquer sonho ou imaginação, seria natural para as crianças crescerem reconhecendo a humanidade como ela é, e não como os adultos acham que deveria ou gostaria que fosse. “Muito cedo, no entanto, família e escola, em uma parceria maléfica e preocupante, começam a corromper a meninada. Insistem em dizer que a deficiência faz parte de uma quarta dimensão da vida. Em casa, o assunto não é abordado com naturalidade.”, diz ela. Concordo com a colega de profissão, pois as crianças têm o direito de se desenvolverem exercendo sua capacidade de reflexão, de decisão e de ação dentro de um contexto real.

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