sábado, 13 de outubro de 2007

Emagrecer ou não emagrecer, eis a questão...

Gladis Maia

Não é à toa que a Adélia Prado tenha dito que erótica é a alma. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. [...] a erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. (...) Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo do qual não sai melodia alguma. Rubens Alves, in A Alegria de Ensinar.

Uma recente pesquisa realizada por psicanalistas em dez países revela que somente 2% das mulheres consultadas consideram-se bonitas. O que não é verdade, todos sabemos. Mas o problema reside na imagem mental que a pessoa tem de si, que pode ser a favor ou contra, e, complicados que somos, dificilmente temos uma imagem corporal correspondente à realidade. A pesquisa informa também que as mulheres consultadas ponderam que para ser bonita precisamos, além de ter características ocidentais, ser: branca ou negra, alta, magra e com cabelos lisos. As baixinhas se desesperam! As índias ficam fora, acredito que nem foram pesquisadas! As negras, as mulatas e as pardas alisam os cabelos. As orientais correm para os bisturis dos cirurgiões plásticos na tentativa de arredondar os olhos...
As gordinhas - das menininhas à terceira idade - malham dia e noite, descontrolando o padrão hormonal e endurecendo músculos exageradamente, a tal ponto que necessitam cada vez mais horas de ginástica - se é que dá para chamar aquela tortura, realizada nas academias, de ginástica... ‘Exercícios’ que viciam o organismo e na sua ausência transformam os músculos em pelancas e a euforia em cansaço, stress ou depressão.
Já as falsas-feias e as falsas-gordas se submetem aos regimes doentios, às lipoaspirações que tem levado uma infinidade de mulheres à morte. Enchem os divãs dos psicanalistas e os consultórios dos psicólogos, na esperança de emagrecer. Acabam mesmo é engordando as suas receitas e as das farmácias e viciando-se em inibidores de apetite e antidepressivos desnecessários.
Bulemia e Anorexia Nervosa:
Estes são dois transtornos alimentares graves, que muitas vezes não são levados a sério, nem mesmo por pessoas esclarecidas. Pais e professores devem ficar atentos, pois a incidência parece ter aumentado e seu início geralmente eclode na adolescência. Até porque se a moda dita que ser bonita é ser magérrima, a contemporaneidade favorece a doença alimentar. Uma coisa que espanta é que as mulheres não se dão conta de que a moda é criada por estilistas – cuja maioria não gosta de mulheres, por opção sexual e por conivência das indústrias de roupa, que vendem mais a cada grama aumentada ... Já viram a nova numeração dos manequins da moda jovem? Dificilmente é numerada: 42, 44, 46 ... Somos P, M, G e, às vezes nos oferecem GG, nem sempre! E o tal GG é de morrer de rir, se não causasse problemas emocionais e até do que vestir para a garotada do xis e coca-cola – especialmente entre 12 e 16 anos - com tendência a engordar. Na realidade o tal GG não passa de um P ou no máximo 42. Quem duvida, compare com uma roupa um pouquinho mais antiga no armário de uma parenta mais conservadora...
Voltemos aos transtornos alimentares. A anorexia é uma das poucas doenças psiquiátricas que pode levar à morte. Atinge com maior freqüência as mulheres. É diagnosticada quando - na ausência de qualquer doença física conhecida que explique a perda de peso ou a falha em manter o peso esperado são acentuados - e a pessoa passa a recusar a ingestão de alimentos.Existe uma perturbação significativa na imagem corporal. Os pacientes mesmo magérrimos sentem-se gordos. Alimentos e regimes são preocupações persistentes. A incidência é maior nos grupos sócio-econômicos altos, em mulheres ambiciosas e em profissões tais como manequim e dançarina, nas quais existem vantagens extras para as pessoas com baixo peso. É rara em homens, e os indivíduos acometidos podem mostrar tendências efeminadas.
Ao contrário, dos anoréxicos, os pacientes bulímicos costumam dedicar-se a orgias alimentares. A bulimia nervosa é caracterizada por ingestão descontrolada e compulsiva de grandes quantidades de alimentos num curto período de tempo. O desconforto físico como dor abdominal ou sensações de náuseas,encerra o episódio bulímico, que é seguido por sentimentos de culpa, depressão e auto-aversão. A pessoa usa regularmente laxantes ou diuréticos ou induz o vômito .
Tanto os pacientes com bulimia nervosa como os com anorexia, tendem a ser ambiciosos e respondem às mesmas pressões sociais para a magreza. Freqüentemente a anorexia e a bulimia nervosas coexistem no mesmo paciente. Psicologicamente o bulímico e o anoréxico, têm dificuldades com as demandas da adolescência, mas aqueles são mais extrovertidos , raivosos e impulsivos do que os anoréxicos. Alcoolismo, furtos em lojas, e instabilidade emocional – incluindo tentativas de suicídio – estão associados à bulimia nervosa.
Ambos os transtornos necessitam de tratamento fármaco-médico e psicoterápico, constante, pois há reincidência com freqüência, são males crônicos, por assim dizer. Na anorexia - que parece ser mais grave - geralmente é necessário a internação hospitalar, para restaurar o estado nutricional. Atentem, pois, para a adolescência ao seu redor, todo cuidado é pouco!

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