terça-feira, 16 de outubro de 2007

Nem de esquerda nem de direita, os jovens estão para além da política.

Gladis Maia

Todos os partidos são variantes do absolutismo. Não fundaremos mais partidos. O Estado é o seu estado de espírito.
Raul Seixas
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Tenho falado bastante sobre às características da nova geração, especialmente no tangente a sua nova linguagem. Mas os jovens não mudaram apenas a sua forma de falar, de pensar, de escrever, mudaram acima de tudo a forma de agir no mundo frente aos problemas estruturais a que assistem. Não só a que assistem, pois eles se entrelaçam na problemática, arregaçam as mangas e atuam em favor de soluções. Diferentes das gerações anteriores, que escreviam e pronunciavam discursos inflamados a favor dos oprimidos, eles vão à luta, companheiro.

Shephen kanitz, em artigo na Veja de 12/09/05, diz que lera uma reportagem que acusava a nova geração de “estar com nada”, preocupada somente com o futuro emprego e o umbigo. Os jovens não seriam mais como os de antigamente, engajados, na luta por uma grande causa: revolucionar o mundo. O autor, contrário a esta opinião, diz que há 30 anos atrás, 20% de seus amigos de faculdade - pelo menos os que se achavam mais inteligentes - eram de esquerda. Queriam mudar o mundo, salvar o Brasil, expulsar o FMI e acabar com a pobreza. Cabulavam as aulas e viviam no centro acadêmico com pôsteres de Che Guevara discutindo como tomar o poder. A idéia de ajudar os outros fazendo trabalho voluntário na periferia nem lhes passava pela cabeça...

Kanitz fala também que - para sua surpresa - quando foi fazer o mestrado em Harward, a totalidade de seus colegas era apolítica. Eles estavam lá para estudar, adquirir conhecimento, para poder ser úteis à sociedade e talvez ficar ricos. Por isso estudavam, para seu desespero, 20 horas por dia... Aliada a essa enorme carga horária de estudo, todos - havia muito tempo - faziam trabalho voluntário, um dos requisitos inclusive para a admissão ao mestrado, conta o administrador.

Passados trinta anos, num encontro com a turma de mestrado ele constatou que todos ficaram ricos, como pretendiam e que era a única exceção.Ricos que agora devotam boa parte do tempo às causas sociais e doam bilhões ao 3º setor. Muitos, já aposentados, gastam 25 horas por semana em conselhos, como o da Cruz Vermelha. A reunião de trinta anos com seus colegas da USP foi ainda mais surpreendente. O mais engajado na época, o que mais pregava a luta de classes, é hoje diretor de banco. Seu colega socialista, e menos radical, é o dono do banco. A maioria desculpou-se dizendo: “cansei de ajudar os outros”, “estou ficando velho, preciso me preocupar comigo mesmo.”

O articulista e muitos outros autores preferem a nova geração, que não é nem de esquerda, nem de direita, nem agüenta mais esta discussão. Não querem mudar o mundo, querem primeiro mudar o bairro para depois mudar seu estado e o país. Querem se tornar competentes para então mudar o mundo, paulatinamente, ao longo da vida.A nova geração está desencadeando uma revolução de cidadania, usando cérebro e o coração para o voluntariado, engajando-se no 3º setor, cada um fazendo a sua parte. Não ficou somente no discurso, partiu direto para a ação. A nova geração “está com tudo”, e deveríamos ficar orgulhosos por não se fazer mais jovens como antigamente.

Cláudia Wernec em “Sociedade Inclusiva: quem cabe no seu todos?” é da mesma opinião de Kanitz, a respeito da participação da nova geração em prol da cidadania. Define como protagonista juvenil o menino ou menina que toma a iniciativa de promover e gestar ações que transcendam a seus interesses pessoais ou familiares, sempre relacionadas à solução de um problema concreto.

Meninos que defendem a ecologia, fazem jornalismo escolar, rádio comunitária, catam lixo na praia ou organizam um mutirão no condomínio a favor da reciclagem de lixo. Percorrem comunidades carentes – ou não – fazendo prevenção de câncer de mama, distribuem camisinha, explicam como fazer sexo seguro, vão a asilos cozinhar nos feriados, percorrem bares de madrugada convencendo outros jovens a não dirigirem alcoolizados.

De etapa em etapa, esses jovens vão percebendo e confirmando que para garantir a sua sobrevivência como adultos precisarão tomar decisões cada vez mais solidárias. Bem melhor – seguramente - do que esperar de braços cruzados o dia em que a sociedade vai achar que aquele jovem cidadão está pronto para participar da vida pública. Exercendo seu lado protagonista o adolescente vai assumindo o compromisso de ser autor de seu futuro. É o parceiro ideal no processo de construção da sociedade inclusiva, pois a palavra-chave para entender o conceito de trabalho voluntário é solidariedade que significa troca e aprendizado conjunto e pressupõe responsabilidade social e cooperação. Pequenas atitudes podem mudar o mundo. Não importa o tamanho desse mundo. Esta é a diferença entre a juventude do ano 2000 e aquela que agitava bandeira nas décadas de 60 e 70. Ninguém é melhor ou pior. São contextos diversos. O momento histórico é outro. O momento sócio-político-cultural é outro.

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